Já criou tantas personagens. Se tivesse de descrever a personagem Patrícia Müller a uma atriz que lhe teria de dar vida num projeto, o que diria?
Eu acho que essa personagem não teria muito interesse. Aposto que os escritores dizem todos a mesma coisa, mas é verdade. Eu trabalho muito, portanto a minha vida é muito pouco aventureira. Não tem grande interesse uma pessoa que fica 8 a 10 horas por dia sentada em frente a um computador. (risos) Acho que para uma personagem isso não teria grande interesse…Talvez o interesse estivesse na vida interior, naquilo que eu leio e vejo o dia todo. Porque é aquilo que eu absorvo.
E quando não está sentada a escrever? A pessoa, a personalidade…
Gosto de pensar que não sou chata! (risos) Isso já não é mau! Gosto de pensar que não me levo muito a sério, que sou “na boa” a maior parte das vezes.
Uma pessoa de quem é fácil gostar?
Gostava que sim! Mas não tenho a certeza… Tenho alguns amigos, bons e muito antigos. Gosto muito de poucas pessoas e que poucas pessoas gostem muito de mim. Não preciso de ser gostada por muitos… Mais? Sou meia stressadona, mas tenho sempre muito para fazer!
Mas em criança, a Patrícia não brincava. Apesar dos seus pais serem os dois arquitetos, não desenhava. Ocupava os seus dias a ler. Pode descrever-me um pouco essa infância? Eu não brincava de facto. Detestava barbies, sempre detestei bonecos… Era uma coisa aborrecidíssima. O meu filho mais novo gosta muito de super heróis, eu vejo-o brincar, mas nunca percebi aquilo. Engraçado, porque é um bocadinho um anacronismo, não é? Eu não gostava de brincar com bonecos, não gostava de recriar personagens que existissem, que tivessem ali uma matéria. Mas depois, quando comecei a ler, descobri no imaterial coisas muito mais interessantes. Nas palavras descobri promessas e potências muito mais interessantes do que nos bonecos. Foi a partir daí que comecei a ler e a escrever, porque uma coisa leva à outra. Só quem lê é que pode escrever. Eu não acredito em escritores que não leem.
Há algum livro que mais a tenha marcado nessa altura?
Eu acho que quase todos os pais daquelas crianças que leem, não se preocupam muito com aquilo que elas estão a ler. Porque estão a ler livros! (risos) Não é obviamente um descontrolo, mas é uma liberdade grande. Eu tinha a liberdade toda! Eu podia ler aquilo que eu quisesse. Estamos a falar de há 40 anos.
Infelizmente isso tem acontecido com a internet, os conteúdos do Youtube, as redes sociais… Sim, mas claro que isso não pode ser! É como um jornalista. Aquela frase muito conhecida que nos diz que «toda a gente é jornalista»… Não, não é! Não somos e não somos mesmo! Um jornalista tem uma tarefa muito específica que é a de filtrar, interpretar, fazer correlações. Um escritor também faz isso de outra maneira. Portanto, não é a mesma coisa estar no Instagram, a ler um post, ou estar a ler um livro. Eu não tinha mesmo qualquer restrição com os livros. E lembro-me de, em miúda, ler a Insustentável Leveza do Ser, que é meio erótico; lembro-me de ler o Eça de Queiroz, O Primo Basílio. A prima Luísa tinha uns seis arfantes e havia uma passagem que dizia que «os seis arfavam e subiam». (gargalhada) Eu não percebia o que era aquilo. Também lia muito o Jorge Amado, apaixonei-me pelo Brasil por causa dele. Não me lembro bem da cronologia, não sei se vi primeiro a novela da Tieta ou se li primeiro o livro. De qualquer forma achei incrível! Aliás, há uns tempos estava a falar com o José Eduardo Moniz e ele é teimoso! Eu disse-lhe que se alguma vez eu lhe fosse apresentar uma série de uma prostituta que vem do interior do país, chega a Lisboa e vai para a cama com o sobrinho, que é padre, que ele me cancelava o projeto. Ele disse que não! (risos) Mas cancelava, de certeza que sim! Então nos dias de hoje, cancelava de certeza! Garantiu-me que não… (gargalhada)
Mas isso significava que era uma criança introvertida? Os livros traziam-lhe solidão?
