Inquérito. O que dizem os candidatos

Questionámos os candidatos com assento parlamentar para saber o que acham do futuro da Europa, como pode ser agilizado o trabalho no Parlamento Europeu, as apostas que devem ser tomadas e como podem ser defendidos os interesses portugueses perante gigantes europeus. 

Perguntas

1 A UE deve preparar-se para uma eventual guerra na Europa, nomeadamente através da constituição de um exército europeu?

2 O Almirante Gouveia e Melo defendeu que a tropa portuguesa se deve preparar para combater num eventual conflito europeu. Pertencendo Portugal à NATO não acha que isso é inevitável?

3 Qual acha que deve ser a posição da Europa em relação a Israel? Pensa que Portugal deve respeitar a decisão do TPI em relação aos ‘atores políticos’ considerados responsáveis por crimes de guerra?

4 É possível defender realmente os interesses de um país pequeno como Portugal perante gigantes como a França e a Alemanha?

5 A burocracia de Bruxelas não pode ser exasperante?

6 Sente que há muito desperdício de dinheiro em Bruxelas?

7 Com que regularidade pensa viajar para Portugal?

8 Quais foram, no seu entender, os maiores erros cometidos pela UE no último mandato? E quais as maiores conquistas?

Sebastião Bugalho
AD

1
Em 2017, os dirigentes da UE lançaram a Cooperação Estruturada Permanente (CEP ou PESC na sigla em inglês), a fim de reforçar a segurança e defesa da Europa. Portugal é seu fundador desde 2017 e ainda bem. A Política de Defesa e Segurança Comum não substitui o pilar atlântico, nem a autonomia das Forças Armadas mas visa complementar ambas na formação, na aquisição, na inovação e, a nível europeu, na reindustrialização. A agressão russa à Ucrânia veio despertar a Europa para duas necessidades já antigas: a primeira é a necessidade de Forças Armadas capacitadas de todos os Estados-membros, nas fronteiras do continente, a segunda é o aprofundamento da Política Externa e de Segurança Comum. Pretendemos ser uma voz ativa em ambas no decorrer deste novo mandato. Num mundo em guerra, a Europa tem de ser um continente de paz. E Portugal tem um papel a desempenhar nesse objetivo.

2
Sendo Portugal um membro fundador da NATO, estará sempre envolvido nas decisões a tomar por aquela instituição e cumprirá com as suas obrigações. É preciso não esquecer que é a Rússia que está em guerra com a Europa e não é a Europa que está em guerra com a Rússia. Entendemos que a Europa deve ser um continente de paz, e travaremos todos os esforços para que assim permaneça.

3
O Governo português já deixou bem claro que apoia todas as iniciativas que acelerem a solução de dois Estados e defende um cessar-fogo imediato e permanente. Quanto ao reconhecimento formal do Estado da Palestina, trabalharemos para que aconteça num âmbito multilateral: no seio da União Europeia e nas Nações Unidas.

4
A nossa campanha é bem clara: queremos ser a voz de Portugal na Europa, não é à toa que dizemos que queremos Portugal Forte na Europa para uma Europa Forte no Mundo. E seremos uma voz que não se vai apoquentar com a dimensão de qualquer país. Estaremos nos próximos anos no Parlamento Europeu a defender, de forma intransigente, os interesses de Portugal.

5
Esse é um problema que não se restringe a Bruxelas, na verdade. Mas, e ao longo da campanha, tenho ouvido os empresários dizerem que, muitas vezes, as regras europeias complicam demasiado em coisas que poderiam ser simples. E isso é verdade. Queremos ajudar os empresários e a economia a crescer com essa simplificação amiga do utilizador e amiga do empresário, pelo que nos comprometemos com a agenda Legislar Menos, Legislar Melhor, uma estratégia de combate à burocracia. E com a Reforma Regulatória e Princípio 1 Entrada, 2 Saídas, que introduz um princípio de redução da carga regulatória em que, para cada nova regulamentação introduzida, duas antigas devem ser eliminadas.

6
Não acredito que haja um desperdício de dinheiro, no entanto haverá certamente a possibilidade de utilização dessas verbas de forma mais eficiente. É por isso que defendemos que seja atribuído a um Comissário Europeu específico a pasta das PME e da redução da burocracia para promover uma utilização mais eficiente dos fundos da EU.

