Vivemos num mundo que se assemelha a uma teia de aranha global, onde cada fio é uma conexão digital. É a era da hiperconectividade, um cenário que poderia ser retirado de um filme de ficção científica como o “Matrix”. Cada “like”, cada partilha, cada comentário é como um simples acenar de Neo (representado por Keanu Reeves), na imensa vastidão do ciberespaço, que nos aproxima de alguém que pode estar tão longe quanto a Austrália ou tão perto, quanto a mesa ao lado no nosso café favorito.
A comunicação, outrora limitada por distâncias físicas e atrasos temporais, flui agora livremente, como um rio que rompeu as suas barragens. Se antes a troca de informações se dava cara a cara ou através de cartas e telegramas, hoje, as redes sociais, permitem que vozes de todos os cantos do mundo sejam ouvidas em tempo real. Esta evolução não reflete apenas a nossa capacidade de adaptação e inovação, mas também destaca a importância de tentarmos compreender as implicações que estas mudanças trazem para a sociedade, sob pena de sermos engolidos pela propria realidade virtual.
As redes sociais, ao democratizarem o acesso à informação e possuírem o poder de mobilizar massas e potencializar mudanças sociais significativas, também trouxeram consigo desafios que devem ser encarados de frente tal como os obstáculos que um atleta de triatlo enfrenta para alcançar a meta. Assim, a proteção da privacidade num mundo cada vez mais conectado e aberto, a luta pela veracidade das informações num mar de conteúdo e o seu impacto na saúde mental dos utilizadores num ambiente que nunca dorme, são obstáculos que temos de ultrapassar nesta nova era digital. E é neste contexto que a comunicação se revela, não só como uma arte, mas também como uma responsabilidade, onde cada indivíduo tem o poder de influenciar e ser influenciado de forma instantânea, onde quer que se encontre.
A comunicação tem sido desde sempre o motor invisível que impulsiona a sociedade, molda as nossas interações e contribui para o progresso. Esta nossa viagem desde a escrita cuneiforme utilizada pelos antigos Sumérios para registar transações e eventos, até às plataformas digitais como o Facebook e o X (ex Twitter), permitiu que as pessoas se conectassem para além das fronteiras geográficas e até temporais.
Mas a comunicação é muito mais do que uma mera ferramenta, ela é o alicerce da organização social e da coesão comunitária. É assim que desde a Grécia Antiga até aos nossos dias, são vários os filósofos que reconhecem o seu papel crucial na construção de uma sociedade equitativa e livre. Além de Habermas, pensadores como Michel Foucault analisaram o impacto do discurso na estruturação do poder e da identidade, mostrando-nos como a comunicação pode ser utilizada para dominar enquanto Paulo Freire, em contrapartida, destacou a importância da comunicação na educação e no despertar político.
Mas com o advento da era digital, a disseminação das fake news e a polarização, ameaçaram a integridade e a autenticidade da comunicação. Intelectuais contemporâneos, como Chomsky e McLuhan, enfatizaram a importância de termos uma comunicação responsável numa era cada vez mais digital e interconectada o que poderá ser facilmente alcançável, diria eu, através da educação para a literacia mediática, do apoio ao jornalismo de qualidade e da promoção de um discurso público e político mais transparente e respeitador.
Mas comecemos pelo início! A transição para a era digital começou com um marco histórico significativo no dia 29 de Outubro de 1969, quando Leonard Kleinrock e o seu aluno Charles Kline, da Universidade da Califórnia (UCLA), conseguiram enviar a primeira mensagem de sempre entre dois computadores. Um, localizado no campus da UCLA em Los Angeles e o outro na Universidade de Stanford em São Francisco utilizaram a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), uma rede criada pelo Departamento de Defesa dos EUA para estabelecer um sistema de comunicação seguro entre instituições governamentais e académicas. A primeira rede da história era muito rudimentar tendo uma conexão muito instável o que fez com que a primeira mensagem que tentaram enviar, “LOGIN”, fosse cortada, enviando apenas as duas primeiras letras, “LO”! Hoje em dia seriamos tentados a dizer “LOL” perante uma realidades destas!
Este, foi assim, o início de uma revolução que marcaria o início de uma nova era da evolução tecnológica que nos permitiu criar canais de comunicação para qualquer finalidade, aprimorados para diferentes personalidades. Os blogs e as redes sociais multiplicaram-se, aparecendo e desaparecendo no espaço de meses. De tal forma que já não conseguimos imaginar qual será a próxima rede social, quem a irá utilizar e com que finalidade. A Revolução Digital tornou-se num processo que abraçou a rápida evolução e disseminação da tecnologia da informação e da comunicação, sendo a internet e os dispositivos digitais os principais catalisadores dessa mesma revolução.
As redes sociais, tal como as conhecemos hoje, surgiram, de facto, com o objectivo de ligar pessoas em todo o mundo. O primeiro site da rede social foi o Six Degrees, lançado em 1997, o qual permitia aos utilizadores criar perfis, listar os seus amigos e ver as listas de amigos de outros utilizadores. Em 2002, surgiu o Friendster, fundado por Jonathan Abrams, que permitia aos utilizadores jogar jogos online, enviar mensagens, compartilhar imagens e videos e escrever comentários. O seu enorme sucesso inspirou plataformas como o MySpace, Facebook Linkedin, X, Youtube e outras. Cada uma dessas redes sociais desenvolveu características únicas, desde conexões profissionais até partilha de vídeos e conteúdo visualmente mais rico sendo inegável que transformaram a forma como as pessoas passaram a comunicar e a interagir entre si.
