À medida que revisitamos as memórias que antecedem o 25 de Abril, recordamos não apenas os eventos históricos que marcaram a nossa nação, mas também os valores fundamentais que emergiram dessa transformação. O espírito de liberdade e solidariedade ressoa até os dias de hoje, especialmente quando consideramos a relação entre liderança e a trajetória dos trabalhadores.
Vivia-se, naqueles dias de 74, um espírito de companheirismo, amizade e ajuda mútua, como nunca visto. Para mim, um jovem que até então só tinha conhecido o sabor de um regime autocrático, celebrar os direitos e liberdades dos trabalhadores, numa freguesia de gente trabalhadora, pela primeira vez, foi uma experiência transformadora. O 1.º de Maio passou a ter um enorme significado tanto na minha experiência nas empresas em várias geografias da lusofonia, como enquanto líder de uma instituição pública.
Esta semana, o mundo uniu-se para assinalar o ‘May Day’. Mais do que uma celebração, é uma oportunidade para reconhecer a importância dos trabalhadores na sociedade e de avaliar criticamente o papel dos líderes. Da política à esfera empresarial, estes devem demonstrar habilidades de gestão e um compromisso genuíno com os valores de justiça, equidade e respeito pelos direitos humanos.
Como líder autárquico, tenho testemunhado o poder transformador da liderança. Tem sido um privilégio conhecer líderes extraordinários nas nossas associações, IPSS, clubes, escolas e nos bairros. Tenho aprendido com magníficos exemplos de liderança, empatia e humanidade da sociedade civil de Cascais.
Cada exemplo eficaz reforça a ideia de que a verdadeira liderança transcende largamente o mero exercício de autoridade. Baseia-se na capacidade de inspirar, motivar e mobilizar os outros na busca de objetivos comuns. Os líderes devem ser capazes de articular uma visão clara do futuro e de guiar as suas comunidades na direção certa.
A liderança não é apenas sobre inspirar os outros. É também feita de empatia, compreensão e compromisso com o bem-estar daqueles que lideramos. Relembro muitas vezes Disraeli e a frase ‘Devo seguir as pessoas. Eu não sou o seu líder?’, porque aqui encontro reforço à ideia de que os líderes devem estar enraizados nas necessidades e aspirações daqueles que lideram.
O Dia do Trabalhador convida a refletir sobre as conquistas dos trabalhadores, sobre os direitos ainda por cumprir e sobre os abusos que todos temos o dever moral de combater. Isso implica, também, lançar um olhar critico sobre as lideranças, e o seu papel nesse desígnio de uma sociedade mais justa e com oportunidades de realização para todos. Que esta data nos inspire a fortalecer o nosso compromisso com os valores da solidariedade, justiça e respeito pelos direitos humanos, e nos motive a trabalhar para construir um mundo onde todos os trabalhadores sejam valorizados, respeitados e tratados com dignidade.
Falando sobre liderança inspiradora, não poderia deixar de mencionar o Papa Francisco, cuja liderança, não apenas dentro da Igreja Católica, mas também em todo o mundo, se tem destacado por uma abordagem assente na simplicidade, compaixão e humildade.
Reconhecido como um incansável defensor dos direitos dos mais frágeis, foi a sua Igreja que denunciou a tirania do capitalismo – a ‘economia que mata’ – da mesma forma que a Igreja de João Paulo II denunciou o comunismo.
Curiosamente, polos ideológicos opostos que, cada um à sua maneira, renegam os direitos e a individualidade dos trabalhadores.
Que possamos seguir os exemplos inspiradores de liderança como o Papa Francisco e trabalhar juntos para construir um mundo onde cada trabalhador seja verdadeiramente valorizado e respeitado. Que cada um de nós seja sempre líder. Na nossa comunidade, na nossa rua, no nosso bairro, cidade ou até país. Pela mudança positiva e duradoura.