7
Não lhe sei responder, vai depender muito do volume de trabalho que tivermos pela frente.

8
Apesar de não ser perfeito, o Pacto da União Europeia sobre Migração e Asilo é uma das boas medidas tomadas pela EU, já que tem a virtude de fixar regras que retiram poder às redes de tráfico de pessoas. No entanto, queríamos que fosse mais longe, nomeadamente reforçando os canais de migração legal além da diretiva ‘Blue Card’. E um dos textos mais importantes do mandato passado foi a aprovação da Lei Europeia do Clima, a primeira deste tipo no mundo. Foi com ela que fixámos o objetivo de sermos, enquanto União, o primeiro bloco económico a atingir a neutralidade carbónica. Somos a favor da descarbonização e, ao mesmo tempo, contra a desindustrialização. Votámos a favor da quase totalidade das propostas do Pacto Ecológico Europeu, rejeitando apenas as mais radicalmente contra a economia, que aumentavam os riscos de incêndio ou que acabavam por prejudicar consumidores, agricultores e pescadores, acabando por não beneficiar o ambiente.

João Oliveira
CDU

1
A paz não resultará da escalada armamentista que assegura fabulosos lucros aos grupos do armamento, à custa da contenção dos salários e das reformas e do investimento nos serviços públicos, como na saúde, na habitação. Como sempre defendemos, os EUA, a NATO e a UE devem abrir vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando alcançar uma solução política para o conflito na Ucrânia, a resposta aos problemas de segurança coletiva e do desarmamento na Europa, o cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia – é este o caminho para a paz.

2
Não só é evitável, como é imperioso travar a insana corrida belicista para o abismo, para onde querem empurrar o povo português. Os 32 países da NATO gastam mais em despesas militares que todos os outros 161 países do mundo juntos. A Revolução de Abril pôs fim à guerra colonial, consagrando a solução pacífica dos conflitos internacionais, o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança coletiva, como princípios constitucionais. Os nossos filhos e netos não têm que ir morrer para onde a NATO quiser.

3
É urgente um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza, a ajuda humanitária à população palestiniana, assim como a criação do Estado da Palestina, com as fronteiras de 1967 e capital em Jerusalém Oriental, e a efetivação do direito ao retorno dos refugiados palestinianos conforme as resoluções da ONU. A UE deve deixar de ser cúmplice da violação do direito internacional por parte de Israel, suspendendo o Acordo de Associação com Israel, instando os países que a integram a que não exportem armas para o genocídio do povo palestiniano e a que reconheçam o Estado da Palestina.

4
É. Portugal é uma República soberana, que se rege pelos princípios da independência nacional e da igualdade entre os Estados. Bastaria o respeito deste princípio constitucional para assegurar uma política que efetivamente defendesse os interesses nacionais, perante as ambições de domínio das grandes potências e das multinacionais. Defendemos uma Europa de cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos.

5
A transferência de competências do plano nacional para a UE reforçou o poder das grandes potências e das multinacionais, que controlam as instituições da UE e a definição das suas políticas. Impõe-se a recuperação do comando democrático do processo de desenvolvimento, com a subordinação do poder económico ao poder político e a afirmação da soberania de cada Estado.

6
Para além de se terem constituído como uma compensação pelo impacto do mercado único, da moeda única e das políticas comuns, os fundos para a «coesão económica e social» têm vindo a ser reduzidos, enquanto aumentam os fundos para outros objetivos, como o militarismo. Importa contrariar esta realidade, assegurando os meios a que o País tem direito, defendendo o reforço dos fundos de «coesão» para assegurar direitos sociais, o desenvolvimento dos sistemas produtivos mais debilitados e objetivos ambientais.

7
A nossa ação caracteriza-se por uma permanente ligação à vida do povo e do País, às lutas dos trabalhadores e das populações pelos seus direitos e anseios, intervindo para que possam ser usados todos os recursos a favor do desenvolvimento do País e do bem-estar do povo. Logo estaremos em Portugal e deslocar-nos-emos ao Parlamento Europeu nos dias em que a atividade parlamentar o exija.

8
Não se tratam tanto de “erros”, mas da insistência da UE nas suas políticas neoliberais, federalistas e militaristas, que continuaram a promover a contenção dos salários e das reformas, a degradação e privatização de serviços públicos e funções sociais do Estado, o ataque a direitos laborais e sociais, uma cada vez maior concentração da riqueza, o agravamento das desigualdades e injustiças, a imposição de relações de domínio e dependência entre países, o militarismo e a confrontação nas relações internacionais.