Não, não! Nunca fui o estereótipo das crianças que leem livros! Ou dos escritores que ficam tipo eremitas. Eu sou o contrário! Sou super extrovertida, sou uma pessoa que gosta de sair, de fazer muitas coisas, de viver! Eu acho que a leitura e a escrita se tornam num ofício tão normal que já não há nenhuma mística ou glamour nisso. É só o que eu faço. Podia ser outra coisa qualquer! É muito trabalhoso, demora muito tempo, a pessoa tem de ler muito, escrever muito, portanto é o oposto do glamour.
Estudou Comunicação Social, na Universidade Nova de Lisboa, e começou a vida profissional como jornalista da revista Elle. Nunca houve dúvidas de qual seria o caminho? Eu queria fazer jornalismo de guerra! Acho que todos os jornalistas pensam nisso! (risos) Mas o jornalismo tem uma coisa que não me satisfaz! A realidade muitas vezes não faz sentido nenhum e tu não consegues simplificar as coisas, porque há histórias com tantas nuances, tantos contornos, que são infinitas. A certa altura pensei que não queria que a realidade me ultrapassasse, queria controlar o processo, porque controlando o processo, consigo atribuir-lhe características morais que levam às pessoas que me estão a ler alguma coisa de novo. A vida já é tão desorganizada e caótica que já não aprendemos nada com isso. O trabalho do escritor e do jornalista de outra forma é esse. A organização das coisas. O que é que eu estou a ver? Quem é que é esta pessoa? Qual a história dela? Quando fazes reportagem e descreves as pessoas, elas podem ter uma história de 30 anos e tu tens de reduzi-la. Isso não me satisfazia. O jornalismo não permite grandes invenções e se me tiram as minhas invenções, fico triste! (gargalhada)
Depois saltou para os guiões… Como é que isso aconteceu?
Foi curioso, porque eu soube através de uma amiga que a Plural, na altura NBP, estava a contratar estagiários. Mandei o meu currículo, já tinha feito alguma coisa na RTP2 e estava na Elle. Era uma miúda nova, mas já tinha alguma estaleca! Eles chamaram-me. Fui para a Casa da Criação na TVI e o meu início dá-se aí.
Mas como dizia, foi na RTP, no programa ‘O Triunfo dos Porcos’, que escreveu a sua primeira ficção. O que recorda desses tempos?
Foi um tempo tão feliz! Foi feito com amigos… Éramos tão novos, era um tempo de tanta liberdade… Trabalhávamos com amigos, não havia horas, nada… Era até às três ou quatro da manhã, às vezes íamos jantar, íamos para os copos… Aquela ideia um bocadinho boémia do trabalho e dos artistas. Na Casa da Criação da TVI também era um bocado isso. Trabalhava-se muito, mas era uma alegria. Quando começámos os Morangos com Açúcar éramos uma equipa grande e muito nova. Havia uma ideia de frescura, de animação, de pureza, que nunca mais se tem na vida. Desses tempos guardo isso. Eu comecei de facto onde devia ter começado, com aquela ideia do mundo novo à nossa frente. Com uma alegria sem limites… Depois fui andando e acho que também tive sorte!
O que é que foi mais difícil no princípio da carreira?
Acredito que não tenha sido tudo feliz… Não acho que tenha havido coisas difíceis. Era só loucura e inconsciência! (gargalhadas) Vá, claro que houve desafios… Mas esses desafios nem contam! Passados 20 anos não contam. O que conta é a imagem que tenho dessas pessoas que ficaram minhas amigas, daquele momento, daquilo que conseguimos fazer e o avassalador que foi para nós. Eu não tinha mesmo a ideia de fazer ficção, mas a partir daí tive a certeza que era por aí.
Acredito que essa altura também vos tenha moldado enquanto pessoas…
Super! Começar nas novelas foi a maior escola que eu podia ter. Eu não estudei guionismo, mas comecei, mais tarde, a tirar uns cursos. Sou uma autodidata, leio muito. Vou fazendo coisas para aprender. Há várias técnicas e os americanos são os maiores nisto, por isso estou sempre a ver masterclasses, etc.
