Há, na minha opinião, um modo de anunciar posições políticas que se tem generalizado no mundo ocidental e ao qual um grupo alargado de políticos aderiu. Em tempo de campanha promete-se quase tudo. Enquanto poder, o autoelogio em versão Pinky Politics é uma constante diária, usada e abusada na relação com os órgãos de comunicação social e, quando na oposição a versão Dark Side surge na constante reclamação e crítica porque, nada do que os adversários fazem é válido ou bem feito.
A verdade é que na sociedade contemporânea, onde o cidadão tem pouco tempo para pensar e refletir, este modelo gera resultados eleitorais. Considero esta a política, oportunista e incoerente. Não passa da gestão dos sound bytes do quotidiano. Todos os dias há um novo, sem que o anterior tenha sido resolvido.
Esta nota introdutória surge na sequência do «compromisso inabalável em apoiar a Ucrânia» anunciado pelo Governo português durante a visita de Zelensky. O observador pouco atento pode até pensar que Portugal vai apoiar além da simpática e simbólica ‘palmadinha nas costas’ que o Presidente da República reservou ao Presidente ucraniano. Costumo chamar a atenção para o tríptico de apoios à causa ucraniana: 1. Apoio político; 2. Apoio financeiro; 3. Apoio militar.
Em Portugal o apoio político tem estado indubitavelmente presente na forma como tanto os governantes como a generalidade dos cidadãos se solidarizou com o povo e com a causa ucraniana. Esse parece-me inabalável. Mas também é verdade que esse apoio, é o apoio de sofá em frente à televisão – de pouco serve. O apoio financeiro à Ucrânia tem sido, maioritariamente, originário dos USA o qual parece estar cada vez mais comprometido. Os USA têm várias frentes onde do ponto de vista da defesa necessitam apresentar-se robustos. As mais importantes são Israel e Taiwan, e por sentir que os USA estão a afastar-se da intensidade do apoio prometido no início do conflito, em fevereiro de 2022, a Ucrânia tenta agora convencer os países europeus, aliados mais próximos, mas menos preparados do ponto de vista militar e financeiro, a apoiarem a defesa da Ucrânia ao ataque da Federação Russa. Portugal encontra-se nesse grupo. O desespero de Zelensky é tão grande que ele é ilusoriamente levado a ignorar que Portugal não tem condições económicas para modernizar as forças militarizadas, que Portugal não gera riqueza, e que a defesa portuguesa depende essencialmente do enquadramento NATO. Ou seja, para além do apoio político da simpática e inabalável ‘palmadinha nas costas’ pouco mais há, de credível, sustentável e valioso, que Portugal possa entregar à Ucrânia.
A propósito de mais essa enormíssima fragilidade portuguesa, no que à defesa diz respeito, é imprescindível ouvir os militares e entender que a nossa gigantesca área marítima nos obriga a investir de forma robusta em tecnologia e recursos humanos na Armada Portuguesa. Portugal é dos maiores países da Europa quando a Zona Económica Marítima é levada em linha de conta. A defesa desse espaço marítimo deveria constituir um dos principais desígnios na estratégia de defesa Portuguesas dentro do âmbito NATO.
Se ouvirmos com mais atenção o Chefe de Estado Maior da Armada, o almirante Gouveia e Melo, entenderemos o quanto mais concentrados deveríamos estar, enquanto nação, na defesa inabalável deste desígnio.
Até lá contentemo-nos com o sound byte do ‘compromisso inabalável de apoio à Ucrânia’ e à qualquer coisa que isso possa significar.
Muito pouco ou quase nada certamente…