Até o leão do Marquês já sorri de satisfação!

Sporting pode ser campeão já este fim de semana: um dos títulos mais categóricos da História.

O Sporting pode garantir o título de campeão já neste fim de semana e, há que dizê-lo, com uma justiça absolutamente intocável e de uma forma categórica como não muitas na sua história recente. Seria de uma estultícia absurda pôr em causa a realidade dos factos: um futebol de incomparável qualidade em relação à doentia mediocridade dos seus adversários que, na verdade, nunca o foram; uma conceção de equipa dentro de um sistema tático – o sistema de Rúben Amorim – que está tão profundamente implantado neste momento que qualquer alteração (veja-se a primeira parte nas Antas) só pode desestabilizá-lo; qualidade dos jogadores assente numa agressividade e num espírito competitivo que nunca quebrou; um avançado-centro de qualidade superlativa, o inimitável Gyökeres, que foi a grande figura do campeonato e provou à saciedade que é preciso ter arte de olheiro para não apostar sempre no óbvio e, em comparação com outros, abandonar a política de ‘recuperar velhos’ (no qual os leões caíram, aliás, em épocas recentes) algo que deixou de ter lugar no futebol moderno; a capacidade inegável de não se deixar tombar nas habituais guerras de alecrim e manjerona que podem continuar (até quando, Catilina, até quando?) a encher páginas de jornais e fomentar debates bacocos na televisão mas só desviam os olhares do essencial. Nunca fui bom a aritmética e, vendo bem, também nunca quis. A vida não é dois mais dois e só os medíocres teimam em vê-la dessa forma. Por isso, e estando-me nas tintas para a aritmética, o Sporting pode ser campeão ‘de facto’ este fim de semana ou no seguinte mas para mim foi campeão durante quase todo o campeonato, ou pelo menos a partir da fase em que ele entrou na sua decisão. Tomou a dianteira de uma forma categorizada, manteve um notável registo de vitórias, muitas delas sublinhadas com goleadas vibrantes. A equipa de Rúben Amorim, neste momento treinador de corpo inteiro (dois títulos de campeão não deixam margem para dúvidas), embora ainda em fase de crescimento – necessita, a meu ver, de um toque mais malandro na tal organização tática, que lhe permita mudar em alturas em que é mesmo necessário fazê-lo, e não escorregar em cascas de banana de viagens sem sentido, sejam a Londres ou lá onde forem, porque não precisa disso para ter o futuro aberto às escâncaras na sua frente, tal como já tem o presente.

Elogio da competência!

Deixo, por isso, os apartes menorizantes para outra altura se é que vale, sequer, a pena voltar a eles. É tempo de elogios e, aconteça o que acontecer amanhã à tarde em Alvalade (18h) frente ao Portimonense, elogie-se a competência de um treinador e de uma equipa que se manteve firme durante todas as borrascas do campeonato e não adornou ridiculamente como os seus adversários que, insisto, nem o chegaram a ser. Claro que do outro lado do espelho da competência sportinguista tem de se colocar a incompetência de Benfica e FC Porto, sobretudo do primeiro já que com um grupo de jogadores da categoria que tinha (o FC Porto foi, como diz o povo, fazendo pela vida, ainda que pouco) desperdiçou pontos de forma grotesca e ainda caiu na esparrela de ser ver humilhado na deslocação ao Porto sofrendo uma goleada indigna de quem ainda tinha na camisola o escudo de campeão, demonstrando uma vertente de amadorismo que já ninguém compreende nos tempos que correm.

Quererão os sportinguistas que lhes faça bom proveito (aos encarnados, claro!) tanta farronca e tanta ingenuidade confundidas, e fazem eles muito bem. Este é um tempo de festa, festa verde numa altura que o país viveu também a festa vermelha dos cinquenta anos dos cravos. Dizem os adversários na pilhéria, que aqui não se reveste de maldade, porque está nas raízes históricas do clube de Alvalade, que o Sporting é um clube de Viscondes. Pois será também um clube de Marqueses quando, lá no alto da estátua, se percebe que até o leão de Sebastião José de Carvalho e Melo já sorri de satisfação a prever a noite rija que durará pela madrugada. Também nisso souberam os adeptos do Sporting mostrar, em relação aos de Benfica e FC Porto, uma dignidade que deveria envergonhar muitos destes últimos. E, nesse aspeto, a forma como a direção atual do clube se tem mantido à distância de claques que continuam a ser um dos grandes cancros do futebol em Portugal, deveria servir de exemplo, ainda por cima quando assistimos, de repente, àquilo que entrava pelos olhos dentro: que no momento em que a Justiça, a Justiça autêntica e não a Justiça a Oeste de Pecos que prolifera no nosso mundinho ordinário do ‘pontapé na chincha’, resolver investigar a sério aquilo que se esconde no seu seio como ovos de serpente, os calabouços passam a ser o local indicado para selvagens e criminosos como os seus líderes.

Campeão e campeão em toda a linha, portanto. Campeoníssimo Sporting!, às malvas com a aritmética. Campeão Rúben Amorim, que além disso dá lições de civilidade a muita gente, o que não me admira pelas vezes que, ainda como jogador, tive a oportunidade de lidar com ele. Campeã a equipa que construiu, misto de talento e de trabalho árduo. Digam os outros o que disserem, eu saúdo: «Muito bonito, rapazes!».