A Europa das cidades

A verdade é que a invasão russa da Ucrânia veio agravar os sintomas de uma doença há muito anunciada: a perda de centralidade do bloco europeu.

As próximas eleições europeias ocorrem num momento crítico, em que a Europa, numa encruzilhada, está a redefinir o seu papel no mundo e a enfrentar desafios internos significativos. O resultado poderá moldar a política europeia por anos, influenciando a direção económica, social e política do continente e do mundo. É essencial que os cidadãos estejam informados e participem ativamente neste processo democrático para construir uma Europa que reflita os nossos valores e aspirações coletivas. 

A ascensão preocupante do nacionalismo e do extremismo político em vários Estados-membros tem desafiado a coesão e a visão tradicional de uma Europa verdadeiramente unida e solidária. Esta revisitação da história não surgiu do nada. Uma Europa envelhecida, cada vez menos produtiva, rodeada fronteiras pobres e perigosas, foi gradualmente substituindo a esperança pelo medo e pela insegurança quanto ao futuro. Pela primeira vez na história, os europeus não acreditam que possam viver melhor do que os seus pais. Reformar o projeto europeu é prioritário. E isso passa, também, pelo alargamento à Ucrânia e a todas as nações do continente que partilhem o desejo de paz, solidariedade e progresso. 

O mundo precisa de uma Europa forte no plano diplomático e económico. A verdade é que a invasão russa da Ucrânia veio agravar os sintomas de uma doença há muito anunciada: a perda de centralidade do bloco europeu. Apesar dos muitos milhares de milhões de euros para planos de transição energética e combate às alterações climáticas, sem cadeias de valor nas tecnologias verdes e sem recursos minerais decisivos para a nova economia verde, o tecido industrial europeu substituiu a dependência russa pela dependência chinesa, e continua à procura de um caminho de competitividade que permita manter a ideia de progresso coletivo e individual. Estas questões estão na base dos desafios sociais que hoje enfrentamos, como a gestão da imigração, o envelhecimento da população e as tensões sociais resultantes das desigualdades económicas. A pressão sobre os sistemas de saúde e bem-estar social, muito acentuada também com a pandemia e a revolução digital que está a transformar o mercado de trabalho, contribui para acentuar a desigualdade entre aqueles que têm acesso às novas oportunidades e aqueles que não as têm.

Parte da resposta à nossa crise atual está nas autarquias. As cidades estão mais próximas dos cidadãos e são mais escrutinadas. A democracia constrói-se no dia a dia. As cidades podem desenvolver políticas de integração que promovam a inclusão de migrantes e refugiados, com programas de aprendizagem da língua local, acesso a serviços de saúde, educação e emprego, bem como ações para combater a discriminação e promover a diversidade cultural. São espaços para diálogo intercultural. A participação ativa dos cidadãos fortalece a coesão social e a identidade europeia. As cidades estão também na liderança do desenvolvimento sustentável, adotando políticas ambientais, investindo em transporte público, áreas verdes, eficiência energética e redução da poluição, contribuindo assim para os objetivos globais da UE.

As cidades são também centros de inovação, pesquisa e empreendedorismo. São o motor do desenvolvimento económico das nações. Têm a capacidade de atrair talentos, criar empregos e impulsionar a economia, o que contribui para o crescimento europeu. A diversidade cultural, história e património das cidades europeias promovem a compreensão mútua, o diálogo intercultural e a preservação das tradições europeias. 

As eleições europeias são um momento crucial para os cidadãos expressarem as suas opiniões sobre o futuro da Europa. 

Precisamos de voltar a sonhar como sonharam Monnet e Schuman, Kohl e Mitterrand. E se a Europa das Nações não é capaz de seguir esse sonho, trancada que está nos interesses egoístas e na tática política, então que essa Europa seja construída a partir das cidades. Com o espírito de liberdade de Londres e o vanguardismo de Paris, a história de Roma e os valores de Atenas, o universalismo de Lisboa e o humanismo de Cascais. 

Que no próximo dia 9 de junho, cada um de nós vote pela oportunidade para moldar o futuro da UE.