Passados já quase seis meses desde que Javier Milei tomou posse como Presidente da República Argentina, é hora de fazer um primeiro balanço e analisar o impacto das suas medidas libertárias tanto na economia – a sua área de especialidade – quanto nas demais dimensões que dizem respeito ao Estado.
O cenário económico argentino, que antes de Milei estava à beira do abismo, com uma situação de hiperinflação cada vez mais próxima, tem vindo a apresentar sinais de recuperação sob a tutela do novo Presidente e do seu ministro da Economia, Luis Caputo. Os níveis de inflação são animadores e as previsões dão motivos de esperança para o povo argentino que se via sobrecarregado com o fenómeno inflacionário, resultante da política de emissão desenfreada de moeda por parte dos anteriores governos.
No final do mês de abril, o vice-presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), Vladimir Werning, apresentou em Washington uma perspetiva de queda da inflação para perto de 9% em abril, com previsões de 5,8% para o mês de maio. A estimativa para abril foi cumprida, ficando a inflação nos 8,8%. Em dezembro era superior a 25% e com uma tendência claramente ascendente.
Foi realmente a principal bandeira de campanha do libertário, que está assim a cumprir a sua promessa de eliminar a inflação, chegando a apresentar uma medida que levará o presidente da nação e o presidente do BCRA à prisão caso ordenem a impressão de dinheiro. Para Milei –inspirado por Milton Friedman – «a inflação é sempre e em todo lugar um fenómeno monetário».
É também merecedor de destaque o aumento significativo de moeda estrangeira nas arcas do BCRA. Segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional, os cofres do banco argentino contam com um saldo líquido positivo de 552 milhões de dólares quando são tidos em conta os títulos BOPREAL e os passivos de depósitos de Treasury.
Também há cerca de dois meses, e como noticiou o Nascer do SOL, Milei tinha anunciado o primeiro excedente orçamental do país dos últimos dezasseis anos. O superávit do primeiro trimestre 2024 foi de 0,2% do PIB.
É certo que medidas económicas deste cariz, principalmente num período economicamente catastrófico e socialmente débil, encontram resistência. A austeridade e o ajuste no despesismo dos anteriores governos prejudicam, a curto prazo, algumas camadas sociais, mas, e segundo os dados, há razões para que os argentinos acreditem no progresso económico.
Prevê-se um país mais livre e mais próspero, que atrai investimento direto estrangeiro e beneficia o país como um todo.
Política externa
A chegada de uma figura fraturante e controversa à Casa Rosada marcou um ponto de viragem na diplomacia de Buenos Aires. Ainda antes das eleições, Javier Milei, um fervoroso anticomunista, prometeu romper a ligação com regimes como o chinês, russo ou até o brasileiro. O atrito com Espanha também era de fácil previsão, uma vez que o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, apoiou abertamente a candidatura de Sergio Massa – à época ministro da Economia. Esta erosão diplomática culminou no passado domingo numa visita do Presidente argentino a Madrid, com finalidade de participar no Congresso das direitas europeias organizados pelo Vox – partido da oposição mais fervorosa em Espanha.
Tanto Milei quanto o Governo de Sánchez esqueceram e ignoraram um dos grandes princípios que deve pautar o normal funcionamento das relações internacionais e diplomáticas, principalmente quando se trata de países irmãos: a prudência. As divergências ideológicas são mais que evidentes, mas ataques pessoais não são desejáveis, muito menos ao mais alto nível.
É certo que Milei, enquanto chefe de Estado, deveria ter sido prudente nas declarações proferidas contra a esposa de Sánchez, investigada por corrupção. Mas, e utilizando uma expressão de António Guterres, esta atitude «não acontece num vácuo». Além de classificar Milei como «ultradireitista», de apoiar Massa e não se apresentar (nem qualquer membro do Governo) à tomada de posse do presidente argentino, Sánchez ainda tem um ministro que acusa Milei de ingerir substâncias ilícitas.
Após o Presidente argentino chamar corrupta a Begoña Gomez, o executivo espanhol decidiu ripostar de forma imediata, exigindo um pedido de desculpas e chamando a embaixadora de Buenos Aires – algo que feito através de uma declaração em conferência de imprensa é pouco ortodoxo. Com isto, os governos irmãos declararam abertamente uma guerra fratricida com base em preconceitos ideológicos.
Como definiu de forma clara o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel García-Margallo, numa coluna recente do El Mundo: «A diplomacia não é um jogo de crianças».
O problema no Supremo
Milei nomeou para juíz do Supremo Tribunal Ariel Lijó, e considera-se que tenha sido un tiro no pé. Maria Eugenia Talerico, ex vice-presidente da Unidade de Informação Financeira, diz ao Nascer do SOL que Lijó «tem muito má reputação» e que a sua nomeação é «um sinal muito mau em matéria de luta contra a corrupção».