Taça de Portugal. A bolha rebentou com lágrimas de crocodilo

A época acabou no deprimente futebol português com cenas deprimentes de violência gratuita e com a insistência de um presidente e de um ex-presidente em quererem ocupar os lugares da ribalta.

Para um futebol deprimente, um final de época deprimente no Jamor. Cenas tristes de violência gratuita, cargas policiais, balas para o ar como se continuássemos a viver a Oeste de Pecos sob a lei do juiz Roy Bean. Há que convir que era de esperar quando, sem tino nem preceito, o presidente do Sporting resolveu irromper por uma festa de comemoração do título de campeão (justíssimo) do seu clube com aquela frase bacoca: “Agora não queremos vencê-los, vamos é rebentar com eles!”. Uma farronca ridícula que tinha, como teve, tudo para dar mal. A final do arrebenta foi uma bolha que ele encheu e lhe rebentou nas mãos porque não existe adversário que não se motive perante tal exibição de desprezo. Perdeu o Sporting, e pelos vistos bem, ganhou o FC Porto que com a conquista da Taça de Portugal salvou a época e pôde fazer, por sua vez, a sua festa nos Aliados, com um toquezinho de exagero já que, vendo bem, dentro de tanta mediocridade também… só ganhou a Taça.

Deprimente também a despedida do Dinossauro Excelentíssimo que é o ex-presidente portista, uma figura que durante quarenta anos sarrazinou a nossa paciência mais do que Catilina azucrinou a de Cícero, ao ponto de este bradar em pleno senado: “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” Até quando continuará ele, decrépito, a abusar da nossa boa vontade? As imagens ficaram aí, para sempre, demonstrando a fraqueza de um homem que nunca ultrapassou a sua própria vulgaridade, chorando lágrimas de crocodilo. Não, quem o conhece de tantas batalhas como eu, sabe que aquilo de emoção nada tem. É teatro puro e duro, tão mal encenado como a horrível forma como teimou sempre em recitar o Cântico Negro do Régio com versos trocados a torto e a direito como se alguma vez os tivesse sabido de cor. Proibido de aparecer no Estádio Nacional por ter sido condenado num processo disciplinar da Liga sob a acusação de “lesão da honra e da reputação e denúncia caluniosa” de um árbitro, valeu-lhe a solidariedade de um antigo colega de direcção no FC Porto, e agora presidente da FPF, para arranjar lugar na tribuna presidencial, lugar esse, acrescente-se, bem mais honroso do que o que foi atribuído ao novo presidente eleito do clube. Seria de ofender qualquer um, mas não Villas-Boas, que se precipitou na corrida ao beija-mão desse extraordinário mamífero que se preserva chorando como uma criança com pena de si próprio a sua queda tão estrepitosa como inevitável. Deprimente, claro! É assim o nosso futebolzinho rasteiro que dá, para que todos respiremos um pouco de ar puro, agora lugar ao Campeonato da Europa, mesmo sabendo que a nossa imprensa continuará a encher primeira páginas com mirabolantes contratações, tantas delas inventadas por agentes sem escrúpulos e alimentadas por jornalistas de pacotilha.

O que vem aí. Depois de um campeonato praticamente sem história, que o Sporting dominou a seu bel-prazer, deixando um Benfica ridículo a dez pontos de distância, veremos como se regem as leis do mercado. Mais estável, menos dependente das injecções monetárias, cada vez mais distante das pressões de uma claque que assinou a sua sentença de morte no dia em que foi instigada a invadir Alcochete e espancar os seus próprios jogadores, os leões parecem estar aptos para conservarem não apenas Rúben Amorim, nesta altura o melhor treinador português, muito provavelmente, como também fazerem um esforço para não deixarem voar Gyökeres (de longe o melhor jogador do campeonato). Essa tranquilidade é o seu ponto forte perante dois adversários perdidos no tempo e no espaço e incapazes, pelos vistos, de compreenderem onde residem as suas maiores fraquezas. Se o FC Porto tem, para já, a liderança na corda bamba – domingo, o novo presidente demonstrou que continua demasiado apegado ao velho, tal como acontece com Sérgio Conceição -, o Benfica é um barco à deriva que, à primeira vista, vai voltar a trocar uma equipa inteira por outra, insistindo num treinador que já deixou claras as tremendas insuficiências que tolhem todas as suas reacções e atitudes, tanto no comando dos jogadores como na sua relação com os adeptos, directamente ou através da comunicação social. Chega ao fim desta época tão, tão fragilizado que ao primeiro resultado negativo da próxima fará estremecer todos os alicerces do clube e acabará, segundo todos os indicadores, por ter um futuro muito curto. Mas o presidente Rui Costa deu-lhe vida e autoridade. Agora, Roger Schmidt é irremovível. Logo veremos se continuará a desperdiçar os jogadores que lhe põem nas mãos.