O que é que a fascina mais na ficção? Eu acho que a ficção salva! A ficção é uma espécie de religião. Aproxima-nos dos outros. Muitas vezes estás a ler livros ou a ouvir histórias em novelas, série ou filmes e há qualquer coisa que te toca num nervo, com a qual te identificas e pensas: «Afinal eu não estou sozinha». A ficção leva-nos a sítios universais: valores, ideias. Leva-nos ao centro do ser humano.
E é uma grande companhia para muitos…
Exatamente! Já no tempo das cavernas eles desenhavam nas paredes e desenhavam narrativas. Portanto, a narrativa é uma coisa que acompanha o ser humano e é uma salvação.
A Patrícia é bastante versátil. Tanto conta histórias que decorrem em décadas e séculos anteriores como histórias contemporâneas. O que é que é importante ter presente em todas elas?
Primeiro, eu escrevo muito sobre mulheres… Isso talvez seja uma marca. Tenho mais dificuldade em escrever sobre homens e chegar ao universo masculino, mas também o faço. Depois, acho que eles têm de ter todas uma espécie de redenção moral, como os filmes clássicos americanos. Há um desfecho. Até mesmo neste novo projeto, A Filha, série que estreou no dia 29 de abril na TVI, há uma espécie de redenção das personagens que começam tortas, mas que acabam direitas. Eu acredito nisso. A vida pode fazer-te torta, mas se conseguires ficar direita naquilo que a vida te apresenta…A ideia daquilo que é certo… Há uma história que me ficou para sempre marcada e eu tento sempre ir por aí. Uns miúdos de 14 ou 15 anos que, em dois anos seguidos, abusaram da mesma menina. Na primeira vez a mãe da miúda avisou a polícia e eles não fizeram nada, na segunda vez eles foram presos. Foram para reformatórios. Na altura, eu falei com o advogado: «Miúdos de 14 e 15 anos… Um reformatório…», interroguei. Ele disse-me: «Eles sabem aquilo que é certo ou errado. Podem vir de barracas, podem ter vidas horríveis, mas nós sabemos aquilo que é certo e aquilo que é errado!». Abusar de uma menina não é certo, nem aqui nem em lado nenhum. É aquela máxima Kantiana que nos diz: «Age como se a tua ação pudesse ser universal». Se as minhas histórias no fim afloram vagamente isso, eu acho que tenho uma vitória pessoal.
Mas também há desfechos abertos nos seus trabalhos?
Abertos nunca são, há sempre um desfecho, mesmo que haja coisas mais ou menos em aberto. Agora na série A Filha o público vai ver isso. É um desfecho em aberto, mas ao mesmo tempo não o é. (gargalhada) Há ali uma direção clara.
Já disse que é nos livros que se descobre inteira. O que é que a escrita dos livros lhe dá que os guiões não dão?
A escrita dos livros é solitária. Sou só eu. Os guiões são coisas absolutamente colaborativas. Não escrevo sozinha. Regra geral só escrevo sozinha quando não tenho dinheiro para pagar a ninguém! (gargalhada)
Consegue definir a sua forma de escrita? Ou nem pretende que isso aconteça? Gostava de ter várias escritas, várias vozes, várias coisas escritas. Não gostava de ficar rotulada só num género ou de uma forma. Acho que devemos experimentar até ao fim. Tudo e tudo e tudo! (risos)
E como é que nos reinventamos tantas vezes? Numa entrevista já disse que a inspiração é uma treta… Então de onde surgem as histórias?
E é! (gargalhadas) As histórias surgem das leituras, daquilo que observo, vem de uma coisa que nasceu comigo. Eu nasci assim, mas vem de um trabalho insano e de um esforço imenso.
Mas não há alturas do dia em que é mais difícil escrever?
Não! Nunca!
Existe um botão de on e off?
Sim! E, por exemplo, hoje estava cheia de sono. Pensei: «Agora vou votar na Academia de Cinema, por isso vou ver os filmes». Há alternativas. Pego num livro, ou leio um jornal. Há sempre coisas que podes fazer não saindo do teu caminho. Até te ajudam a escrever! Mesmo que sejam apenas frases. O Tarantino faz isso. Ele diz que vê filmes e que às vezes capta duas ou três frases colocadas no sítio certo e que pega nisso. Não é copiar, aquilo simplesmente faz sentido para aquilo que tu querias e ainda não tinhas descoberto.
Então não existem bloqueios… E frustração?
