Uma professora levou com um processo disciplinar por ter referido a nacionalidade de uma aluna, com o objetivo de proteger e obter recursos para que essa mesma aluna fosse apoiada. Dito de outra forma, uma professora está a contas com a justiça escolar por ter tentado ser professora.
Eis uma nova definição de ofensa e delito.
Dias antes, o Centro Padre Alves Correia, instituição de apoio a imigrantes vulneráveis, denunciou que um aluno nepalês foi vítima de violência física e verbal. E, de seguida, tanto o Ministério da Educação, como a PSP e os media, se referiram ao caso – que, afinal, parece que nunca chegou a existir – como o do aluno nepalês. Ou seja, referiram a nacionalidade e ninguém lhes colocou um processo. Além disso, todos os dias ouvimos referências às nacionalidades das pessoas que habitam este planeta: futebolistas brasileiros, cozinheiros franceses, estilistas italianos, hooligans ingleses, cientistas americanos, gentlemen chineses, etc. Então, parece que mencionar a nacionalidade de algum ser humano, por boas ou más razões, é aceite como de forma legítima de identificar um indivíduo.
Como tal, se toda a gente pode identificar a nacionalidade de um ser humano porque motivo aquela professora não o pôde fazer?
Parece só haver uma explicação: o país em causa deve ser tão mau, devem haver tantas violações dos direitos humanos, tantas vergonhas e misérias, que faz sentido impedir a divulgação da nacionalidade para proteger a pobre aluna.
Na verdade, já me aconteceu algo semelhante num voo para Nova Iorque na British Airways. O avião ia lotado de portugueses e calhou que os senhores que estavam perto do meu assento fossem a viagem toda a falar aos berros e a dizer palavrões. Talvez fosse a primeira vez que viajavam de avião. Ou talvez pensassem que aquilo era uma tasca com asas. Seja como for, como não digo palavrões em público, nem gosto de os ouvir, quando a hospedeira me abordou para servir uma refeição respondi-lhe em inglês. Tenho muito orgulho em ser português, mas, naquele momento, não quis que me associassem àqueles cavalheiros.
De facto, há muitos portugueses que não merecem o título. Por exemplo, José Sócrates e Ricardo Salgado poderiam ser considerados marcianos. Creio que até os próprios ficariam contentes porque não param de se queixar da Justiça portuguesa.
Voltando à professora e à menção da nacionalidade, parece-me agora justo que ela seja condenada. Porém, quem lhe colocou o processo, caso também tenha referido a nacionalidade da acusada, então também deverá ser condenado. Conforme as circunstâncias, ser português pode ser uma honra ou uma vergonha.