É certo que o cuidado com a saúde deveria ser um trabalho contínuo, mas, sejamos sinceros: com a correria do dia-a-dia de trabalho – às vezes mais do que um –, por vezes os filhos ou outros afazeres do quotidiano, pensar em exercício ou em comer melhor está no fim da lista ‘to do’.
Mas também é certo que essa prioridade, para muitos, passa quase para o início da lista agora que se aproxima o verão e a correria aos ginásios é certa e recorrente. E não só. É também comum vermos cada vez mais pessoas a treinar ao ar livre e a juntar o útil ao agradável: o ar livre, o bom tempo e uns quilinhos a menos ou, pelo menos, mais saúde.
No caso dos ginásios é certo que, nestas alturas, chegam mais pessoas, mais inscrições. O i sabe que esta é uma tendência que acontece um pouco por todo o país mas muitas dessas pessoas não levam o ‘desafio’ até ao fim. É preciso lembrar que não há milagres e o corpo desejado exige dedicação.
Maria João Peralta, club manager do Health Club Taguspark, diz ao i que há sempre um acréscimo a partir de março, às vezes a partir de fevereiro. “Mas a partir de março há um acréscimo grande, na ordem dos 20%”, detalha, acrescentando que até “já foi mais”. E muitas dessas pessoas, depois, “desaparecem”. “Mas as pessoas agora já têm consciência que não há milagres, alterações corporais de um dia para o outro, é impossível”, conta Maria João Peralta. E acrescenta: “O que acontece é que as pessoas nesta altura procuram os ginásios porque ainda há muita gente a pensar que vai conseguir perder peso rápido. E até perdem, mas o que perdem muitas vezes nem é benéfico porque quando perdemos peso muito rapidamente e perdemos também massa muscular e depois acaba por acontecer aquele peso yo yo que tanto se fala”. As consequências são muitas: “A certa altura o organismo já nem consegue perder nada porque o nosso organismo é muito inteligente. O facto de começarem a fazer exercício dá capacidade para melhorar a alimentação e nem sempre a perda de peso é saudável”.
A responsável é da opinião de que o exercício físico “é uma coisa necessária à saúde”. E atira: “Acho que devia ser proibido as pessoas a partir de determinada idade serem sedentárias”.
Mas Mauro Frota, CEO e co-founder da BHOUT, tem outra opinião. Ao i, diz não notar “uma corrida aos clubes à medida que o verão se aproxima, pois a nossa proposta de valor vai para além do habitual no mundo do fitness”, uma vez que conseguem “criar um engagement consistentemente […] sem sentirmos oscilações sazonais, mas sim um padrão consistente até em meses tradicionalmente “maus”, como julho, agosto e dezembro”.
Até porque o objetivo da BHOUT é que “as pessoas queiram praticar atividade física como uma atividade de que gostam em vez de focar apenas em objetivos estéticos a curto prazo, sendo uma abordagem mais sustentável”. E Mauro Frota defende que “as pessoas devem exercitar-se durante todo o ano, não apenas para alcançar um “corpo de verão”, mas para manter uma vida ativa e equilibrada, que sabemos ter muitos benefícios para a saúde”.
Questionado sobre se as pessoas esperam milagres em três meses, o responsável diz o espaço que fundou não promove essa ideia. “Acreditamos que a consistência e o compromisso a longo prazo são fundamentais para alcançar resultados sustentáveis em termos de condição física e saúde”, diz, destacando que, após a pandemia, “as pessoas procuraram experiências que lhes dessem prazer, mais do que “sofrer” dois ou três meses num ginásio normal para tentar ter o tão sonhado “corpo de verão”. O “corpo de Verão” torna-se uma consequência, e não um objetivo”.
Ar livre é a opção de muitos
Como em tudo na vida, os gostos não são iguais para todos e o que funciona para um pode não funcionar para o outro. E, um pouco por todo o país, há milhares de locais onde todos podem fazer desporto. Além dos parques de exercícios instalados por centenas de câmaras e juntas de freguesia, há vários parques ao ar livre para correr e também as ecopistas. Tudo para todos os gostos.
