Corria o ano de 2015. No Encontro Mundial de Famílias, em Filadélfia, o Papa Francisco falava com graça sobre os problemas familiares do dia a dia. «Nas famílias por vezes discutimos. Por vezes, nas famílias, voam pratos. Nas famílias, os filhos dão dores de cabeça. Não vou falar das sogras…», dizia, enquanto arrancava gargalhadas à plateia presente. O pontificado do Papa Francisco começou em 2013 e não seria injusto dizer que uma das principais características na última década foi o seu sentido de humor. O sumo Pontífice confessou até nalgumas entrevistas que uma das suas orações preferidas foi escrita por Thomas More, precisamente a propósito do bom humor. «Senhor, dai-me uma boa digestão e também algo para digerir. Dai-me a saúde do corpo com o bom humor necessário para mantê-la», pode ler-se. E continua, mais ou menos assim face às várias adaptações possíveis de encontrar: «(…) Concedei-me a graça de compreender uma piada, para que eu possa conhecer um pouco de alegria em minha vida e também reparti-la com os outros».
O povo diz que mais vale cair em graça do que ser engraçado, mas para o Santo Padre não foi difícil conseguir a dobradinha perante os fiéis, se se pode usar a linguagem futebolística já que é fã confesso de futebol.
Também adepto de tango, não é difícil para o líder da igreja Católica brincar com as palavras ou adaptar piadas para o momento adequado. Em 2022, por exemplo, quando questionado por um padre mexicano sobre as dores no joelho, respondeu: «Sabe o que eu preciso para a minha perna? Um pouco de tequila».
Antes, em 2021, após ser abordado no Vaticano por um padre brasileiro que pediu que rezasse pelo seu país, afirmou: «Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração». Ainda em relação ao povo brasileiro, a propósito da Jornada Mundial da Juventude naquele país, comentou que «o Brasil roubou o meu coração», lançando a polémica por ter optado pelo verbo roubar num país conhecido pelas taxas elevadas de insegurança e criminalidade.
O sentido de humor do Papa é, ainda assim, inquestionável. Talvez também por isso algumas atitudes alcancem outras proporções. Correu mundo, em 2020, o vídeo do Papa Francisco a dar uma palmada na mão de uma fiel que tentava cumprimentar o Santo Padre de uma maneira mais efusiva e, mais recentemente, estalou a polémica depois de o Santo Padre ter feito declarações fortes num encontro à porta fechada em que pediu que se travasse a admissão de pessoas homossexuais nos seminários, justificando que já há demasiadas “bichas”.
O Papa Francisco pode ter achado que o termo “frociaggine”, usado numa reunião alegadamente privada, não faria correr tanta tinta, mas provavelmente isso só não aconteceria se o desabafo tivesse sido feito durante a reunião agendada para esta sexta-feira, onde irá encontrar-se com mais de 100 humoristas – entre eles três portugueses: Ricardo Araújo Pereira, Maria Rueff e Joana Marques.
É que a Igreja pode ser de todos, todos, todos. Daí a ser de todxs…
Papa e o sentido de humor
Papa dos pobres mas rico de espírito, o líder da Igreja Católica até tem uma oração específica para manter o bom humor.