Pedro Fidalgo Marques
PAN

1
Para o Partido PESSOAS-ANIMAIS-NATUREZA, o principal caminho deve ser sempre o da negociação política, da promoção do restabelecimento da paz e preservação do respeito pelos valores humanitários. Porém, a guerra tem tido efeitos dramáticos, quer em termos humanitários, quer ao nível do impacto nos animais e no ambiente. Perante esta ameaça, a União Europeia tem necessariamente de atuar proativamente na garantia da sua segurança e defesa, nas suas diferentes dimensões, incluindo em matéria de cibersegurança, bem como na cooperação e solidariedade, seja para com o povo ucraniano, seja para com os demais que vivem em conflito de guerra.

2
O foco deve estar na procura da paz e não no envio de militares para o terreno. Ainda assim, sabemos que é necessário ter uma estratégia de defesa e é por isso que o PAN defende a criação de uma unidade multinacional de resposta e integração rápida, que consiga estar no terreno num período de três a cinco dias.

3
O Pessoas – Animais – Natureza defende a solução dos dois estados e acreditamos que Portugal deve pugnar por isso e para que sejam respeitadas as decisões do Tribunal Penal Internacional.

4
Os tratados já preveem mecanismos para garantir que os países de menor dimensão tenham capacidade de defender os seus interesses.

5
Nas visitas que temos realizado, a maioria das empresas e associações queixam-se constantemente da burocracia e das dificuldades em candidatarem-se a fundos europeus. É urgente desburocratizar e democratizar o acesso aos fundos, garantindo que estes chegam efetivamente ao terreno._

6
Temos de falar das opções políticas no direcionamento dos fundos e da transparência na sua aplicação. O PAN defende que deve existir uma maior transparência em todo o processo desde a fase de candidatura até à execução.

7
O PAN vai trabalhar para repor a ligação pela ferrovia de Lisboa à Europa para vir a Portugal tantas vezes quanto os trabalhos no Parlamento me permitam, por forma a estar sempre em contacto com a realidade e necessidades nacionais.

8
Os retrocessos nas políticas ambientais como a estratégia do “Prado ao Prato” – que não está a ser implementada – ou a lei do Restauro da Natureza – que continua bloqueada no Conselho Europeu – são claramente erros cometidos. Por outro lado, a UE será sempre uma conquista enquanto projeto de paz, integração e de procura de um melhor bem-estar para as pessoas, animais e natureza.

Francisco Paupério
Livre

1
O LIVRE defende que a UE deve ter uma Política de Segurança Comum, e que a eventual constituição de um exército europeu é um elemento de uma potencial Política nesse sentido. O próximo mandato do Parlamento Europeu é o período certo para discutir qual a orgânica e objetivos desta política comum, de forma a definir políticas conjuntas, nomeadamente na compra conjunta de equipamento de defesa. Somente quando definido o que a União quer de uma Política de Defesa Comum poderemos discutir como a concretizar, designadamente a formação de um exército europeu. Entretanto, a curto trecho existem questões relevantes a resolver antes desse passo. Por exemplo, as dificuldades de interoperabilidade de material de defesa dos vários Estados Membros e a ausência de investimento conjunto nesta área, o que coloca obstruções práticas e imediatas.Tendo presente estes problemas, os Verdes Europeus votaram a favor do regulamento do EDIRPA, um instrumento para a contratação pública coletiva para na indústria de defesa, um passo na construção da Política Comum.

2
Os atuais desafios geopolíticos, como a guerra na Europa iniciada pela Rússia, colocam-nos questões que julgávamos ultrapassadas. O LIVRE é um partido pacifista e humanista que defende a prevenção dos conflitos armados e o total respeito pelo Direito Internacional. Estamos, contudo, perante um ataque de grande escala e multi-sectorial à democracia europeia e à paz no nosso continente. Apelamos, junto do Governo Português, da UE e da ONU, ao fomento de um cessar-fogo imediato, a retirada das tropas russas da Ucrânia e o resumo de negociações diplomáticas quando e como a Ucrânia entender. Não consideramos o envio de tropas portuguesas para a Ucrânia, decisão que pode contribuir para a escalada do conflito. Orgulhamo-nos do papel que as forças armadas portuguesas têm nas várias missões de paz em que participam e defendemos a sua valorização e o reforço da disponibilização dos recursos necessários ao cumprimento do seu papel.

