Recordar Adriano Moreira

Tive muita pena quando ele morreu e admiro muito a filha, Isabel Moreira, que tem feito um grande trabalho como deputada do PS na Assembleia da República.

Querida avó,

Estou mesmo feliz por a exposição que celebra os teus 45 anos de obra literária estar patente no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira, em Bragança.    

Julgo que esta é uma belíssima oportunidade para recordarmos Adriano Moreira. Natural de Grijó, concelho de Macedo de Cavaleiros, Distrito de Bragança, foi o político com a maior longevidade da história democrática portuguesa. Entre as diversas atividades que desempenhou, foi ministro do Ultramar (ainda no período da ditadura), já em democracia foi presidente do CDS e antigo conselheiro de estado.

Adriano Moreira foi reconhecido como uma das grandes figuras do Nordeste Transmontano. Foi mal-amado, tanto pelo Estado Novo, como pelo início da democracia. Transversal a várias gerações, morreu aos 100 anos e deixou-nos um grande legado democrático.

Tive o privilégio de jantar com ele algumas vezes no “Nobre”. Justa Nobre, também transmontana, é embaixadora do butelo e das casulas. Justa tenta sempre elevar os produtos transmontanos e dá-los a conhecer a toda a gente. Como tal, anualmente, dedica alguns dias a confecionar esta iguaria transmontana no seu restaurante, em Lisboa. Foi em alguns destes jantares que tive o privilégio de conviver com Adriano Moreira.

Gostei muito destes dias que passamos em Bragança.

Verdade seja dita, Bragança é daqueles lugares imperdíveis que se vai adiando a sua visita com a desculpa da distância. Do longe se faz perto e nada como descobrir o nosso património.

Tenho que te levar à Justa quando voltar a existir O Butelo (um enchido de porco, recheado de ossos, cartilagem e alguma carne) e as Casulas (um feijão que se colhe ainda na vagem quando o grão está bem formado, mas ainda não seco).

Podemos convidar a Isabel Moreira e assim recordamos o pai e o transmontano. Que te parece?

Bjs

Querido neto,

Que bom que foram estes dias que passámos em Bragança.   

Estou muito feliz por a minha exposição estar em Trás-os-Montes, num local tão especial.            

Uma semana antes já não se falava de outra coisa. Tudo porque a minha tia Aurora – com os seus extraordinários 96 anos – sabe sempre tudo o que se passa em Bragança. Nasceu lá mas há anos que lá não vai. Só que os parentes e amigos que lá vivem telefonam-lhe sempre a contar tudo o que lá se passa. (Um parêntesis que não tem rigorosamente nada a ver com isto. O meu filho, quando era pequeno, gostava muito de escrever histórias, mas ainda sabia escrever muito mal. Lembro-me sempre de uma história em que o príncipe ia ao palácio da princesa ver “ucláçpaçava”… Lembro-me sempre disso quando escrevo uma frase semelhante).

Adiante.

Tomei nota de tudo o que me disse e prometi contar-lhe tudo quando chegasse – incluindo os recados que os amigos e familiares me vão dar para ela.

E já agora quem também era de Bragança era um grande amigo meu, o Prof. Adriano Moreira, que morreu há dois anos, aos cem anos de idade. Conversávamos muito e um dia, à saída de uma conferência que ele tinha feito, já não me lembro onde, eu disse-lhe: «quando eu andava na Faculdade e o senhor era ministro, todas nós estávamos apaixonadas por si!». Ele riu-se e só disse: «eu sabia!»

Tive muita pena quando ele morreu e admiro muito a filha, Isabel Moreira, que tem feito um grande trabalho como deputada do PS na Assembleia da República.

E já que falámos em Bragança, termino com uma frase que por lá se diz muito: «quem é de cá, tarde ou cedo volta para cá!»

Aguardo pelo teu convite para me deliciar com o Butelo e as Casulas. Graças a ti, nestes dias deliciei-me também com ”sus scrofa”, que nem sabia o que era.

Bjs