Longe vão os tempos do Locomotion No. 1, construído por George Stephenson e inaugurado a 27 de setembro de 1825. Este comboio, que foi projetado para transportar carvão ao longo da rota entre as minas de carvão de Hetton e o rio Wear, no nordeste de Inglaterra, constituiu a primeira locomotiva a vapor a operar numa linha ferroviária pública para transporte de passageiros e mercadorias. Este evento marcou o início da era ferroviária moderna, que revolucionou o transporte e a indústria em redor do mundo. Nos dias de hoje, os comboios mais rápidos do mundo representam o ápice da engenharia ferroviária moderna, utilizando tecnologias avançadas para alcançar velocidades impressionantes e eficiência sem precedentes. Não apenas definem novos padrões de velocidade e tecnologia, mas também desempenham um papel crucial na melhoria das conexões regionais e globais, facilitando viagens para milhões de passageiros.
Naquilo que diz respeito a este tema, no primeiro lugar encontramos o Shinkansen Série L0, do Japão, que alcançou um recorde mundial ao atingir uma velocidade máxima de 603 km/h em testes (ainda que em operação comercial opere a velocidades um pouco mais baixas). De seguida, em segundo lugar, o Shanghai Maglev, da China. Destaca-se por usar levitação magnética (Maglev) em vez de rodas tradicionais de aço nos trilhos. Conectando o Aeroporto de Pudong em Xangai à estação de Longyang Road no centro da cidade, o Shanghai Maglev alcança uma impressionante velocidade comercial máxima de 460 km/h. A jornada de 30 quilómetros é concluída em apenas sete minutos e meio.
Em terceiro lugar, encontra-se novamente a China com os comboios Fuxing CR400, que alcançam uma velocidade comercial máxima de 350 km/h, mas já demonstraram ser capazes de atingir até 420 km/h em testes. Representando um marco na indústria ferroviária chinesa, são fruto do desenvolvimento contínuo a partir de tecnologias importadas da Europa e do Japão. Cada comboio pode ter até 16 carruagens e transportar até 1200 passageiros, oferecendo uma série de comodidades avançadas, como entretenimento nos assentos individuais, monitores com vidro inteligente, carregadores sem fio e até condução automática. Recentemente, foram introduzidos como os únicos comboios de alta velocidade totalmente automáticos do mundo. Os CR400 mais rápidos operam principalmente nas rotas principais entre Pequim-Xangai-Hong Kong e Pequim-Harbin.
Em quarto lugar, surge a Alemanha com o ICE3. Apelidado de “Minhoca Branca”, é capaz de alcançar uma velocidade máxima de 330 km/h desde a sua introdução em 1999. Especialmente projetado para a linha de alta velocidade de 180 quilómetros entre Colónia e Frankfurt, o ICE3 reduziu o tempo de viagem entre essas cidades de duas horas e meia para apenas 62 minutos desde 2002. Embora a sua velocidade operacional padrão seja de 300 km/h, o ICE3 pode acelerar até 330 km/h se houver atrasos. Em testes, chegou a atingir uma impressionante velocidade máxima de 368 km/h. Tal acontece porque tem 16 motores elétricos distribuídos pelas oito carruagens, proporcionando uma potência total de 11 mil cavalos. A frota do ICE3 cobre toda a Alemanha e inclui comboios dedicados a rotas internacionais, conectando importantes cidades alemãs a Paris, Amesterdão e Bruxelas.
Em quinto lugar, está França com o famoso TGV. Este comboio alcançou 574,8 km/h a 3 de abril de 2007. A velocidade de 150 metros por segundo é quase o dobro da velocidade máxima normalmente atingida pelo serviço do Train à Grande Vitesse (TGV), conhecido mundialmente como líder em tecnologia de alta velocidade. Foi a primeira rede de comboios de alta velocidade da Europa. Atualmente, as linhas de alta velocidade conectam Paris a Lyon, Marselha, Bordéus, Nantes, Estrasburgo, Lille, Bruxelas e Londres, onde os comboios alcançam até 320 km/h em algumas rotas. A tecnologia da linha de alta velocidade TGV foi vendida a Espanha, Coreia do Sul, Taiwan, Marrocos, Itália e EUA ao longo dos últimos 30 anos.