3
O LIVRE apela ao cessar-fogo imediato sobre a Palestina. Defendemos o direito à autodeterminação do povo palestiniano e à solução de dois estados – Israel e Palestina – de acordo com as fronteiras definidas em 1967 pelas Nações Unidas. O LIVRE defende que Portugal se devia juntar a outros países, incluindo europeus, no reconhecimento da Palestina enquanto estado independente. Apelamos ao fim da política de colonatos que persiste na Cisjordânia e à investigação do TPI sobre o desrespeito pelo direito internacional humanitário e pelos Direitos Humanos do povo palestiniano em Gaza.

4
Sim. A união Europeia não é uma soma de Estados mas um projecto de cooperação, solidariedade, progresso e paz. A ideia de que a Europa é feita de grandes e pequenos países não corresponde à evolução do projeto europeu onde a livre circulação de pessoas, bens e serviços dilui fronteiras e alarga as economias nacionais a um conjunto europeu. Contudo, sabemos que existem assimetrias significativas e uma influência maior do centro da europa em relação, sobretudo, aos países periféricos do sul e leste da União. Neste sentido, o LIVRE defende a revisão das regras orçamentais, à luz do que aconteceu durante a pandemia. A coesão entre países da UE não pode estar em causa pelos critérios de Maastricht, que põem as economias do sul e leste da Europa sob constantes ameaças de procedimentos por défice excessivo.

5
Penso claramente que sim. Primeiro, o facto de as políticas da UE, nomeadamente a nível legal, exigirem o consenso e a coordenação entre várias instituições, muitas vezes em desacordo (ex. Parlamento Europeu vs Conselho Europeu). Além disso, o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu, a Comissão Europeia têm organizações, requisitos e métodos de trabalho diferentes, o que complica ainda mais um funcionamento eficiente e harmonioso. Adicionalmente, o facto de muitas matérias exigirem unanimidade, ou maiorias exigentes, torna-se um trabalho pesado face a Estados-Membros que, muitas vezes, se encontram desviados ou contra questões-base da UE (ex. caso da Hungria). Isto leva a rondas de negociação muito, muito longas, e trabalhos redobrados.

6
São de facto onerosas, de forma desnecessária, as deslocações do Parlamento Europeu a Estrasburgo, por exemplo. Toda a complexidade institucional também eleva os custos – o exemplo maior disso é a sobreposição de algumas comissões em relação a certos tópicos. E levantam-se também dúvidas sobre a necessidade/proporcionalidade de muitas ajudas de custo face ao que é necessário. No entanto, também é verdade que a União Europeia alberga 27 Estados-Membros e precisa de ter todos os países devidamente representados, quando simultaneamente precisa de ter uma estrutura alargada de pessoal para várias áreas e objetivos da União. A eficiência do uso do dinheiro deve passar pela fiscalização da aplicação desse mesmo dinheiro: se os valores são ajustados; se o dinheiro é realmente alocado aos setores previstos; as respetivas fontes do dinheiro; etc. E, poderemos, sim, apostar em: simplificação das estruturas da União, para tornar os gastos mais eficientes; mecanismos de controlo e transparência mais reforçados; avaliação mais rigorosa de projetos da UE; e, acima de tudo, também de um ponto de vista ambiental, reduzir os deslocamentos desnecessários ao máximo.

7
O mandato no Parlamento Europeu exigirá muito trabalho em Portugal, ou seja, conto estar no país com frequência e de modo compatível com o desenvolvimento do trabalho do LIVRE e dos verdes europeus no Parlamento Europeu.  

8
O Pacto da Migração e Asilo foi um dos maiores erros cometidos pela União no último mandato. O LIVRE defende a revisão do actual Pacto da Migração e Asilo e lutaremos pela criação de um Sistema Comum de Asilo humanista, assim como, a revisão alargada das políticas de migração e asilo da UE para o respeito integral dos direitos humanos. Defendemos que a UE deve garantir canais humanitários seguros e legais para as pessoas migrantes e refugiadas. As fronteiras da União não devem ser externalizadas, tornando-nos dependentes de regimes autocráticos e colocando um preço na vida humana. Também a integração de pessoas migrantes e refugiadas não tem sido uma prioridade da UE. O poder local deve ser valorizado na gestão, acolhimento e integração das pessoas que chegam aos Estados-Membros à procura de uma vida melhor. A UE deve criar linhas de apoio para garantir a  criação de condições dignas de vida, trabalho e desenvolvimento pessoal e comunitário. Por fim, como não somos indiferentes às mortes no mediterrâneo e ao papel das redes de tráfico na exploração de pessoas e de canais ilegais de emigração, defendemos a descriminalização das missões de salvamento no Mediterrâneo. A Europa não é uma fortaleza, é um espaço de paz, solidariedade e cooperação.

