Vem do norte da Europa, da Escandinávia (ou mais cientificamente da Fino-Escandinávia), o primeiro adversário escolhido pelos responsáveis pela Seleção Nacional que servirá de teste no caminho da fase final do Campeonato da Europa. A Finlândia, que não conseguiu o apuramento, virá assim a modos com as mãos a abanar, sendo que qualquer resultado que não seja uma goleada dolorosa servirá as suas pretensões.Não vejo nos adversários que nos tocaram no Grupo F – República Checa,Turquia e Geórgia –, nenhum que tenha um futebol equivalente ao que os finlandeses praticam, pelo que é de supor que a primeira opção do treinador Roberto Martinez seja a de olhar para dentro mais do que para o futuro próximo. Com Ronaldo ainda de férias, tão recentemente terminou a época na Arábia Saudita, voltaremos, com certeza à improfícua (neste momento) discussão em relação ao que vale Portugal com ou sem Cristiano. Martinez deposita confiança total no seu capitão e não restarão dúvidas de que vá ser titular nos encontros a doer. Por outro lado, os geralmente latagões finlandeses, que durante anos a fio foram considerados mais trapalhões do que latagões, evoluíram o suficiente para que seja possível contar com dificuldades. Lá está: sem preocupações, um homem tanto se dá ao desleixo como à protérvia. E, assim sendo, a balança pode tombar para qualquer dos lados. Embora também seja de assinalar que esta gente do norte é mais conhecida por ter sangue fervente nas veias do que propriamente água quente, apesar do vício que alimentam de passarem horas a derreter nas suas saunas.
Recordações e dúvidas.
Em dez jogos até agora disputados frente aos finlandeses só por uma vez Portugal perdeu e de que maneira. No Porto, no dia 27 de Março de 2002, com António Oliveira como selecionador e com Sérgio Conceição a marcar o único golo lusitano na goleada por 1-4. Perdeu a partida, fez tremer a confiança dos adeptos, que estava então em alta, e perdeu Simão, lesionado, para a fase final do Mundial da Coreia do Sul/Japão.
De certa forma, esse jogo foi um aviso e, agora, a poucas horas de novo embate frente aos finlandeses, avisado está o selecionador nacional. O que se passou a seguir é por demais conhecido: Portugal partiu eufórico para o Oriente, fez um estágio em Macau a suar em bica de tanta humidade (pois então, parecia uma sauna, e eu posso testemunhá-lo) e foi desastroso nos jogos contra Estados Unidos e Coreia do Sul, duas derrotas que nos fizeram voltar a casa pela porta do cavalo. António Oliveira perdeu a confiança da direção da Federação e viria a ser substituído, primeiro interinamente por Agostinho Oliveira, depois oficialmente por Luiz Felipe Scolari.
Recordações, apenas recordações, comentarão alguns leitores e com toda a razão. Mas também é de afirmar que apesar de valerem o que valem estes jogos preparatórios a poucos dias do início do Europeu (dia 18, em Leipzig, face aos checos) deixam, por vezes, as suas marcas. Tanto psicológicas como físicas. Se o embate contra a Croácia (no dia 8) nos põe em pé de igualdade com outro dos finalistas doEuro, o último dos três desafios, contra a Irlanda (dia 11) nos volta a pôr de pulga atrás da orelha. Manda dizer a consciência que quem nada tem a perder pode ter muito a ganhar. Veremos, por isso, já daqui a pouco, que tipo de desajeitados vêm lá desse país – o menos povoado da União Europeia, com 15 habitantes por quilómetro quadrado – e que problemas colocarão à Equipa-de-Todos-Nós, como lhe chamou em tempos de antanho o grande Ricardo Ornellas.
No lado oposto ao das recordações fica o da realidade das dúvidas que ainda existirão na cabeça de Roberto Martinez. No fundo, sairá destes três jogos, a ideia de um onze inicial para estrear na competição à séria. Provavelmente, as maiores dúvidas assentarão na defesa já que Pepe, um dos capitães de equipa e habitualmente firme nas escolhas, há muito que está sem competição. Claro que este período que medeia até ao confronto de Leipzig serve precisamente para tratar das mazelas e das deficiências de forma de vários jogadores e Portugal tem, para já, alguns bem periclitantes, como diria a fantástica personagem do sr. Seixas, n’O Pai Tirano de António Lopes Ribeiro – “Oh inclemência! Oh martírio! Estará porventura periclitante a saúde desse nobre e querido menino que eu ajudei a criar?”
O último jogo disputado por Portugal, na Eslovénia, mostrou uma face até então não revelada de uma equipa que somou por vitórias todos os encontros da fase de apuramento. Derrota por 0-2 e uma exibição pobrezinha de valha-nos Deus. Oonze que entrou em campo marcou, no entanto, a habitual filosofia de Martinez.Ora veja-se: Diogo Costa; Pepe, Danilo e Gonçalo Inácio; Diogo Dalot, Ruben Neves, Vitinha e João Cancelo; Otávio, João Félix e Cristiano Ronaldo. É previsível que a defesa não volte a jogar com os elementos então utilizados pois há Ruben Dias eAntónio Silva à espera. Mas se o primeiro chega a esta fase da época com o moral em alta pela conquista de mais uma Premier League, o segundo fez um ano mais periclitante do que o rico menino do sr. Seixas tantos foram os deslizes cometidos e sobretudo comprometedores para a sua equipa o que o terá feito desvalorizar bruscamente no mercado internacional. Depois, se de defesas laterais está Portugal bem fornecido – veremos como reaparece Nuno Mendes depois dos problemas que teve num joelho -, o meio-campo abunda de escolhas. Todavia, há aqueles habitualmente incontornáveis como BrunoFernandes e Bernardo Silva. Têm sido, já desde o tempo de Fernando Santos, opções de primeira linha e parecem ser jogadores que Roberto Martinez não dispensará. Fica por ali, meio tremido, o lugar a que costumamos chamar de trinco e que, numa equipa de tanta intenção ofensiva, exige um jogador de capacidade física fundamental para jogar não apenas no sentido vertical como também de lado a lado do relvado. Com esta descrição há um nome que vem logo ao pensamento: Palhinha. Na opinião deste que se assina o mais completo de todos para a posição. Mas, vendo bem, escrevo no ar. Quem sabe o que vai na cabeça do selecionador? Ou apostar já numa estrutura de eventuais titulares, ou aproveitar para ver outras soluções? A escolha é dele. E até agora não há muito a dizer das suas escolhas. Vejam-se os resultados.