Instalaram-se em Portugal autênticas barreiras à liberdade de expressão, escrita ou oral. Por outras palavras, e para chamarmos as coisas pelo nome, censura – por vezes insidiosa, outras aberta – contra tudo o que extravase o ‘politicamente correcto’ estabelecido pela esquerda, e que leva atrás de si todos aqueles, mesmo nem sempre convictos, que respeitam a nova ortodoxia – por ideologia ou conveniência pessoal ou simples comodismo.
O vírus do woke já cá chegou e espraia-se por jornais, televisões e pela cultura em geral. Ora uma liberdade vigiada e cerceada não é Liberdade, uma palavra que anda sempre na boca de todos mas que, na realidade, só é liberdade para a ortodoxia ditada pela esquerda – não só pela radical. É tempo de nos revoltarmos contra esta espécie de polícia do pensamento. Poucos concordam; preferem ficar caladinhos, não vá o diabo tecê-las.
Há dias, no Parlamento, André Ventura, a cujos disparates já estamos acostumados, disse a meio de um discurso que os turcos não eram muito adeptos de trabalhar (cito de cor). Caiu o Carmo e a Trindade! O presidente da Assembleia da República, Dr. Aguiar-Branco, perante o tumulto ou protestos que se levantaram, declarou que os deputados gozavam de imunidade e eram livres de dizer o que quisessem; era este o seu entendimento do Regimento. E sejamos sérios: a nação turca sentiu-se ofendida? O governo turco chamou o seu embaixador em Lisboa a Ancara? A frase proferida por André Ventura era perfeitamente inócua. Porém, o assunto não morreu logo ali. O presidente Dr. Aguiar-Branco sentiu-se obrigado a uma ligeira revisão do Regimento que restringe a sua capacidade para interromper ou advertir um deputado que a esquerda do Parlamento ache desbocado.
Há dias atrás, foi noticiado que uma criança nepalesa de nove anos tinha sido barbaramente agredida na escola. Levantou-se na comunicação social e imagino que nas redes sociais – que não frequento – um clamor de indignação. Não apenas por se tratar de uma criança tão novinha, mas sobretudo porque se tratava de uma nepalesa. Por isso o caso foi interpretado como uma selvajaria racista. Dois ou três dias depois, confirmou-se que era uma notícia falsa: não havia criança nepalesa nem tinha havido espancamento (Rui Ramos). O assunto perdeu de imediato interesse, e a verdadeira versão dos acontecimentos (?) não foi além de fugazes rodapés nos meios de comunicação social. Talvez tenha existido a criança agredida, mas muito possivelmente descobriram que não era nepalesa. Logo o assunto morreu.
O PREC, de má memória, deu-nos a antever o que seriam a Liberdade e a Democracia nesta potencial Cuba encravada na Europa com que os comunistas portugueses sonhavam. (Não Moscovo, que só estava interessado em Angola). Recordo-me perfeitamente do tempo em que o nosso tão idolatrado José Saramago foi Director do Diário de Notícias. Mal tomou posse, tratou de sanear uns quantos jornalistas, e fez do jornal centenário uma espécie de Avante! com mais páginas e maior circulação. Quando lhe chamaram à atenção para que estava a comportar-se como um censor de antigo regime, respondeu, plácida e altivamente, que não era um jornalista mas sim um revolucionário (cito de cor, mas fielmente).
Já nessa altura, era eu jovem e razoavelmente estouvada, me tinha dado conta nas lides académicas do conceito de Liberdade dos comunistas. Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que eu na altura frequentava, os comunistas tentavam esforçadamente controlar a Associação Académica. Não conseguiram, para o que dei um contributo apreciável de que ainda hoje muito me orgulho. Conhecendo já muito bem o PC, a atitude de José Saramago pouco ou nada me espantou.
Quando hoje em dia e desde há décadas oiço o PCP falar de Democracia e Liberdade, farto-me de rir. Tanta hipocrisia! Caído o muro de Berlim e desagregada a União Soviética, os comunistas continuam agarrados ao mito leninista e estalinista, agora incarnado no ‘Putinismo’, um dos regimes mais cruelmente repressivos desde os tempos de Estaline.
Felizmente ainda estamos longíssimo dos crimes desta novíssima autocracia, que mantém quase toda a gente caladinha. Mas tenho saudades dos tempos em que escrevia livremente, o que hoje em dia já não é o caso.
O melhor é estarmos caladinhos.