João Cotrim Figueiredo
IL

1
Não faz sentido falar na constituição de um exército europeu quando já há diversos instrumentos que os Estados-Membros da UE podem aprofundar, como a Cooperação Estruturada Permanente e, no caso dos que são membros da NATO, a criação de um pilar europeu que permita mais coordenação e complementaridade na cooperação militar. A criação de um exército europeu implicaria uma multiplicação de estruturas desnecessária face à enorme capacidade de intervenção que a própria NATO já possui. Todos estes passos são muito mais diretos e menos complexos do que a criação de um exército europeu, especialmente num momento em que a esmagadora maioria dos Estados-Membros não cumprem o compromisso dos 2% do Rendimento Nacional Bruto investidos em defesa. E deveriam cumprir.

2
Considero que os Estados-Membros da NATO, incluindo Portugal, se devem preparar para todas as eventualidades, mas não que o deflagrar de um conflito à escala europeia seja inevitável. O atual momento da guerra na Ucrânia também não indica uma necessidade imediata de destacamento de tropas NATO para a Ucrânia, algo que deve ser visto apenas e só como último recurso. No entanto, o dia em que a Europa renegar o seu compromisso com a sua própria defesa é o dia de abertura das portas da Europa a todas as potências autoritárias e imperialistas que decidirem aproveitar-se. Só teremos uma capacidade dissuasora forte se mostrarmos disponibilidade para nos defendermos.

3
A União Europeia deve continuar a apoiar todos os esforços que conduzam à solução de dois Estados Nesse caminho, o primeiro passo é alcançar um cessar-fogo no atual conflito, o que implica a cessação de hostilidades do lado israelita e a devolução dos reféns detidos pelo Hamas. Essa trégua deve permitir a definição de uma metodologia negocial que  possa conduzir a uma paz duradoura entre as partes. Para a Iniciativa Liberal, há duas pré condições essenciais para que esta processo tenha legitimidade e possa chegar a bom porto. A Palestina terá de ser representada pela Autoridade Palestiniana, a única estrutura reconhecida como legítima representante do povo palestiniano, e nenhuma organização terrorista poderá ter assento nessas negociações. Rejeitamos firmemente todas as abordagens extremistas a este conflito, independentemente da sua proveniência. O extremismo e o fundamentalismo só conduzem a mais sofrimento e só afastam a região da paz. Apoiaremos também todos os esforços de investigação e, se for caso disso, condenação de crimes de guerra cometidos neste conflito.

4
Se a força política de um eurodeputado dependesse apenas do tamanho do país de onde provém não valeria a pena darmo-nos ao trabalho de ter eleições europeias fora dos grandes países. A realidade é outra: a capacidade de relacionamento, argumentação e influência potencia a capacidade de intervenção no Parlamento Europeu, especialmente se esse eurodeputado tiver influência dentro do seu grupo político europeu. A União Europeia tem vários mecanismos de valorização dos Estados-Membros mais pequenos, desde logo na atribuição do número de eurodeputados por país. Para além disso, não é rigoroso considerar Portugal um país pequeno no contexto da União Europeia – Portugal é um país de média dimensão na União, com o mesmo peso relativo que a Suécia ou a Chéquia. Depois, Portugal sempre pode encontrar aliados de causa em várias matérias que não estão necessariamente alinhadas com a França ou a Alemanha, sendo que a União Europeia, pela sua própria natureza, exige sempre a consensualização de novas regras. 

5
Sim, exasperante é a expressão certa. E pior do que isso: em boa parte, é a burocracia europeia que está a matar a criatividade e a inovação na União Europeia. Bruxelas tem-se superado no seu excesso burocrático ao longo dos últimos anos, sem qualquer necessidade. Um mercado interno funcional necessita de regras simples entre os Estados-Membros para que a circulação de bens, pessoas e capital esteja facilitado. É por isso que temos a nossa proposta de dois por um: por cada nova norma criada ao nível da UE, duas devem ser eliminadas.