Em sexto lugar, encontramos os ‘comboios-bala’ E5 da Japan Railways East (JR East), que atingem 320 km/h na linha Tohoku Shinkansen, que conecta Tóquio a Shin-Aomori. Com 731 assentos e 32 motores de indução elétrica, geram uma potência de 12.900 cavalos. Construídos com uma liga leve de alumínio, os E5 contam com “suspensão ativa”, que permite fazer curvas em alta velocidade com eficiência. Introduzidos em 2011, foram construídos 59 desses dos mesmos e, desde 2016, também operam ao norte de Aomori no Hokkaido Shinkansen, que está conectado à ilha principal de Honshu através do túnel subaquático Seikan, com 54 quilómetros sob o Estreito de Tsugaru. Logo de seguida, em sétimo lugar, aparece o Al-Boraq de Marrocos, que conecta a cidade costeira de Tânger a Casablanca. Estes comboios, baseados no modelo TGV Euroduplex de França, operam na nova linha entre Tânger e Kenitra atingindo velocidades de até 320 km/h. O Al-Boraq também detém o recorde de velocidade em África: durante os testes iniciais, em 2017, um dos 12 comboios atingiu 357 km/h na nova linha, mais que o dobro da velocidade dos comboios rápidos atualmente em operação em todo o continente africano.
Em oitavo lugar, estão os nossos vizinhos espanhóis com o AVE S-103, tendo o país a maior rede dedicada a linhas de longa distância na Europa, conectando Madrid a cidades como Sevilha, Málaga, Valência, Galiza e Barcelona. O AVE, abreviação de Alta Velocidad Española, opera geralmente a uma velocidade comercial máxima de 310 km/h. Certificados para alcançar até 350 km/h e equipados com 404 lugares, os S-103 operam entre as duas maiores cidades espanholas, oferecendo viagens rápidas e eficientes. Em julho de 2006, um destes comboios estabeleceu um recorde de velocidade em Espanha ao atingir 404 km/h, à época um recorde mundial para um comboio comercial de passageiros. Em nono lugar, encontramos o KTX da Coreia do Sul, cujo primeiro marco foi a rota Seul-Busan, inaugurada em 2004, onde os comboios KTX podem atingir até 330 km/h, embora o limite padrão seja de 305 km/h. Baseados na tecnologia francesa do TGV, reduziram significativamente o tempo de viagem entre Seul e Busan de mais de quatro horas para apenas duas horas e 15 minutos. Com aproximadamente duas partidas por hora nas principais rotas e comboios que podem ter até 20 carruagens, o KTX constitui um sistema de transporte de alta velocidade em massa, transportando milhões de passageiros anualmente. Além da rota Seul-Busan, o KTX também conecta Seul ao sul, incluindo cidades como Gwangiu, Mokpo e Yeosu, e ao nordeste até Gangneung, esta última rota construída para os Jogos Olímpicos de Inverno realizados em Pyeongchang, em 2018.
Em décimo lugar, regressamos à Europa. Mais precisamente a Itália com o Frecciarossa (Trenitalia ETR1000). Projetado para alcançar uma velocidade máxima de 400 km/h, o Frecciarossa (’Seta Vermelha’), embora normalmente opere com uma velocidade máxima de passageiros de 360 km/h, um dos comboios alcançou 394 km/h em testes realizados em 2016. Com 200 metros de comprimento, os Frecciarossa oferecem 457 assentos distribuídos em quatro classes: económica confortável, empresarial, premium e executiva. Os serviços do Frecciarossa conectam Turim, Milão e Veneza ao norte, e Bolonha, Florença, Roma e Nápoles ao sul. A Ferrovie dello Stato Italiane (FS Italiane) planeia competir com o TGV francês na rota Milão-Paris e sabe-se que os Frecciarossa serão introduzidos em Espanha, onde competirão com os serviços locais da AVE e Ouigo Espana em rotas de alta velocidade saindo de Madrid.
Por último, em décimo primeiro lugar, surge a Arábia Saudita com a Haramain High Speed Railway, que conecta as cidades sagradas de Meca e Medina com comboios elétricos de alta velocidade, alcançando até 300 km/h. A frota consiste em 35 comboios Talgo de Espanha, especialmente adaptados para operar no deserto. Cada comboio possui 13 carruagens, oferecendo um total de 417 assentos nas classes económica e executiva. Transporta até 60 milhões de passageiros por ano. Desde o seu lançamento, em 2018, a Haramain High-Speed Railway tornou-se uma solução vital para os peregrinos e também para os viajantes comuns.