Domingo, os portugueses vão ter uma palavra decisiva sobre o seu próprio futuro e responder, essencialmente, a esta questão: querem continuar, ainda que dentro do quadro da União Europeia, a serem senhores do seu próprio destino, ou alienar a sua soberania para uma elite acantonada na cinzenta e apátrida fortaleza de Bruxelas?
Desdobra-se esta questão em várias outras e desta dependentes:
- Vamos ser nós a escolher quais e quantos imigrantes recebemos nesta nossa casa, em que condições e com que limites, ou vamos delegar essa essencial função de soberania nas mãos de uma tentacular Comissão Europeia, que nada sabe das nossas necessidades, tradições e modo de vida? A minha resposta é esta: mas com que direito uma palete de burocratas avulsa vai decidir isso por nós, senhores de uma tradição de seis séculos de convívio com os habitantes desses ‘novos mundos que demos ao mundo’? Fomos pioneiros na globalização (não no globalismo, coisa inteiramente diferente), não nos venham ensinar a ‘incluir’ e dar lições de ‘humanismo’ e demais balelas woke politicamente corretas.
- Vamos aceitar a censura prévia? O Digital Services Act de 2022 de Ursula von der Leyen – tão apoiada pelo CDS e pelo PSD – permite, na prática e traduzido para português corrente, o estabelecimento de uma censura prévia sobre conteúdos das plataformas digitais que não sejam do agrado da Comissão. Este DSA tem de ser urgentemente revogado, não expulsámos a censura prévia em 1974 pela porta da frente de casa para ela nos reentrar, mais sofisticada e, por isso mesmo, mais perigosa, pela janela europeia em 2022.
- Vamos renunciar à liberdade essencial de usufruir de uma multitude de pequenos prazeres que, somados, se traduzem na joie de vivre, a alegria de viver? Com base no contestável e cada vez mais contestado european green deal, demonizando o bom e velho bife, o clássico entrecosto e o sofisticado chateaubriand, querem-nos veganizar a todos e pôr-nos a comer insetos liofilizados acompanhados por relva vária. Mas, pior, pretendem catalogar o vinho, o azeite, os enchidos e toda a imensa panóplia de bens alimentares que fazem parte integrante e indissociável da alegria de viver – e da riqueza – dos povos mediterrânicos como produtos venenosos e, a prazo, proibidos. Uma ditadura higiénica. Em causa a liberdade de viver segundo as nossas tradições, a nossa cultura e aquilo que para todos nós consubstancia a alegria de viver.
Há mais? Há, muito mais. Mas basta isto para nos fazer pensar. Muito. E decidir.
Domingo, em confronto, de um lado da barricada, a Europa das nações e das liberdades que entre si se complementam e mutuamente se fecundam; do outro, a Europa do ‘sonho europeu’ que pretende reduzir a infinita variedade dos cidadãos e povos europeus a uma massa amorfa de seres iguais e entre si intercambiáveis, intermináveis números numa folha de excel, padronizados e obedientes comedores de vermes e de gafanhotos acompanhados por água morna e destilada, quiçá liofilizada também ela, a água.
De um lado, o Chega. Do outro, todos os demais, aquela grande coligação que vai dos democratas-cristãos e sociais-democratas até aos verdes e variadas esquerdas que, ao longo das últimas dezenas de anos, lançaram as bases desta tal Europa sonhada que ameaça tornar-se no pesadelo central da Metamorfose de Kafka.