Sim, temos a mentalidade do salário mínimo e nunca gostámos de quem ganha mais do que nós. O PS está a ser o PS: tem medo dos jovens, não quer saber da classe média que produz nem da necessidade de reter e premiar o talento. Grande parte do eleitorado socialista é idoso, tem pouca instrução e gosta de subsídios. Então, para quê dizer a um jovem que pode ter um ordenado que não o mande embora se vale mais ficar em casa a viver à custa dos impostos de quem trabalha?
O Chega está a ser o Chega: atacar os ‘ricos’, mesmo que alguns o financiem; governar no Parlamento, nem que seja de braço dado com o populismo de esquerda; espezinhar o PSD e unir a direita à volta dele e de Passos Coelho. Então, para quê negociar com o Governo se dois terços dos portugueses estão zangados e se sentem marginalizados?
O bom observador Miguel Pinheiro dizia esta semana que se Pedro Nuno Santos e André Ventura se encontram um dia na rua, é um acaso; se se encontrarem no mesmo local duas vezes seguidas, já pode ser uma coincidência (boa ou má); se se encontrarem três, quatro, cinco vezes, ou combinaram ou vão à mesma missa.
Para PS e Chega não importam as consequências, antes as conveniências. Mais do que cúmplices, Luís Aguiar-Conraria chamou-lhe ‘Cartel’; que o PS está em conluio com o Chega numa grave e perigosa irresponsabilidade que poderá levar a novas eleições e beneficiar o PSD.
Há um PS que está desconfortável com a decisão do líder. O tema nunca foi discutido nos órgãos do partido e até a JS concorda que assim se afastam ainda mais dos jovens. João Galamba chama-lhe mesquinhez ideológica por tostões e Álvaro Beleza, o mandatário de Pedro Nuno Santos, também já se manifestou contra.
Pedro sabe que todos os meses perde popularidade para o Luís e André não perdoa a Montenegro ter-lhe cortado o sonho de ser vice primeiro-ministro. Sim, Ventura já confidenciou que se Portas foi vice de Passos com 24 deputados, porque não poderia também ele ser o n.º 2 do Governo quanto tem 50?!
O Pedro quer decepar a orelha da direita e acha que sobre ele será edificada a esquerda; que irá renovar a fé das multidões contra os fariseus e que um dia receberá as chaves do reino dos céus. Mas, negou o líder mais do que três vezes e não permitiu que ele lhe lavasse os pés. E quando saiu do barco e quis caminhar sobre as águas, começou a afundar.
O André, o irmão, que de joelhos cafetina o bagulho a partir do senáculo, garante que é ele quem vai expulsar os vendilhões do Templo, que os céus clamam por justiça e que é ele o salvador da Pátria; que sendo o nascido de Deus, vencerá sobre todos. Mas, as realidades celestiais não são os modismos do mundo e André se chegar ao poder nunca irá usar as razões pelas quais o alcançou.
Quem leu a Epístola aos Coríntios sabe que já se avisava Pedro que as más companhias corrompem os bons costumes.
Jornalista