UMM. Apto para todo o serviço

A indústria automóvel nacional produziu alguns estranhos veículos, mas também houve uma marca que ganhou notoriedade a nível mundial como foi o caso da UMM. Passava por cima de toda a folha, deu nas vistas no Paris-Dakar e até transportou um Papa. Só a falta de apoio estatal pôs fim à aventura.

Ahistória começa em 1977 quando a União Metalo Mecânica (UMM) adquiriu a licença e os direitos de comercialização para todo mundo – exceto França – do Cournil 4×4, um veículo derivado do Jeep Willys. Os primeiros modelos mantiveram o nome do fundador da marca e foram comercializados com a designação UMM 4×4 Cournil nas versões Tracteur, Randonneur e Entrepreneur. Dois anos mais tarde, o modelo passou a chamar-se simplesmente UMM 4×4 Entrepreneur. O chassis era construído por duas longarinas e cinco travessas em aço de secção retangular, e a carroçaria em chapa era soldada ao chassis formando um monobloco. As carroçarias eram feitas em Mem Martins e a montagem e pintura em Setúbal, numa linha de montagem própria da UMM. A sua robustez, capacidade para andar em fora de estrada e mecânica Peugeot deram ao UMM o estatuto de veículo de trabalho, tendo sido usado por empresas públicas, na agricultura e indústria, e tornou-se muito popular entre os praticantes de todo-o-terreno. Foi também requisitado pela polícia francesa e esteve ao serviço do exército de Angola durante a guerra civil. O UMM serviu também de papamóvel durante a visita do Papa João Paulo II à Madeira, em 1991. A carroçaria era blindada, a cabina era protegida por vidros com 4 cm de espessura à prova de bala.

O primeiro modelo tinha motor 2.1 Diesel (62 cv), caixa de quatro velocidades, ambas de origem Peugeot, e atingia 110 km/h. Em 1981, foi introduzido o motor 2.3 Diesel (67 cv), que chegava aos 120 km/h. No salão de Paris de 1984 foi apresentado o UMM Alter com uma frente redesenhada, tablier em fibra, plásticos exteriores e motorização 2.5 turbodiesel (110 cv), capaz de atingir 140 km/h. Ao longo dos anos foram surgindo naturais evoluções. Em 1986, foi lançado o Alter II, com uma nova caixa de velocidades e de transferência e suspensão modificada. Mais tarde, surgiram as carroçarias de chassis longo em versão soft-top e pick-up e com cabina e cabina dupla. Nova evolução no ano seguinte com a introdução de travões de disco ventilados à frente e direção assistida.

Consciente da necessidade de ter um modelo capaz de enfrentar a concorrência, a UMM lançou, em 1992, o Alter III. Era um jipe moderno, com suspensão de molas helicoidais, bem equipado (ar condicionado e vidros elétricos) e concorrente dos modelos mais vendidos na altura que eram o Mitsubishi Pajero e Land Rover Discovery.

A falta de apoio do Governo de Cavaco Silva – as verbas prometidas foram desviadas para a Autoeuropa, em Palmela – e a quebra nas vendas aceleraram o fim da UMM. A produção em série foi interrompida em 1994 e os UMM passaram a ser produzidos apenas por encomenda. Em 2000 foram produzidas algumas unidades do Alter 2000, com base no Alter II de chassis longo, com o motor Peugeot 2.5 turbodiesel (110 cv), destinadas ao mercado francês e aos PALOP. Perante a escassez de encomendas, a UMM retira-se do setor definitivamente em 2006. O todo-o-terreno português foi vendido em 45 países nas versões: UMM 4×4 Cournil (1977-1979), UMM 4×4 (1979-1984), UMM Alter I (1985), UMM Alter II (1986-1994) e UMM Alter 2000 (2000-2004). Em Portugal, começou a ser vendido por 1.130 contos (5.640 euros), atualmente o preço do modelo original pode chegar aos 15.000 euros. A França foi o principal mercado de exportação, seguido de Angola e restantes PALOP e Reino Unido.

O desafio Dakar

A UMM esteve igualmente ligada à competição ao mais alto nível com a presença em três edições do Paris-Dakar. O pioneiro do todo-o-terreno em Portugal, José Megre liderou uma equipa de três carros equipados com motor PRV V6 2.7 (160 cv) na edição de 1982; foi uma experiência fantástica com os três carros a terminarem a dura prova.

No ano seguinte nova demonstração de fiabilidade com cinco UMM à partida e cinco à chegada. Em 1984, os cinco carros equipados com motor V6 3.0 (240 cv) que alinharam em Paris chegaram a Dakar, mas três foram desclassificados por excederem o tempo máximo para finalizarem uma etapa. O melhor UMM ficou em 34.º lugar e foi quinto numa etapa, o que é brilhante. Em 1989 foi lançado o troféu UMM com base no Alter II turbodiesel (110 cv) que serviu de lançamento para jovens pilotos.