No domínio da criatividade humana, a arte e a ciência, duas disciplinas tradicionalmente distintas e opostas, cruzam-se frequentemente. No entanto, a relação entre esses campos é muito mais complexa e simbiótica do que parece, pois na sua convergência reside uma área de inovação, exploração e expressão que molda a nossa compreensão do mundo e expande os limites do conhecimento humano.
Enquanto a arte enfatiza a criatividade, subjetividade e emoção, a ciência prioriza a lógica, objetividade e evidência empírica. No entanto, ambas as disciplinas partilham qualidades fundamentais que transcendem a sua aparente divisão.
Cascais tem a dimensão de uma pequena vila. Contudo, acreditamos que em todos os tempos, especialmente nestes tempos mais confusos, é no reforço da nossa identidade que fortalecemos a afirmação contemporânea do concelho. Valorizamos a existência de um setor cultural inovador, abrangente e vibrante.
Há apenas duas formas de apoiar a Cultura: com palavras ou com ação política. Optámos pela segunda. E recuperámos e adaptámos a Casa Reynaldo dos Santos e Irene Quilhó dos Santos ao projeto ‘Pela Arte e pela Ciência’: Centro Maria de Sousa. Um sinal claro do nosso compromisso com a preservação do património, a proteção dos valores fundadores da nossa identidade e a promoção do talento e da criatividade.
Convido o leitor a uma vista a um espaço onde pode contemplar os espólios de Reynaldo dos Santos, Maria de Sousa, Irene Quilhó dos Santos e Luís Alberto Quilhó Jacobetty, refletindo contribuições em áreas tão diversas como investigação em saúde, pós-graduação, história de arte, ourivesaria, gravura e teatro.
Unimos a cultura e o património à ciência e à arte. Requalificámos e reabilitámos o património, acrescentando valor. É isso que esperamos continuar a fazer noutras zonas do território, democratizando a cultura. Uma cultura feita para as pessoas, com as pessoas e pelas pessoas, que não está sujeita às vontades e ciclos momentâneos da política, que é criteriosa e autónoma.
Esta é uma obra que muito deve a Maria de Sousa, professora universitária e uma das figuras centrais do nosso universo científico contemporâneo, que cedeu o seu valioso espólio à Casa que teria a sua curadoria. Maria de Sousa não resistiu ao maldito coronavírus, mas deixou-nos um legado: uma nova geração de políticas culturais sustentáveis, descomplexadas, realistas sem perderem a noção de idealismo. Maria de Sousa queria despertar o interesse das pessoas comuns, levando-as a participar em iniciativas compatíveis com a natureza das peças de cada um dos espólios. Era sua responsabilidade afirmar este valioso equipamento, honrando a memória dos doadores que já não estão fisicamente presentes. O seu espólio representa uma herança que reforça a nossa identidade, uma herança que temos o dever moral de preservar.
Entendemos o Património como peça-chave na nossa afirmação nacional e internacional. Com a Casa Reynaldo dos Santos, uma habitação da década de 30 do séc. XX e com características de Art-Déco, acrescentámos valor com base no património. Um conhecimento e experiência que temos o privilégio de partilhar com todos. Trabalhamos numa cultura verdadeiramente democrática, que não vive dentro da bolha da academia ou dos especialistas. Em sentido inverso, ganhámos uma oferta mais vasta e variada em tempos de constrangimentos na cultura.