Rita Silva deixou o ginásio há anos. “Foi mesmo uma questão de preferência e tempo”, começa por explicar. É que o trabalho, longe de casa, ocupava-lhe várias horas do dia e o ginásio – que até gostava – nem sempre tinha as aulas que queria fazer nos horários em que podia. Por curiosidade, começou a pesquisar exercícios ao ar livre na internet e a praticá-los. “Ao início foi estranho. Para já, por estar a treinar totalmente sozinha, depois por achar que estava a fazer tudo mal”. Mas com o tempo adaptou-se e hoje não pensa voltar ao ginásio tão cedo. “É a minha liberdade. E faço os horários que quero, os treinos que quero e, sejamos sinceros, a minha carteira também agradece”, conta ao i. Mas chama a atenção para um detalhe: “Os ginásios são profissionais e as pessoas que lá trabalham fazem o melhor que sabem. No meu caso, nunca foi para perder muito peso mas sim para me sentir bem com o meu corpo. O exercício ao ar livre funciona comigo, mas pode não funcionar com outros. Este é o meu testemunho que serve para mim mas pode não funcionar para todos”, alerta.
Já Paulo Cabral tem outra experiência. Nunca frequentou ginásios porque diz não gostar de espaços fechados. Mas ninguém lhe tira a corrida diária. “Nem faço bem exercícios, apenas alguns alongamentos no início e no fim das corridas ou das caminhadas, depende do que me apetecer fazer no dia”. Mas foi assim – e, claro, com corte nas doses das refeições – que, em pouco mais de meio ano conseguiu perder 10 quilos. “Foi um encostar à parede. O meu trabalho é sedentário e eu detestava exercício. O meu corpo começou a refletir o meu estilo de vida monótono e eu tinha que fazer alguma coisa”. E já que o ginásio sempre esteve fora de questão, foi ao falar com um amigo que percebeu que o ar livre não era má opção. Começou com caminhadas e hoje já corre. Mantém o peso e liberta a mente, como diz ao i.
Todos os dias caminha ou corre no mínimo cinco quilómetros – às vezes mais – na zona de Queluz “que tem muito espaço e parques” e não tenciona deixar de o fazer. “Acaba até por ser um escape do trabalho e é muito relaxante”, confessa.
Mas há quem discorde do exercício exclusivamente na rua. Maria João Peralta diz ao i que “há muita gente que tem vergonha de ir para ginásios. As pessoas têm noção que vêm para o ginásio e só vão encontrar corpos esculturais e gente gira”, mas, “as pessoas não ficam giras com exercício físico, as pessoas ficam com melhor aspeto porque perdem gordura corporal e sentem-se melhor, a autoestima aumenta. Mas não ficam mais bonitas, ficam mais saudáveis”.
Ora, na rua, “vemos pessoas que nem sequer deviam andar depressa, quanto mais correr. Mas o organismo pode não estar preparado para aquilo, nada funciona bem”. A especialista alerta que muitas dessas pessoas nunca fizeram sequer exercício e, ao começarem a correr dessa forma, sem apoio, não terão os melhores resultados. E poderão vir a ter problemas: “A médio prazo ficam cheios de dores articulares em todo o lado”. Para si, “um ginásio é um sítio seguro e onde também se pode correr se o professor achar que pode correr. Também podem ir para a rua mas o ginásio tem o apoio muscular que é a parte mais importante”, defende.
Sobre haver cada vez mais adeptos do exercício ao ar livre, Mauro Frota diz: “O que notamos é uma crescente abordagem híbrida à prática de atividade física, ou seja, os utilizadores não querem apenas um tipo de experiência num único tipo de espaço. Pedem flexibilidade de local e hora e é exatamente por isso que não existem fidelizações na BHOUT e é o cliente que gere a sua prática”.
Outras opções
E para quem não faz questão de ir ao ginásio ou fazer exercício na rua, há também cada vez mais a possibilidade de o fazer em casa. Além dos milhares de vídeo disponíveis em plataformas como o YouTube, vários personal trainers contam com aplicações para poder ajudar os seus clientes. É um serviço personalizado que pode dar muito jeito a quem não quer deixar o conforto do lar mas quer manter-se saudável.