Sporting. O título fica-lhe bem

O Sporting é um campeão refinado. Foi de cadeirão que viu o Benfica perder em Famalicão, e só depois se engalanou para ir à festa do título, conquistado com grande mérito.

O universo leonino começou a festejar ainda antes de terminar o jogo em Famalicão, onde o Benfica foi passear as camisolas e saiu com uma derrota humilhante. Faltou brio e qualidade à equipa de Roger Schmidt na altura de entregar o título ao rival, o que só veio confirmar que o Sporting não teve adversários à altura esta época. Era uma questão de tempo até os adeptos rumarem ao Marquês de Pombal e cantarem, em conjunto, com a equipa, “O mundo sabe que”. Foi o segundo título de campeão nacional em quatro anos e o segundo de Rúben Amorim. Desde 1966 que um treinador não bisava pelo Sporting e, num registo pessoal, igualou os mestres Cândido de Oliveira e Otto Glória.

Não há margem para dúvidas, o Sporting fez das melhores campanhas de sempre. Foi mais competente, jogou melhor e justificou a conquista do 20.º título nacional. A equipa leonina lidera o campeonato desde a 13.ª jornada, tem mais vitórias (27) e menos derrotas (3), esteve 19 jogos sem perder, conseguiu oito vitórias consecutivas por duas vezes, ganhou todos os jogos em casa (16), em 44% dos jogos não sofreu qualquer golo, marcou em todas as partidas e é, de longe, a mais concretizadora (92 golos). Perante esta folha de serviço, podemos dizer que a época foi pintada de verde e branco. Ganhar assim sabe tão bem! Em termos desportivos, salta à vista a qualidade exibicional de uma equipa que foi superior aos rivais nos confrontos diretos (só perdeu na Luz e em Guimarães), e demolidora nos jogos contra as equipas mais pequenas, essa consistência foi fundamental na caminhada para o topo.

Campeão com mérito Se recuarmos à pré-época, era evidente que o Sporting fez tudo bem feito, mas foram poucos os que deram conta do trabalho realizado por Rúben Amorim e Hugo Viana na preparação da temporada 2023/24. Nessa altura, as atenções mediáticas iam para o Benfica que, engalanado com as faixas de campeão, não olhou a meios e gastou mais de 105 milhões de euros em contratações, com os resultados que se conhecem. Longe dos holofotes, a estrutura do Sporting preparou a época com critério, foi competente nas contratações e dispensas, o treinador voltou a ser um excelente comunicador e criou um forte espírito de equipa e o clube viveu em clima de harmonia a época inteira. Por tudo isso, o 20.º título fica-lhe bem!

Depois de um frustrante quarto lugar, Rúben Amorim não alterou muito a estrutura da equipa para 2023/24; contratou jogadores de qualidade e perdeu apenas um jogador nuclear. A contratação do avançado Gyökeres foi a mais cara da história do clube (20+4 milhões de euros), mas com o sueco em campo o Sporting foi sempre muito melhor. Depois, chegou o dinamarquês Hjulmand, que fez esquecer Ugarte que rendeu 60 milhões de euros. As saídas de Bellerín, Arthur Gomes, Fatawu, Jovane Cabral e Rochinha não tiveram qualquer influência no rendimento da equipa e abriram espaço para o lançamento de jovens da academia.

A equipa mostrou sempre grande identidade e qualidade, isso deve-se a uma ideia de jogo positiva, com boas dinâmicas defensivas e ofensivas, e foram raros os momentos em que a perdeu organização. A evolução foi de tal forma significativa que o Sporting tem, à 32.ª jornada, mais 10 pontos do que no final da época passada, à 34.ª jornada, e pode bater o seu próprio recorde de pontos se vencer os dois jogos que faltam. A conquista do título começou em julho com a contratação de Viktor Gyokeres, prosseguiu com a recuperação de jogadores como Paulinho, e terminou em abril com a vitória sobre o Benfica, em Alvalade, que abriu as portas do título. Até à 32.ª jornada, Gyokeres é o jogador do plantel com mais minutos (2.986), é o melhor marcador da liga, com 27 golos em 31 jogos, e o segundo melhor em assistências para golo: 11 em 31 jogos, o que mostra bem a influência que o sueco teve no futebol leonino.

No meio da festa, Rúben Amorim, que é muito hábil com as palavras, sossegou os adeptos ao dizer: “Tenho contrato e sou treinador do Sporting”. Falou em novas conquistas, dizendo “agora é tentar o terceiro título”, e mandou um recado aos críticos: “Disseram que só ganhávamos campeonatos de 18 em 18 anos e que jamais seremos bicampeões outra vez, vamos ver!”. O treinador estava naturalmente eufórico e reconheceu que este título foi diferente do conquistado em 2020/21 “o primeiro campeonato foi muito atípico, sem público devido à Covid- 19, desta vez teve tudo isso”, e falou do momento-chave do campeonato “o dérbi de Alvalade. Depois fomos muito consistentes”.

Nas próximas duas jornadas (Estoril e Chaves), o Sporting vai “atrás de tudo”, como disse o seu treinador, e quer chegar aos 100 golos, aos 90 pontos e dar a Gyökeres a Bota de Ouro, distinção para o melhor marcador da liga. A conquista do título garante a entrada direta na nova Liga dos Campeões e um prémio de participação de 18,6 milhões de euros, a esse valor acresce o value pillar, que combina o valor de mercado com o coeficiente do clube na UEFA, que ainda não é conhecido.