O Sindicato dos Enfermeiros alertou, na passada quarta-feira, para a “situação explosiva” em que se encontra a Linha SNS24, sublinhando que existe uma “revolta crescente” dos enfermeiros que lá trabalham, sendo que muitos destes admitem uma possível paralisação.
Em comunicado, o sindicato informa que teve conhecimento da situação através de uma exposição dos enfermeiros, que apenas trabalham na linha a tempo parcial.
O presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Pedro Costa, revela que: “As denúncias que nos chegam apontam para uma pressão constante para que se evitem chamadas em espera na Linha SNS 24, pois a empresa que gere a linha é alvo de multas quando tal acontece”.
O responsável sindical indica que os enfermeiros já transmitiram ao Governo as denúncias que foram recebendo, sendo urgente, na ótica de Pedro Costa, “uma intervenção do Ministério [da Saúde], pois, no limite, é toda a linha que pode ficar paralisada”.
O Sindicato dos Enfermeiros precisa que, entre as principais queixas recebdidas, e que já foram remetidas a todos os partidos políticos, estão a “a “falta de estabilidade profissional, na forma aleatória como os turnos são atendidos, a inexistência de uma carreira profissional e uma remuneração em função do número de chamadas atendidas por hora e não tendo em conta o tempo de serviço, experiência ou sequer formação dos enfermeiros que fazem o atendimento à população na Linha SNS 24”.
“Pode estar em causa a qualidade do atendimento e da informação prestada aos cidadãos, pois perante a pressão exercida, muitos colegas, para não perderem tempo, deixam de fazer um apuramento mais exaustivo do estado de saúde de quem está do outro lado da linha”, reitera Pedro Costa.
O dirigente sindical considera que o mais recente reforço das competências do SNS24 veio apenas agudizar a situação, sendo que “muitas unidades de saúde, nomeadamente a nível hospitalar, só pretendem aceitar doentes que sejam referenciados pela Linha SNS 24”.
Os relatos que chegam ao sindicato, conta Pedro Costa, “denunciam colegas muito desgastados (…) e constantemente pressionados para fazerem mais turnos pela empresa privada que gere a linha”.
“Não existindo uma carreira associada à Linha SNS 24, a maioria dos enfermeiros que ali trabalham não tem experiência profissional, é um mero prestador de serviços, que tem emprego principal numa outra unidade de Saúde”, explica.
O responsável alerta que, de acordo com as denúncias que chegam ao Sindicato dos Enfermeiros, “os turnos são atribuídos de forma aleatória e, em condições normais, um enfermeiro pode ter 8 a 12 turnos por mês”, o que obriga os profissionais a trocar turnos entre si, “pois nem sempre têm disponibilidade por estar de serviço no emprego principal”.
“Há um descontentamento muito grande entre os enfermeiros que ali trabalham e, nos relatos que nos fazem, muitos já falam na possibilidade de uma paralisação, sem atender nenhuma chamada, o que, naturalmente, iria bloquear por completo a Linha SNS 24 e provocar o colapso no atendimento à população”, sustenta.
A 20 de junho, data marcada para a próxima reunião entre o Sindicato dos Enfermeiros e o Ministério da Saúde, Pedro Costa espera que o problema esteja circunscrito e haja “soluções imediatas”, avisando que é o próprio atendimento nas urgências hospitalares que pode ser colocado em risco se a paralisação avançar.