Na véspera do Dia de Portugal, da diáspora e de Camões, os portugueses foram às urnas reiterar a mensagem que já tinham deixado bem clara nas legislativas de março: o ciclo governativo do PS e da esquerda_está fechado e é chegada a hora de implementar políticas de direita, alternativas à subsidiodependência crónica e excesso de assistencialismo, ao asfixiamento fiscal de quem produz e cria riqueza e ao progressivo empobrecimento do país, promovendo o crescimento económico e a real convergência com os demais parceiros da União Europeia, a começar pela vizinha Espanha.
Tendo o PS_logrado ser o partido mais votado, a verdade é que a viragem à direita das últimas legislativas se confirmou nas eleições de domingo passado – AD, IL e Chega somaram 11 mandatos contra os 10 de PS, BE_e CDU.
Pedro Nuno Santos ganhou sobretudo tempo para a cura de oposição de que o partido manifestamente está precisado depois de demasiados anos no poder.
Já à direita, os seus principais protagonistas, Luís Montenegro e André Ventura, devem também saber retirar as devidas ilações, e não continuarem a ignorar a mensagem do eleitorado.
Para o partido no Governo, é óbvio que o caminho não pode ser mais do mesmo em relação ao que os Executivos socialistas fizeram e, sobretudo, não fizeram na última década.
Os eleitores votaram na alternativa, de forma clara e reiterada.
Aliás, o trambolhão do Chega nestas eleições em relação às legislativas de há tão poucos meses tem a leitura obrigatória de que a estratégia seguida por André Ventura de oposição permanente ao Governo da AD_e de sucessivos alinhamentos de voto (coligações negativas ou propositivas) com o PS no Parlamento é um rotundo erro.
Por mais óbvio que seja que Tânger Corrêa não contribuiu em nada para um melhor resultado – tratou-se de um notório erro de casting –, é indiscutível que o eleitorado penalizou o partido de André Ventura por ter vindo a alinhar com o PS.
O processo de (não) eleição de Aguiar-Branco como presidente da Assembleia da República devia ter servido de lição.
Aliás, também o PSD terá sido obviamente prejudicado nestas eleições para o Parlamento Europeu por ter levado muito para além do limite as linhas vermelhas traçadas com o Chega.
Se Montenegro concedeu ao PS_e à esquerda o benefício de não assinar com o partido de Ventura qualquer acordo de Governo ou de incidência parlamentar para a legislatura, nada o impediria de procurar o apoio pontual de todas as bancadas à sua direita no hemiciclo – incluindo naturalmente a terceira força política nacional –, sobretudo nas matérias mais essenciais para a governação, indo ao encontro das reformas que o eleitorado reclama como urgentes e indispensáveis.
Se assim não fosse, nem o voto à direita tinha sido tão expressivo e reiterado, nem o voto de protesto (no Chega) teria tido a expressão que teve nas legislativas, nem tão pouco se teria verificado, agora, nestas europeias um aumento tão significativo de votos na lista da IL liderada por Cotrim Figueiredo.
O eleitorado é o mesmo. E, apesar de terem sido muito menos os que foram às urnas no passado domingo, o sentido de voto manteve-se, com nuances, aliás muito significativas, que apenas reforçam inadiáveis conclusões.
Os portugueses querem novas políticas, com menos e melhor Estado, logo menos impostos e mais liberalismo, com mais crescimento económico, menos assistencialismo e menos subsídiodependência, mais autoridade e menos laxismo ou imobilismo. O que só se consegue através de reformas estruturais e mudança de mentalidades.
Por isso, Pedro Nuno Santos compreendeu bem que não é hora de cavalgar uma vitória que até nem foi assim tão expressiva e que se fez essencialmente à custa dos seus parceiros – ou melhor, vítimas – à esquerda. Nem os eleitores lhe perdoariam se assim não entendesse.
Já André Ventura, por certo ainda atordoado pela marretada da véspera, não terá percebido o que lhe aconteceu ou por que lhe aconteceu.
De outro modo, não teria optado, mais uma vez, por alinhar com a esquerda, precipitando-se no anúncio do chumbo a um novo Governo do PSD_de Miguel Albuquerque na Madeira.
Ventura pode dizer o que quiser, mas, se quer reivindicar a representação de mais de um milhão de eleitores, tem de ser o primeiro a respeitar a vontade expressa nos votos e não alinhar no sentido contrário.
Até pela simples razão de que já começa a perceber-se qual a melhor estratégia para acantonar os extremos: radicalizar a luta ao centro.
Ao contrário do que professam os defensores do ‘centrão’ e do bloco central, quanto maior for o choque entre os partidos mais moderados, menos espaço sobra para os radicais.
Isto é, quanto mais o PS_e o PSD radicalizarem posições e vincarem as suas diferenças, mais conseguem concentrar os votos nos dois partidos da alternância de poder e evitar a fuga para os extremos.
Se a ‘geringonça’ permitiu ao PS_dar o abraço de urso ao PCP e ao BE, a ‘cheringonça’ feriu o Chega –_não de morte, mas moeu.
Já o PSD, se ganhou tempo (eventualmente, a legislatura), que faça o que tem a fazer, sem se deixar emaranhar nos cordões ditos sanitários, que podem bem revelar-se fatais – ou não há quem morra da cura?