Estou publicado em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Argentina e Brasil. Nos últimos dez anos, venci onze prémios internacionais de literatura. Nove nos Estados Unidos, um em Itália e outro no Brasil. Alguns destes prémios, como o Indie Reader Awards que venci com o romance A Segunda Vinda de Cristo à Terra, já tiveram o patrocínio da Amazon. Outros, como o IndieFab Award que venci há duas semanas com Perestroika, são referenciados pela apresentadora Oprah Winfrey e nos principais jornais americanos. A tradução inglesa do romance A Tragédia de Fidel Castro foi considerada a terceira melhor publicada nos Estados Unidos, atrás de Dom Quixote de Cervantes, pela revista Indie Foreword.
No entanto, até há pouco tempo ninguém conhecia o meu trabalho como escritor em Portugal, e até na minha própria cidade. Os principais jornais portugueses e, sobretudo, a agência Lusa não quiseram divulgar os prémios que recebi, as traduções e as participações em eventos internacionais. Enviei-lhes dezenas de emails com informação detalhada e fotografias que acabaram sempre no lixo.
A Lusa divulgou um único prémio que recebi – o Historical Fiction Company Book of the Year –, mas, desde que a jornalista que o fez mudou de secção, ignorou os quatro últimos prémios. Esses prémios que Perestroika recebeu não foram noticiados nem enviados para a comunicação social. O jornal Público dirigido por Bárbara Reis não publicou uma peça sobre o meu trabalho feita por um jornalista que me entrevistou pelo telefone. A revista Estante da FNAC não publicou uma entrevista escrita que me tinham enviado.
Contudo, ainda que tudo isto pareça uma forma de censura, não o é. São opções editoriais legítimas e, como se verá, lógicas. Parece haver uma semelhança com os coronéis do lápis azul que filtravam notícias incómodas, mas isso também se explica. Os coronéis acreditavam na ditadura, os jornalistas que me filtram acreditam na liberdade.
Além disso, nos manuais de Deontologia do Jornalismo está escrito que a notícia de vitória internacional de um português num campeonato de pizzas, de salto à corda ou de berlindes é mais importante do que a vitória num prémio de literatura. Sobretudo se se tratar de um escritor que satiriza o Comunismo e o Socialismo. Um fascista, portanto.
Por isso, sinto-me muito honrado por ter vindo a beneficiar de opções editoriais que parecem censura mas não são, destinadas a proteger os leitores de notícias que poderiam causar alarme social. Liberdade de expressão, sim senhor, Pluralismo, muito bem, mas, atenção, só para quem pensar como nós. Porque apenas nós, tal como os coronéis do lápis azul, sabemos o que é bom e o que é mau para os leitores.