As cidades e a revolução grisalha

Em Cascais, trabalhamos para promover um envelhecimento ativo, que coloque os nossos séniores no centro da vida social, restituindo-lhes o papel de âncoras…

Era uma vez um mundo em que a natalidade fazia a sua parte. Esse mundo, mesmo com desigualdades económicas, tinha mais trabalhadores do que reformados. Tinha mais jovens do que idosos. Tinha uma demografia que se assemelhava à pirâmide clássica. Esse mundo, segundo Mauro Guillén, um prolífico autor de Cambridge, está a desaparecer a grande velocidade dando lugar a uma nova realidade.

Crescemos by the book: estudar, arranjar emprego, constituir família, criar os filhos, dar-lhes asas e… gozar a reforma.

Mas o futuro que está ao virar da esquina espera-nos com surpresas.

Já em 2015, enquanto orador nas Conferências do Estoril, Hans Rosling abordou o tema das transformações populacionais no mundo, com fortes transformações económicas, sociais e ambientais provocando alterações e tensões na geopolítica.

Para alguns leitores, este mundo é uma distopia.

Para outros, uma possibilidade desconcertante.

Tendemos a olhar para a tecnologia como o grande motor da transformação, mas esquecemos as mudanças que são lentas, silenciosas e decisivas.

A demografia, a par da geografia, é um dos mais potentes eixos transformadores da civilização. Apoiada pela evolução da economia e da tecnologia, está a moldar o tempo que nos espera.

Focamo-nos nos millennials e no seu impacto na sociedade e esquecemos que o grupo demográfico em maior crescimento é o de +65 anos. Aqueles que controlam uma percentagem incrível do poder de compra e, até 2030, serão cerca de 1.4 mil milhões em todo o mundo.

Em Portugal, todos os dias, mais de meio milhar de pessoas atinge os 60 anos, o que tem óbvios impactos nas políticas públicas e reforça a ideia de que Portugal enfrenta um inverno demográfico severo.

Somos o quarto país mais envelhecido do mundo, deixando o nosso sistema de pensões, o SNS e a economia em maus lençóis.

Atacar as causas da baixa natalidade é uma emergência nacional. Tal como priorizar o acompanhamento dos nossos idosos, dando-lhes qualidade de vida, segurança e solidariedade na longevidade.

Viver mais anos implica viver melhor.

O envelhecimento é um processo difícil e naturalmente adiável. Cabe-nos a nós, políticos e sociedade civil, inverter o rumo das coisas.

Em primeiro lugar, anulando os fatores de discriminação e de exclusão, o Idadismo.

Depois, atuando em áreas como a reforma das políticas de saúde, criação de residências assistidas, reforço do apoio e cuidado domiciliário e desenho de programas de bem-estar que combatam a solidão e reforcem a integração dos mais velhos.

Em Cascais, trabalhamos para promover um envelhecimento ativo, que coloque os nossos seniores no centro da vida social, restituindo-lhes o papel de âncoras que sempre tiveram desde o início dos tempos.

Como? Garantindo a inclusão não através de prestações sociais, mas da promoção do diálogo entre gerações. A aprendizagem é uma via de dois sentidos e enquanto os menos jovens se mantém ativos e desafiados, os mais novos crescem através do exemplo, da experiência e da memória.

Implementamos uma estratégia de envelhecimento ativo que valoriza os cuidadores, que cria estruturas residenciais para idosos e repensa a habitação à luz do princípio da partilha. Programas como as Bolsas Sociais ERPI e o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD +) são alguns dos exemplos.

Por considerarmos que as pessoas devem ter opção de escolha e numa ótica de criação de mecanismos e condições para que possam ficar e permanecer em casa o maior tempo possível, estamos a desenvolver o Programa Cascais Apoia no Domicílio (CAD).

Mas queremos ir mais longe e criar a ‘Licença de Avozidade’, que dará aos avós a possibilidade de fazerem parte da vida dos netos desde o primeiro dia, pelo período de um mês. Será ainda apresentada, nos próximos dias, a Provedoria Municipal da Criança e do Idoso.

Cascais é e será, cada vez mais, uma Cidade Amiga das Pessoas Idosas. Envelhecer é hoje uma qualidade estranha. Rara. E nobel.

Que esta clarividência abunde entre nós, por um futuro melhor para todos.