Se observado de longe, dir-se-ia que em Portugal há pouco para fazer e que os políticos da linha da frente se entretêm a comentar pequenos acontecimentos ou a pessoalizar comentários de intriga.
No país da intriga, o Presidente da República comenta de forma absolutamente desadequada a qualidade do atual e do ex-primeiro-ministro. Fê-lo denegrindo e estigmatizando cada um dos dois. Não acrescentou nada e colocou-se numa posição seriamente desconfortável. No país que preconizo o Presidente da República deveria contribuir para a mudança qualitativa do sistema político e desse modo garantir uma qualidade superior dos dirigentes e dos governantes. Esse é o caminho que falta fazer para se fazer bem feito.
Para isso são necessárias interveniências pensadas, debatidas e inteligentes. A maledicência não acrescenta e atrasa a regeneração do sistema político. Tem estado mal o comentador Presidente da República. Nunca nele votei por me parecer que não tinha as características necessárias para contribuir para a mudança qualitativa que o país necessita. Estimulei e apoiei a candidatura de Henrique Neto por considerar que tinha a competência e a energia necessárias para contribuir para a mudança adiada. No país da análise superficial, Henrique Neto foi eleitoralmente ignorado. No país da análise superficial ganham a análise e o comentário superficial.
O anúncio do cabeça-de-lista da AD para as europeias tem suscitado um conjunto de observações que me parecem totalmente desprovidas de legitimidade. Numa sociedade democrática e livre a competência e o mérito não têm idade. Nunca se é nem novo nem velho de mais para fazer bem feito. E o que falta é fazer bem feito! Tenho, contudo, uma reserva de base ética que me incomoda quanto a essa escolha. Aquele que apareceu durante meses a fazer comentário político, supostamente independente, afinal não era assim tão independente. Num país onde os comentadores têm mais tempo de antena que os protagonistas principais, considero, a bem da transparência e do esclarecimento dos portugueses, que os comentadores políticos estejam obrigados a declarar as suas ligações partidárias. Desse modo a interpretação das respetivas posições fica muito mais clara. Também em matéria de candidatos ao Parlamento Europeu, considero que em geral falta exigência e currículo. Nas eleições ao Parlamento Europeu de 2009 e enquanto presidente do partido político MMS, promovi a candidatura de Carlos Gomes, na altura presidente do grupo Fiat para Portugal, Espanha e França. Um dos portugueses com maior conhecimento, maiores provas e melhores resultados dados a nível internacional e europeu. Quem melhor que os melhores pode representar Portugal no Parlamento Europeu? Carlos Gomes foi eleitoralmente ignorado e a sua vida seguiu, tornando-se, a nível mundial, ainda mais bem-sucedido do que era em 2009. O país político que preconizo é muito diferente daquele por cá vigora…
Por sua vez, o presidente da Câmara de Lisboa entendendo bem a importância eleitoral do mediatismo superficial, faz uma festa com anúncio de pompa e circunstância e carrega as redes sociais de autoelogios cada vez que tapa um buraco numa cidade cada vez mais suja, cada vez mais caótica, cada vez mais desorganizada, cada vez mais cheia de sem abrigos. A embalagem bonitinha sem conteúdo caracteriza, em minha opinião, a forma como Lisboa tem sido gerida por Carlos Moedas.
Por fim e para reforçar o desnorte em que o país se encontra, aquele que considero ser o tema central da democracia – o funcionamento da justiça, tem vindo também a construir um edificado que assusta e mete medo. A prepotência ditatorial e o modo disfuncional como se impõem mostra-nos o quão desprovida de clareza, competência e de essência de justiça se encontra. As recentes declarações da provedora de Justiça vêm reforçar essa evidência. São necessárias propostas concretas de alteração do sistema para se concretizar a democracia, o mérito e a transparecia na justiça – o mais importante pilar da democracia.
Esperemos sentados porque, incrivelmente, neste desnorte de rei sem roque, escava-se cada vez mais fundo.