Ponto prévio: sou amigo do Sebastião Bugalho, mas não é por essa razão que escrevo esta crónica. Escrevo porque me irrita perceber que vivemos num país em que há duas profissões que estão vedadas à política: militares e jornalistas. Juízes, advogados, trolhas, caceteiros, médicos, todos podem entrar na vida política. Independentemente desse facto, o caso de Sebastião Bugalho está longe de ser virgem. Vasco Pulido Valente não foi deputado? Vicente Jorge Silva não foi eleito como independente? E Maria Elisa? E o que dizer de Paulo Portas que ainda era jornalista e já tinha o corpo todo na política? E que quando saiu a primeira vez voltou ao jornalismo, para regressar de novo à política? E Manuela Moura Guedes? E um dos atuais comentadores da SIC Notícias não fundou um partido e regressou ao jornalismo pela mesma porta que tinha saído? Mas por ser de esquerda já é possível?
Não sei se Sebastião Bugalho se vai transformar num grande político, mas convicção não lhe falta. É determinado e obsessivo. Tem uma autoestima superior à de Jorge Jesus, como já escrevi em tempos, e uma cultura muito acima da média. Não creio que não vá conhecer os dossiês todos de uma ponta à outra. Não tem experiência, é certo, mas quem tinha quando foi pela primeira vez para o Parlamento Europeu?
Conheci-o quando me ligou há já quase dez anos, a perguntar se aceitava publicar um texto de opinião. Depois de me ter enviado o artigo, disse-lhe que o mesmo já teria sido escrito há alguns dias, e que queria testá-lo no momento. Passado uma hora, mais coisa, menos coisa, enviou-me um novo. Gostei e disse-lhe que o ia publicar. E só neste momento é que me disse que era filho de Patrícia Reis, que tinha sido minha colega no Expresso. Depois mandou muitos mais e um dia a mãe telefonou-me a perguntar se eu não o queria convidar para fazer um estágio «até para ele perder a ilusão do jornalismo». No primeiro domingo que trabalhou comigo, fez três planos, um de desporto, salvo erro sobre a NBA, outro de política internacional e outro de sociedade. Percebia-se perfeitamente que o Sebastião, apesar dos seus 18/19 anos, tinha um talento muito considerável. Para mim era impressionante como é que nos encontros noturnos o Sebastião pelava-se para encontrar alguém para falar de política. Depois foi o que se sabe. Nunca escondeu a sua veia de direita e conservadora, além dos seus desejos políticos. Acusá-lo de ter estado estes últimos anos a namorar o PSD parece-me uma verdadeira tontice. Ao contrário de outros – alguns são mais socialistas do que Pedro Nuno Santos –, sempre assumiu as suas preferências políticas. Espero, como amigo, que as coisas lhe corram bem.
Algo que acredito que não será fácil, pois tudo indica que a AD vai sofrer na pele com o crescimento da IL e do Chega. Ou alguém acha que estes dois partidos não irão eleger nenhum deputado? Se não forem buscar votos aos ‘antigos’ abstencionistas vão fazê-lo preferencialmente à AD.
Já o PS tem tudo para crescer, pois também não creio que o PCP e o BE não percam um dos dois deputados europeus conquistados na eleição em que o PSD foi o mais castigado. Por fim, penso que para o Sebastião Bugalho e para a AD teria sido preferível Rui Moreira ir em primeiro lugar e Sebastião em segundo. Montenegro escolheu outro caminho e a 9 de junho se verá se tinha ou não razão.
P. S. – Ao ver a entrevista que deu à SIC_Notícias percebi como se está a preparar para não responder ‘à bruta’, como o fez recentemente num debate com um comentador afeto ao PS. Sebastião vai precisar de sangue de cobra para aguentar as provocações, mas quem andou à chuva, agora pode molhar-se.