No entanto, estas redes, anteriormente vistas como uma verdadeira revolução na interação humana, enfrentam agora um declínio devido a problemas como a disseminação de desinformação, preocupações com a privacidade e a toxicidade. Por exemplo, durante eleições, como as dos EUA em 2020, a desinformação disseminada em plataformas como o Facebook e o X influenciou a opinião pública tendo criado narrativas diversas em torno de Joe Biden e Donald Trump. Por seu turno, escândalos relacionados com a privacidade, como o caso Cambridge Analytica, levaram os utilizadores a questionar-se sobre a real utilização dos seus dados. Para além disso, a toxicidade online, evidenciada por discursos de ódio e a polarização, tem levado muitos internautas a abandonar as redes sociais tradicionais em busca de ambientes mais saudáveis.
Perante o cenário atual, surge a pergunta: será este o fim das redes sociais? Cada vez menos “sociais”, as redes sociais têm implicações muito maiores do que se pensa. Ainda que as pessoas, em geral, tenham percebido diferenças nos seus “feeds”, muitos ainda não entenderam o alcance e as implicações das mudanças recentes.
A verdade é que estes meios sociais, tal como os conheciamos, acabaram. Com o crescimento do TikTok e a mudança dos “feeds” do Facebook e do Instagram para um modelo de recomendação baseado em algoritmos, entramos numa nova era na qual o conteúdo gerado pela sua rede de amigos não está mais entre as principais recomendações do seu “feed”. Estas mesmas plataformas usam agora algoritmos para determinar o que os utilizadores veem nos seus ”feeds” e, em vez de apresentarem publicações numa ordem cronológica, analisam uma variedade de fatores – como o tipo de conteúdo que um utilizador interage mais frequentemente – para personalizar o “feed” de cada utilizador. Embora isto possa levar a uma experiência mais personalizada, levanta questões sobre a transparência e o controle do utilizador sobre o seu próprio “feed”.
Neste novo padrão de recomendação, a componente social entendida como o conteúdo distribuído pela sua rede de amigos, perdeu importância. E esta mudança até parece fazer sentido diga-se de passagem! O simples facto dos seus amigos poderem distribuir conteúdo de forma facil, não quer dizer que este conteúdo seja interessante para si caro(a) Leitor(a)! E, para além do mais, neste novo modelo, temos à disposição todo o conteúdo da plataforma, não ficando limitados apenas à nossa rede.
Esta mudança também teve impacto nos influenciadores e no seu modelo de negócio. Quando a recomendação de conteúdos era definida apenas pela quantidade de seguidores e “likes”, os grandes influenciadores conquistaram o poder de definir comportamentos, influenciar o nosso consumo e ganhar muito dinheiro com isso. Mas este poder mudou para a mão dos algoritmos, os quais, devidamente treinados, são capazes de apresentar ao utilizador o conteúdo que ele gosta, e não o conteúdo que os seus amigos e influenciadores tentam vender. Por isso não nos surpreende que, em 2022, as irmãs Kardashian tivessem apoiado a campanha “Make Instagram Instagram again”, numa tentativa de reverter a decisão da empresa de não dar preferência aos conteúdos postados pelos amigos.
Tal como a canção “Blowin’ in the Wind” de Bob Dylan, que se tornou um símbolo de mudança e progresso, as redes sociais estão a passar por uma transformação profunda. Passámos de um modelo dominado por influenciadores, semelhante a uma canção pop que toca até à exaustão nas rádios, para um modelo dominado por algoritmos, mais parecido com uma playlist personalizada do Spotify, onde a relevância do conteúdo é a regra.
Longe de estarem a desaparecer, as redes sociais estão a evoluir. Tal como os personagens do filme “Transformers” que se adaptam e evoluem ao longo do tempo, também a denominada Geração Z, está a migrar para plataformas mais autênticas e genuínas, porquanto a saturação do mercado e as preocupações com a privacidade e a saúde mental são uma realidade inegável. O conteúdo efémero, como stories e vídeos curtos, está a ganhar prioridade e popularidade nas plataformas online. Esta tendência reflete o desejo crescente de autenticidade e espontaneidade, permitindo aos utilizadores compartilhar momentos fugazes do seu dia a dia sem se preocuparem com a perfeição ou com a construção de uma imagem pública cuidadosamente tratada.
Também a realidade aumentada e virtual integra o mundo real no mundo virtual, criando experiências imersivas. Converse com os seus dispositivos em linguagem natural, como se estivesse a falar com um amigo. Sinta o toque virtual de um ente querido à distância, tal como a conexão emocional transmitida através da música no filme “La La Land”.
Microcomunidades online com interesses específicos florescem e proporcionam interações mais profundas, tal como os fãs de uma banda indie que se conectam através de fóruns online. O conteúdo efémero está, de facto, a ganhar prioridade, valorizando a espontaneidade do momento presente.
As novas formas de comunicação transformam assim, uma vez mais, a forma como nos relacionamos, na busca por autenticidade no mundo digital, onde novas oportunidades surgem para empresas e profissionais se reinventarem, tal como um artista que explora novos géneros musicais. É assim que o fim das redes sociais, tal como as conhecemos, não é uma despedida, mas antes um alerta e um renascimento tal como um fénix a reerguer-se das cinzas.
Estamos a presenciar a alvorada de uma nova era da comunicação, onde a autenticidade não pode ser opção, mas uma exigência, onde a segurança não é um luxo, mas um direito, e onde a relevância não é um bónus, mas um padrão. É a visão de um futuro onde a nossa voz não pode ser vista apenas como um mero sussurro no vento, mas um trovão que ecoa, onde a nossa privacidade não é invadida, mas fortificada, e onde a nossa humanidade não é ignorada, mas exaltada. “Vale a pena pensar nisto”!!!