De achar que está uma porcaria? (risos) Tudo é uma porcaria no princípio. Estou sempre a telefonar ao meu amigo Hugo Gonçalves: «Isto está uma merda!». (gargalhada) Passado um tempo já acho que sou genial, depois é uma porcaria novamente… É tudo super oscilante. A maior parte das vezes é tudo uma porcaria, de vez em quando não fica tão mal como eu achei. Mas mesmo que seja uma porcaria não significa que tu vás desistir dela. Talvez passado uns dias tenhas mais sorte, ou não!
Os seus processos são bastante longos. Para a ‘Rainha Bastarda’, por exemplo, estudou durante 5 anos… Isso demonstra a sua exigência com os temas? É uma autora que gosta de ir ao pormenor?
Sou só lenta! (risos) O processo é engraçado…. Eu sou rápida no gatilho para lá chegar, na primeira versão. Mas depois faço 36 versões. A primeira versão é sempre a pior. Corta, acrescenta, muda… Isto são meses e meses. Às vezes anos.
Tem algum fascínio pela história do país? Detesto história. Eu não queria fazer livros históricos. Não sei se volto a escrever algum… Mas há uns anos, quando publiquei a Madre Paula, uma das minhas melhores amigas que também é editora, disse-me: «Tens de escrever um livro com sexo». Comecei a escrever uma coisa contemporânea e aquilo estava péssimo. Eu tinha descoberto esta história do rei e da amante num jornal. Então pensei: «E se fizéssemos uma coisa com sexo com o rei e a amante». Ela achou boa ideia. Foi assim que nasceu a Madre Paula. Depois disseram-me que a filha do rei tinha sido violada e morta. Grande história. Apaixonei-me pela história da rainha Santa Isabel que acho que quase ninguém conhece. Neste momento, considero-me uma especialista na rainha Santa Isabel. (risos)
Demora muito a tomar decisões?
Não, nada! Tomo a decisão e depois retorno lá 100 vezes. Quando tomo a decisão ela está tomada, só que depois volto lá e remexo e refaço.
E pede muitas opiniões?
Quando trabalho sozinha não. Só no fim. Quando trabalho em grupo, sempre. Não fecho nada sem falar com a equipa. Gosto muito de trabalhar com equipas boas.
Como falávamos há pouco, nos seus projetos tem tido uma abordagem do que tem sido a condição feminina ao longo dos tempos. É uma pessoa feminista?
Continua a ser imperativo colocar a mulher no centro das histórias? Claro! Toda a gente no mundo devia ser feminista. No sentido da igualdade e não da superioridade. E claro que temos de colocar as mulheres nos centros das histórias. É como o racismo… A questão das quotas. Pessoas de diferentes raças. Andámos séculos a levar com porcaria, agora é a nossa vez. Aguentem-se!
Quais os maiores desafios de fazer uma telenovela no nosso país atualmente? Já não escrevo novelas há algum tempo, mas acho que Portugal teve um desenvolvimento extraordinário nesse campo. É uma verdadeira indústria. Nas séries estamos a tentar e estamos a fazer um caminho muito válido. Mas de facto nas novelas, temos técnicos extraordinários, equipas maravilhosas. Não envergonham em nada novelas latino-americanas. Temos guionistas incríveis. Só temos de estar orgulhosos. Até porque agora, em grandes plataformas de streaming, o formato melodrama em 60 ou 70 episódios está cada vez mais na moda. E as pessoas veem na boa!
Há muita gente que acusa a ficção portuguesa de perpetuar estereótipos, contar sempre as mesmas histórias e ser pouco inclusivo. Como é que a Patrícia responde a isso?
A ficção portuguesa é em sinal aberto, dirigida para um público, que é o público português. Não sei o que é que quer dizer. Temos gays nas telenovelas, temos pessoas com algumas dificuldades, muitas mulheres. Agora temos uma personagem trans… Não acho que não seja inclusiva. Estereótipos… É o género da novela. O melodrama trabalha estereótipos… Mas em vez de estereótipos eu gosto de usar arquétipos. A ficção, segundo alguns teóricos do guião, tem seis arquétipos: o rei, a rainha, a donzela, o cavaleiro… Eu gosto de pensar dessa maneira. Nesse sentido se me dizem: «Ai, são sempre os pobres e os ricos!». Como é que é o mundo? A novela reproduz a realidade, ainda por cima como é um produto que dá todos os dias, tem de fazê-lo ainda mais. É diferente veres uma coisa uma vez por semana, ou uma série com seis episódios, como acontece com A Filha. Relativamente a serem sempre as mesmas histórias…. As histórias são sempre as mesmas no mundo.
