O aeroporto de Istambul foi construído e operacionalizado em cinco anos, e os turcos não são propriamente conhecidos por ser o povo mais trabalhador do mundo», disse André Ventura no Parlamento, provocando uma arruaça. Um deputado do BE, Fabian Figueiredo, uma deputada do PS, Alexandra Leitão, e uma terceira do Livre, Isabel Mendes Lopes, queriam que o presidente da AR, Aguiar-Branco, calasse o deputado e o proibisse de continuar a falar – o que ele se recusou a fazer.
«Não serei eu o censor de nenhum dos deputados», afirmou Aguiar-Branco.
E muito bem.
Cada deputado é livre de dizer o que entende, ponto final.
O juízo sobre aquilo que diz será feito pelos eleitores ou pelos tribunais, se for caso disso.
Se os jornais podem escrever o que querem, não sendo sujeitos a censura prévia, por maioria de razão os deputados eleitos pelos portugueses devem dizer livremente o que pensam.
Aqueles que querem silenciá-los são os mesmos que sempre ansiaram por uma censura, eventualmente de sinal contrário àquela que tínhamos no passado.
O certo é que, por algum tempo, a Assembleia da República transformou-se num circo. E eu pergunto: de quem terá sido a culpa? O que aconteceria se esses deputados tivessem ficado calados? Viria algum mal ao mundo?
André Ventura estava a falar do novo aeroporto de Lisboa, e referiu os turcos en passant, para os apresentar como exemplo: se, mesmo não sendo os mais trabalhadores do mundo, eles construiram o aeroporto de Istambul em cinco anos, nós também o poderemos fazer.
Era este o sentido da sua intervenção.
Mas três deputados – do BE, do PS e do Livre – decidiram fazer a propósito disto um ‘caso’.
Claro que André Ventura agradeceu.
Mais uma vez esteve no centro de uma polémica, sob a luz dos holofotes, no papel de vítima.
Os outros partidos ainda não perceberam que, quanto mais lhe batem, mais votos lhe dão.
E depois as pessoas pensam: é para isto que servem os deputados?
É para gastarem o tempo a discutir se se pode dizer que os turcos são muito ou pouco trabalhadores?
Foi para isto que os elegemos?
Valha-nos Deus!
O que é também lamentável na atitude daqueles três parlamentares é a submissão ao politicamente correto. É o cinismo, a tentativa de esconder o óbvio, de tapar o sol com uma peneira. Será crime dizer que um povo é mais ou menos trabalhador?
Os povos, porventura, são todos iguais?
Os europeus são iguais aos orientais?
Os nórdicos são iguais aos latinos?
Os alemães são iguais aos gregos?
E se os povos têm características diferentes, não é normal que uns sejam mais trabalhadores, outros mais imaginativos, outros mais alegres, outros mais hospitaleiros, e assim sucessivamente, sem que isso implique dramas nem complexos?
Que mal há em reconhecer isto?
Custa-nos muito admitir, por exemplo, que os ingleses são mais empreendedores do que nós?
Basta olhar para a História e ver que foram eles que criaram muitas das nossas principais indústrias.
O vinho do Porto foi inventado, produzido e comercializado por ingleses. O vinho da Madeira, idem, aspas. Muitas das nossas minas foram montadas e exploradas por ingleses. A nossa indústria vidreira foi criada por ingleses…
Custa alguma coisa reconhecer isto?
É preciso ter muita cultura ou muita inteligência para saber e compreender esta realidade?
Será que certas pessoas são mesmo burras ou querem fazer de nós burros?
Sejamos sérios: Ventura disse uma coisa absolutamente anódina. Quem a transformou numa tempestade, fazendo uma despropositada peixeirada, é que deve ser condenado e responsabilizado. Não foi André Ventura que esteve mal. Não foi Aguiar-Branco que esteve mal – pelo contrário. Quem esteve mal foram os três deputados do BE, do PS e do Livre, que devem ser culpabilizados por aquelas perdas de tempo, por aquela discussão estéril que não conduzia a nada nem interessava nada, e apenas dizia respeito aos seus complexos políticos e mesquinhez ideológica.
E que, além disso, desprestigiam o Parlamento e a função de deputado.
Os portugueses perguntam-se: será para isto que lhes pagamos?
P.S. – Isabel Moreira, numa entrevista à Rádio Observador, acusou deputados do Chega de a insultarem. Ora, nesta coluna, apenas posso comentar o que se passa no hemiciclo e não as trocas de palavras entre deputados nos bastidores do Parlamento.