6
Existe imenso desperdício nos fundos de coesão. Portugal é um caso disso, no qual a utilização dos fundos nas últimas décadas não assegurou uma convergência real de Portugal com a União Europeia. É por isso que defendemos uma abordagem diferente, mais rigorosa e com mais condicionalismos, exigindo reformas para aceder aos fundos europeus. E com mais transparência, para que saibamos onde o dinheiro foi aplicado e com que resultados.

7
Na maior parte das semanas.

8
A reação da União Europeia à invasão da Ucrânia foi, sem dúvida, uma grande vitória. Em poucos dias, o povo europeu saiu à rua, em todos os países, movido por uma causa comum. A UE foi capaz de se unir em defesa dos ucranianos contra a agressão russa, e depressa percebeu que teria de ajustar a sua abordagem geopolítica ao novo contexto internacional. A introdução de um mecanismo de condicionalismo no PRR, fazendo depender a chegada de financiamento da elaboração de reformas, é outra vitória, pois significa mais rigor na atribuição de fundos, algo que para Portugal é fundamental no incentivo à adoção de reformas estruturais. No entanto, consideramos que a adoção de um IRC mínimo para toda a UE é um erro, dado que prejudica as oportunidades de competitividade fiscal por parte dos países mais pequenos. Além disso, o fracasso na integração de vários mercados, como é o caso do bancário, da energia e de capitais, sinalizaram uma incapacidade da UE em se empenhar naquilo que verdadeiramente importa: potenciar a capacidade de crescimento da união por via da integração de mercados.

António Tânger Corrêa
Chega

1
A UE deve reforçar a sua capacidade em termos de Defesa, quer em termos de meios, quer em termos de efetivos. Para além disso, a UE precisa de revitalizar as suas indústrias de Defesa, incluindo a portuguesa, para que não esteja tão dependente dos EUA e da sua capacidade de resposta rápida. Toda a cooperação nesta área deve ser feita no âmbito da NATO, na qual Portugal é membro fundador.

2
As declarações do senhor Almirante Gouveia e Melo, CEMA, vinculam apenas o próprio e o Governo em funções, a quem responde hierarquicamente. O Chega defende que se deve evitar a guerra e procurar soluções efectivas que possam conduzir a um processo de paz na Ucrânia. Esta solução deve ser encontrada no plano de apoio à Ucrânia, que deve ser suportada para que possa estar em condições de negociar esse plano de paz para o conflito que foi espoletado pela invasão bárbara por parte da federação russa.

3
O Chega apoia Israel e considera que os ataques de 7 de outubro de 2023 foram atentados terroristas coordenados e conduzidos pelo grupo militante islâmico palestino Hamas, que não pode sair beneficiado desta situação. A solução de dois estados pode e deve ser encontrada, mas não durante um conflito que ainda está em curso. Só após o fim do conflito se pode negociar e encontrar uma solução.

4
Não só é possível, como é desejável. O Chega vai pôr termo a décadas de inoperância em Bruxelas e em Estrasburgo. Os portugueses podem confiar que os eurodeputados do Chega não vão descansar na defesa dos interesses estratégicos de Portugal. O nosso País é um País da coesão e tem especificidades que devem ser defendidas, procurando evitar que fiquemos cada vez mais periféricos na UE.

5
Pode e deve ser combatida, por isso vamos apostar na transparência e “tradução” clara de tudo o que se passa nos corredores e no plenário em Bruxelas. Os portugueses deve estar plenamente informados e cientes das decisões que são tomadas e que afectam o seu dia a dia.

6
Há fundos e instrumentos da UE que não estão a ser aplicados e que muitas vezes não chegam a quem devem chegar. Um exemplo: o PRR está a ser mais usado pelo setor público e não chega aos privados, aos pequenos produtores e empresários.

7
Com a regularidade que seja necessária para garantir que o eleitorado, os portugueses, tem noção do que estamos a fazer em Bruxelas e em Estrasburgo. Iremos ter também canais diretos de contacto com os portugueses.

8
A gestão da pandemia da covid19, a tentativa de imposição de uma agenda ecocêntrica e, sobretudo, a guerra na Ucrânia, onde não houve a noção exacta de como este conflito nos podia afectar a todos. A UE reagiu tarde e sem meios. Só agora quer reforçar a sua defesa e agir estrategicamente. O alargamento também tem sido decepcionante. Parece que não anda. Defendemos que deve ser feito com cautela, cumprindo todos os chamados critérios de Copenhague. A maior conquista é um espaço de paz, segurança, estabilidade, prosperidade e solidariedade desde a II guerra mundial. Devemos preservar esse legado para as gerações futuras.