Tem de se estar sempre atento àquilo que o público quer ver?
Sempre! E eu estou sempre atenta. Se é para escrever e pôr na gaveta, eu também o faço.
Com o surgimento das plataformas de streaming qual será o futuro das telenovelas? Eu acho que as novelas estão a migrar para as plataformas. Um formato completamente universal. O que eu acho que pode acontecer, e teria muito interesse, era reduzir um bocadinho o tamanho das novelas. Às vezes ficam um bocado cansativas.
A Patrícia também tem um papel ativo na escolha dos atores? É difícil ficar satisfeita? Acredito que seja difícil despegarmo-nos da imagem que criamos na cabeça ao escrevermos. Não crio imagens. Ouço mais vozes. Eu ouço vozes! (gargalhada) Mas é verdade, ouço mais as vozes dos personagens e vivo mais as angústias delas. Regra geral, não sou eu que escolho, mas às vezes acontece. Na Rainha Bastarda tive um papel muito ativo, na Vanda, também. Na A Filha não. Foi o realizador com a TVI. Falaram comigo, claro, mas não fui eu que escolhi. Não sou produtora e realizadora. O que acontece também é que às vezes existe um grande faseamento entre a minha escrita e a produção. Por isso, quando eles começam a produzir já eu estou eu noutro projeto e já apaguei o que tinha feito. O teu cérebro não pode estar cheio, sabes disso. Se tu agora me perguntares: «Como é que são os episódios deste último projeto?». Não me lembro e é claro que já os vi todos. É muito estranho.
O que a série ‘A Filha’ representa para si neste momento? O meu regresso à TVI passados 16 anos. Comecei na TVI, fui para a SIC, depois fui freelancer. Estou uma pessoa diferente, claro. É um regresso num estilo que eu já não estava habituada a fazer. É um género que eu adoro. Sou fã do melodrama. Foi um desafio incrível.
Como é que surgiu a oportunidade?
A minha amiga Lúcia Feitosa – que trabalha na Plural –, disse-me há uns anos: «Tens projetos porque é que não os apresentas?». Levou-me ao diretor da Plural da altura que gostou muito deste projeto. Por sua vez, ele levou-o à Cristina Ferreira e depois ao José Eduardo Moniz. A partir daí foi acontecendo. É uma história que já anda há alguns anos comigo: a história do caso Esmeralda. Trabalhei com o António Pedro Vasconcelos, que faleceu há pouco tempo, numa história de uma mãe a quem lhe tinha sido retirado o filho. Acabou por não ir para a frente, mas acabámos por estudar muitos processos que tivessem a ver com adoções. Um deles foi este. Li tudo. É um caso em que tu imediatamente formalizas uma opinião. Qualquer pessoa, com qualquer classe social, com qualquer educação, em qualquer parte do país, vai ter uma opinião sobre este caso. É uma coisa universal e comovente. Interessou-me essa ideia de não haver vilões. Ninguém é mau. No fundo são todos tontos. Fazem asneiras e fazem mal a uma miúda. Era só ter um bocadinho de bom senso. As pessoas enlouqueceram por amor e eu acho isso tão bonito e tão nobre, tão digno. Isto não é uma crítica. Eles fizeram como souberam e puderam. Foi o que foi. Cheio de verdade e intensidade! Gosto de intensidade nas ações e reações. Se as histórias não tiverem intensidade, não me interessam. Para esta história não falei com ninguém do caso Esmeralda, porque queria ter muita liberdade de invenção. Isto é uma coisa livremente inspirada nesse caso.
Tem muitos projetos na gaveta? O que é que se segue? Há algum projeto de sonho?
Deixo fluir. Estou sempre a concorrer a coisas, sempre a fazer propostas. Quero acabar o meu novo livro… É esforço. Tudo esforço. O Pedro Raul Duarte dizia: «Não deixes de pedalar!». Eu não deixo de pedalar!