A leitura dos resultados das noites eleitorais são sempre um exercício que, em muitos casos, entra no campo dos delírios emocionais por parte dos políticos. Nem é a história da garrafa meio cheia ou meio vazia. Ao ouvir os discursos dos candidatos e dos líderes partidários percebe-se que escolhem a comparação que mais jeito lhes dá. Um dado é certo, o PS ganhou, a AD ficou em segundo lugar, o Chega em terceiro e a Iniciativa Liberal em quarto, tendo o Bloco de Esquerda ficado em quinto. O PCP ficou logo a seguir a uma curta distância de cinco mil votos. O fenómeno ADN relegou o PAN para o oitavo lugar. Mas vamos a números. Se compararmos o número de votantes de 2019 para 2024 facilmente percebemos que houve mais 600 mil eleitores que optaram por votar. Mas se compararmos com o número de eleitores que votaram nas legislativas em março último, então percebemos que houve menos dois milhões e quinhentos mil eleitores que optaram por se manter longe das mesas de voto.
Continuemos em leituras práticas. O PS conseguiu mais cento e cinquenta mil votos do que em 2019, mas perdeu um deputado. Se quisermos comparar com as legislativas, então constatamos que os socialistas viram fugir mais de 500 mil votos. Já a AD, conseguiu mais de 300 mil votos em relação a 2019, e perde mais de 600 mil no que diz respeito à comparação com as últimas legislativas. O Chega, que só se pode comparar com as legislativas, viu fugir mais de 780 mil votos – curiosamente nas últimas eleições para o Parlamento nacional houve mais 750 mil eleitores a votar do que em relação a 2022… O candidato escolhido foi um desastre em toda a linha. Já a Iniciativa Liberal, com Cotrim Figueiredo, ganhou mais de 300 mil votos em relação a 2019, e se compararmos com as legislativas conseguiu mais de 37 mil votos – e convém não esquecer, mais uma vez, que houve menos de dois milhões e quinhentos mil votantes, o que reforça a ideia de que a IL ganha muito com Cotrim Figueiredo. Foi o único partido que ganhou em toda a linha, se compararmos com o passado. O Bloco de Esquerda, à semelhança do PCP, conseguiu eleger um deputado por uma unha negra, percebendo-se a euforia de ambos. Mas olhando para os números vê-se que o partido de Catarina Martins perdeu mais de 157 mil votos comparando com 2019. Em relação às legislativas, foram menos 114 mil. O PCP que também não pára de descer, perdeu 60 mil votos quando comparado com 2019, e 42 mil no que diz respeito às legislativas.
O PAN perdeu mais de 120 mil votos quando comparado com 2019 e 78 mil em relação às legislativas. Fenómeno curioso é do candidato do Livre, que concorreu contra a vontade de Rui Tavares, mas que teve mais de 87 mil votos do que fundador do partido quando foi o cabeça de lista em 2019. Em relação às legislativas conseguiu menos 56 mil votos.
Estes são os resultados indesmentíveis, já as leituras, algumas, tal como disse, são verdadeiramente delirantes. João Oliveira e Catarina Martins falarem em vitória faz tanto sentido como eu ir para o polo norte de calções de banho. Chega a dar pena ver a cegueira ideológica destes dois partidos. Bem podiam dizer que estavam felizes por terem sido eleitos, mas que os resultados são preocupantes, no mínimo, pois ambos perderam o segundo deputado que tinham.