Plano de saúde mental avança na UL

Mais psicólogos e psiquiatras, programas de mentorado e até APPs fazem parte do plano de prevenção e acompanhamento da saúde mental dos universitários de Lisboa. Os estudos, não sendo alarmantes, preocupam Reitoria.

A universidade de Lisboa (UL) vai iniciar já no próximo ano letivo um programa de prevenção e de acompanhamento psicológico e psiquiátrico aos 52 mil estudantes espalhados pelas suas 18 escolas. Em março deste ano a UL conseguiu o financiamento para o desenvolvimento de «um projeto que nos vai permitir um reforço e até uma reformulação deste tipo de acompanhamento», anunciou ao Nascer do SOL, a Maria José Chambel, professora agregada na faculdade de Psicologia e pró-reitora desta universidade. Tendo como base um levantamento sobre os níveis de stress e bem-estar dos estudantes, numa amostra significativa considerável de 8 mil estudantes de todas as nossas escolas e de todos os níveis de ensino, detetaram-se elevados níveis destes parâmetros, apesar de «não serem alarmantes e mais baixos do que muitos países europeus». Este estudo, de 2022, foi o mote para a criação de um projeto com várias amplitudes através do qual se pretende reforçar o acompanhamento clínico e  desenvolver medidas de caráter preventivo, uma vez que se têm registado «cada vez mais solicitação e pretendemos responder de forma mais ajustada», justificou a esta professora de Psicologia.

A Reitoria compromete-se desde já com a contratação de novos psicólogos, que tenham uma experiência e conhecimento específico no acompanhamento de jovens  no contexto universitário. Do lado da prevenção, estão previstas várias medidas de reforço, uma vez que os todos os estudos apontam que a prioridade para garantir a saúde mental dos estudantes é atuar do lado da prevenção e ajudar a mudar os hábitos de vida dos estudantes.

As medidas concretas passam por reorganizar a oferta desportiva, disponibilizar mais informação para que se tomem decisões fundamentadas ao nível da alimentação, ao nível do sono e das dependências das tecnologias.

Além de um programa de mentorado, em que os  estudantes mais velhos têm formação   para acompanhar os mais novos, tanto a nível académico como de conhecimento que lhes permita ter a  perceção da existência de alguma fragilidade que deva ser encaminhada para  um apoio a nível psicológico. Além disso, vai ser reforçada a existência de worshops de formações que ajudem os estudantes a enfrentar situações mais stressantes. E até uma APP para que os alunos possam monitorizar os seus níveis de stress ou de burnout, e conforme os níveis que forem detetados, tenham  o feedback do que devem fazer.

Suicídios

 Este ano letivo foram registados dois suicídios na Universidade de Lisboa (o último esta semana), mas o Nascer do SOL sabe que o número de suicídios foi de quatro, embora não apareçam nas estatísticas oficiais. A reitoria da UL explica: «Em relação ao número de casos este ano a informação que temos é de 2 casos. Não é possível termos registo de todas as situações porque acreditamos que podem existir situações que não são reportadas como tal (o que ocorre para muitas situações na sociedade portuguesa), só nos é possível ter conhecimento quando a situação de morte é registada como suicídio. Por outro lado, mesmo nessas situações só será do nosso conhecimento se os estudantes tiverem a ter acompanhamento psicológico nas nossas estruturas ou a direção reportar essa situação». Este fim trágico «é um problema grave de saúde mental, mas que como quase tudo na saúde mental, não tem uma única causa», afirmou ao nosso jornal a pró-reitora. «Os estudantes que o fazem, têm características muito distintas e outra coisa que não podemos dizer é que haja algum tipo de relação entre ele serem estudantes universitários e terem cometido suicídio. Provavelmente, mesmo que não fossem estudantes universitários teriam tido o mesmo desfecho». A professora de psicologia esclarece ainda que «mesmo as pessoas que estão a ter acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, muitas vezes finalizam com suicídio. É muito difícil de controlar. Sendo esta a situação de um dos estudantes». Outras situações são as dos estudantes que não deram mostras de nenhuma perturbação, que nunca se tinha percebido: nem professores, nem família, nem colegas. E isso foi o que aconteceu com outro dos estudantes». Em comum está a existência de fragilidades, que podem ser exponenciadas até um final trágico. «Sejam ou não estudantes», garante a professora universitária.

ines.pereira@nascerdosol.pt