Imigração e censura…

O racismo é abominável. Mas a melhor forma de o evitar será esconder a realidade? Será censurá-la? Os cidadãos não terão o direito de saber a nacionalidade e a origem dos autores de atos criminosos?

Pedro Passos Coelho disse há umas semanas, numa das suas raras intervenções públicas, que é preciso controlar a imigração, até por questões de segurança. O que foi dizer! Caíram-lhe ferozmente em cima. Que era um discurso de extrema-direita, que estava próximo do Chega, etc. E acusaram-no mesmo de mentir, pois – diziam – os dados disponíveis desmentiam cabalmente aquela ideia. Não havia qualquer relação entre a imigração e a insegurança. Ouvi Mariana Mortágua afirmar isto taxativamente, ouvi Rui Tavares dizer o mesmo, ouvi inúmeros dirigentes de esquerda repetirem o refrão.

Ora, sabe-se agora que quem estava a mentir não era Passos Coelho – eram eles. Porque não há quaisquer dados que desmintam o que Passos Coelho disse.

Recentemente, este jornal publicou uma manchete dando conta de que são proibidas as referências à nacionalidade no que respeita à atividade criminosa.

Não se pode dizer de que país é o autor de um crime – mais ou menos grave – e muito menos a sua origem étnica.

Assim sendo, ninguém pode afirmar que não existe relação entre a imigração e a criminalidade. A experiência, a História e o próprio senso comum levam-nos até a pensar que sim, que existe. Mas não há nada que concretamente o sustente.

Há vários anos publiquei neste jornal uma notícia dando conta de uma vaga de assaltos em Cascais, na Quinta da Marinha, praticados por um gangue oriundo do Leste europeu (não me lembro de que nacionalidade). Semanas depois recebi uma carta de um organismo estatal recordando-me que era proibida a referência à nacionalidade quando estavam em causa ações criminosas. Reagi com indignação, dizendo que se tratava de uma informação importante para os leitores – e que continuaria a não respeitar a lei. Nunca recebi resposta.

Ora, atualmente, a lei não só mantém aquela proibição como ainda é mais restritiva – pois as próprias forças policiais não têm acesso a essa informação, nem a podem registar nos relatórios que fazem. Quer isso dizer que pura e simplesmente não existem dados a tal respeito. Dentro de uns anos, quando se quiser fazer a história da criminalidade em Portugal, não haverá elementos disponíveis sobre os seus autores.

Estamos perante uma censura.

Fátima Bonifácio publicou há semanas um excelente artigo (os seus artigos são quase sempre excelentes) dizendo que não se sente totalmente livre para escrever o que pensa.

Julgo que isto exprime o que sentem todas as pessoas que escrevem – e que não são ‘de esquerda’. Só a esquerda pode dizer com toda a liberdade o que quer. Os outros têm de pensar duas vezes, não abrir completamente o jogo, contornar o assunto quando o tema é delicado.

Dir-se-á que, neste caso dos imigrantes e da criminalidade, a censura é ‘por boas razões’.

Trata-se de evitar o crescimento da xenofobia e do racismo. Saber-se que o aumento da imigração tem impacto na criminalidade, ou que esta é maior em certos grupos étnicos, alimentaria fenómenos xenófobos.

Ora, a censura é sempre feita em nome de um ‘bem maior’. Nenhum Governo diz: eu imponho a censura ‘porque sim’. Salazar instituiu-a em nome da proteção da maioria dos portugueses – que não poderiam estar expostos a notícias falsas ou perigosas. Não se podia dizer, por exemplo, que alguém se tinha suicidado – pois isso poderia estimular fenómenos de imitação e conduzir a outros suicídios.

A PIDE também foi criada para defender o país e a maioria dos cidadãos da ação de agitadores que queriam a subversão da ‘paz social’.

Todas as censuras e as polícias políticas têm uma justificação.

Neste caso, é para evitar a xenofobia e o racismo.

Ora, o racismo é abominável. Perseguir ou marginalizar uma pessoa pela sua cor ou origem é desumano. Mas a melhor forma de evitar o racismo será esconder a realidade? Será censurá-la? Os cidadãos não terão o direito de saber a nacionalidade e a origem dos autores de atos criminosos? Das duas, uma: ou não existe qualquer relação entre uma coisa e outra, e neste caso não há problema em referir os números, ou há mesmo relação entre a imigração e a criminalidade, e isso tem de ser dito e conhecido. Os cidadãos têm o direito de o saber.

E as polícias devem obviamente ter informação sobre o assunto, para o planeamento das suas ações e respetiva prevenção.

O racismo é péssimo – mas a omissão da realidade não é o modo certo para o evitar.

A opinião pública, para ser saudável, tem de ser informada com verdade.

Se se defender o racismo escondendo a realidade, no dia em que as pessoas perceberem que estão a ser enganadas, que há uma realidade escondida que lhes está a ser escamoteada, aí sim: tornar-se-ão mesmo racistas e xenófobas.