A Europa está velha há muito tempo. Desindustrializada, sem meios próprios de defesa e militarmente dependente dos EUA, debilitada por lutas políticas estéreis, enfraquecia pelo politicamente correto, sofrendo os efeitos de uma imigração descontrolada que lhe tem minado a identidade, destituída de nervo e de norte, a Europa, mais do que velha, está quase moribunda. Este quadro desolador explica a subida da extrema-direita, que antecipei há bastantes anos e que agora assusta muita gente.
Talvez seja tarde.
Paradoxalmente, pode acontecer que a malfadada guerra na Ucrânia constitua o choque que leve a Europa a acordar de uma longa letargia e a reerguer-se das cinzas.
Há males que vêm por bem.
Pode ser que a ameaça russa leve os líderes europeus a perceber que a Europa não pode ser tão dependente do chapéu-de-chuva militar americano, que tem de voltar a reindustrializar-se, que deve deixar-se de fantasias como a ideologia de género e quejandas.
A Europa tem de cair no real.
A ameaça russa é o grande desafio que enfrenta neste momento, e, se a Ucrânia não conseguir ganhar a guerra, os europeus no seu conjunto ficarão em perigo.
Nesta guerra, a Europa e os EUA têm andado a brincar com o fogo desde o início.
Se Zelensky não tivesse sido um herói, e os ucranianos não se tivessem mostrado um povo tão valente, um governo pró-russo estaria hoje instalado em Kiev e a Ucrânia seria um satélite de Moscovo, à imagem da Bielorússia.
Parece impossível como, até há uma semana, o Ocidente impedia os ucranianos de se defenderem, proibindo-os de usar o material militar que lhes fornecia para atacarem as armas com que eram massacrados.
A Rússia localizava essas armas junto à fronteira, para alvejar a Ucrânia com mais facilidade – e os ucranianos tinham de se conformar a levar com os mísseis em cima sem poderem ripostar.
Era isto o que o Ocidente impunha à Ucrânia e só agora foi ultrapassado.
O outro grande problema do Ocidente são as migrações. Muitos políticos e muitos jornalistas ainda não perceberam uma evidência: a Europa não pode albergar todos os habitantes da África, do Médio Oriente ou da Ásia que queiram vir para cá.
A capacidade de absorção de imigrantes não é infinita, tem limites, e os choques culturais que a imigração provoca (e que aliás já estão a verificar-se) podem ser graves.
É um assunto muitíssimo delicado, que deveria ter sido regulamentado há muito tempo, mas cuja discussão era bloqueada por acusações de ‘xenofobia’ e ‘racismo’.
Só agora se concluiu um pacto sobre a imigração – e mesmo assim com muitos protestos.
Também aqui a Europa vai ter de correr atrás do prejuízo e possivelmente já se atrasou irremediavelmente.
A invasão silenciosa dos imigrantes e a ameaça russa são os dois grandes desafios com que a Europa se vai debater nos próximos anos.
Só por isso, as eleições europeias seriam importantes.
Acontece que os deputados portugueses são uma gota de água no oceano: apenas 21 num universo de 705.
E além de serem poucos, não constituem uma força homogénea, longe disso: cada um puxa para seu lado, tem a sua agenda, e vai integrar-se no seu grupo europeu.
Nestas circunstâncias, não admira que as eleições europeias sejam muito pouco motivadoras para as pessoas.
Os seus efeitos práticos serão quase nulos.
A ‘leitura nacional’ dos resultados ainda será, de todas, a mais importante.
Assim, no próximo domingo, os eleitores votarão muito pouco em função da Europa, bastante em função das suas simpatias partidárias – e alguma coisa em função dos candidatos. Neste particular, a grande expectativa recaía sobre o candidato da AD, Sebastião Bugalho – pois os outros (Marta Temido, Cotrim de Figueiredo e Catarina Martins) já eram conhecidos , sabendo-se as suas qualidades e defeitos, ou não eram relevantes. O caso do Chega é à parte, pois é um partido unipessoal e qualquer candidato que ali estivesse seria visto como um duplo de Ventura e as pessoas não o levariam muito a sério. É o que acontece.
Quanto a Bugalho, surpreendeu positivamente: muito à vontade apesar da sua juventude (28 anos), rápido a pensar e a reagir, com a lição bem estudada, o candidato da AD apresentou-se quase como um ‘menino- prodígio’.
Oxalá a notoriedade não o afete.
Aparecer na TV todos os dias, ouvir muita gente a falar dele e a comentar o que diz, ver a sua cara impressa em cartazes gigantes distribuídos por todas as cidades e vilas do país, mexe com todos – e ainda mais com um jovem que nunca se vira nestas andanças.
A grande incógnita desta campanha para as eleições europeias é se ela lançou um possível futuro líder do PSD ou se lhe cortou as pernas, abrindo-lhe demasiado cedo as portas da fama.
Eu estava muito perto dele quando se iniciou no jornalismo e torço pela primeira hipótese.