Os mais indefetíveis defensores da AD, fomentam o estado de graça do governo apreciando e enaltecendo a forma como se tem apresentado e, essencialmente, como os principais atores políticos discursam. Tenho, dentro do meu grupo de amigos mais próximos, pessoas a quem reconheço excecionais capacidades intelectuais que apelidam alguns dos episódios parlamentares protagonizados por Luís Montenegro e Hugo Soares, de brilhantes. Estão indiscutivelmente no seu habitat natural e dentro do estilo, não há quaisquer dúvidas, que cumprem a função. Pessoalmente não gosto do estilo que os parlamentares foram, genericamente, desenvolvendo nos debates. Tornou-se, em minha opinião, excessivamente piadético, engraçadinho, jocoso e largas vezes altamente desrespeitador. No género prefiro, evidentemente, o Ricardo Araújo Pereira.
Esta nota introdutória serve, não tanto para dissertar sobre o modelo de funcionamento do parlamento – matéria híper relevante para o desenvolvimento democrático e inovação do país, mas acima de tudo comentar a ausência de solidariedade e respeito no campo político da AD. Se o Governo começou bem para uns, também é notório que, para muitos outros, esse começo está marcado por um conjunto de fragilidades. A pressa em mudar o logótipo, o exagero no queixume, o excesso de altivez e informalidade, e por fim o tema mal explicado e mal conduzido do anúncio dos 1500 milhões de redução de carga fiscal no IRS. Além disso a AD tem a breve trecho as eleições europeias para disputar e, um mau resultado colocará pressão na estabilidade e sustentabilidade governativa.
Dir-se-ia que é nestas fases que os amigos políticos devem estar presentes e acima de tudo devem contribuir positivamente para o difícil caminho que o Governo tem pela frente. É neste contexto que fiquei absolutamente chocado com as recentes declarações de Pedro Passos Coelho a propósito do governo, do primeiro ministro e das alianças políticas. A forma e o conteúdo são, na minha apreciação, próprias de alguém que se apresenta com ‘síndroma do pai tóxico’ e cujos sintomas passam por comparar, culpar, controlar, desrespeitar, cobrar e até humilhar.
Pedro Passos Coelho é evidentemente o pai político de Luís Montenegro e deveria, só por isso, ser um garante de apoio, orientação e abrigo de confiança. Ao invés, sem acrescentar nada, mostrou estar mal resolvido com a posição que hoje ocupa dando-se o direito de maldizer quem lhe apetece; só porque sim. O que fez a Paulo Portas, com as declarações que fez, é bem demonstrativo de uma atitude desrespeitosa e cobarde que não tem lugar na democracia feita por gente de bem. Talvez esteja aí, neste modelo comportamental, a melhor das explicações para a cada vez mais evidente aproximação de Passos Coelho ao outro filho político; a André Ventura. O comportamento de ambos se tornou evidentemente mais semelhante.
Diria que até os mais saudosos de Passos Coelho para que, nem D. Sebastião, regressasse à liderança do PSD, ou ainda os mais exaltados defensores de uma candidatura à Presidência da República, ficaram agora conscientes de quão débil é a sua pose paternalista maldizente. Enquanto primeiro-ministro foi, em minha opinião, absolutamente desastroso para a sociedade e para a economia (escrevi-o, na altura, diversas vezes). Os portugueses perceberam isso.
As recentes atitudes relembram e mostram de forma clara quem é o ex-primeiro ministro, que não respeita nada nem ninguém, alguém que ‘bate’ nos filhos políticos e alguém que se vê como nunca foi, nem será. Hoje mais claro que nunca percebemos de onde vieram as políticas de insensibilidade aos mais desfavorecidos, de insensibilidade aos mais velhos e de incentivo ao êxodo dos mais jovens. A cega obediência à troika e a forma desumana como atuou mostra que foi fraco com os fortes e forte com os fracos. Tem tudo o que Portugal não precisa.