A inveja dos portugueses é diferente da dos outros – não sofremos com o que não temos, mas com o que os outros têm. Porque lhes invejamos a fama, diminuímos-lhes o talento – e quando não o conseguimos, arremessamos ódio a ferver. Em Portugal, se uma cabeça se ergue acima, todos tentam decepá-la – os filósofos já nos tinham avisado que a árvore mais alta é a que mais se castiga com o vento, mas também a que mais se agita.
O número dos que nos invejam confirmam as nossas capacidades. Sim, o invejoso nunca perdoa o mérito do outro, mais ainda se esse alguém é jovem e saiu de entre eles. João Lobo Antunes, em entrevista ao Expresso, dizia que a inveja «é um sentimento que se autocastiga» e que os invejosos devem sofrer tanto e passar tão mal que nem vale a pena preocuparmo-nos com eles.
Mas José Gil considerava que a inveja dos portugueses não é um sentimento, antes um sistema. Porque nos falta intensidade de vida e de pensamento; porque nos nivelamos pela mediania e na gabarolice; porque a inteligência e o talento dos outros fazem-nos sentir mal; porque medramos no miserabilismo e nos reconhecemos na desgraça. Ver os outros fortes, diminui-nos.
Há muito que deixámos de sonhar. Vivemos uma democracia sem substância e mergulhados numa servidão voluntária; não lutamos contra a diminuição ontológica de ser português e tememos a transgressão ideológica que faz evoluir os povos. Em Portugal pouco acontece e quando alguém especial aparece, logo queremos que ele tropece – mais ainda quando se é jovem e talentoso.
Sebastião Bugalho tem sido uma pedrada no charco no comentariado político repleto de tudologistas e vulgarólogos. Ele tem carisma, inteligência e muita energia. Bugalho é um enorme talento e, porque é jovem, está convencido de que o tem. Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética – mesmo que seja um agitador conservador sem experiência política. Em poucos anos, Sebastião Bugalho vai tornar-se um dos quadros mais importantes na Europa.
Porque a Europa precisa de jovens, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos escolheram-nos para as suas listas. Mas, se os comendadores se esbugalharam-se com o Sebastião da direita por não ter outras atividades conhecidas, as redes sociais iraram-se com a Inês da esquerda que se não fosse a política não saberia como ganhar a vida. À jovem socialista desejaram-lhe que não consiga ser eleita «porque fazes aqui falta a parasitar o sistema». Atrás do teclado ou para lá do ecrã, os alhos-chochos continuam a exalar o seu mau hálito.
Os jovens não precisam de razões, antes de pretextos. Esta semana ouvi as críticas de outros ‘bugalhos’ na Assembleia dos Jovens munícipes de Cabeceiras de Basto, um concelho do Minho onde o desemprego jovem é superior a 20%. Eles querem outros caminhos para mais acesso à Cultura, à Habitação e a empregos qualificados. Têm ideias e expuseram-nas com frontalidade aos mais velhos. Vi o brilho nos olhos dos professores que os acompanhavam.
Devíamos lembrar-nos que já não somos suficientemente jovens para sabermos tudo.