A mãe das gémeas luso-brasileiras afirmou esta sexta-feira não se lembrar de ter enviado um ‘mail’ à mulher do filho do Presidente da República para agradecer ao ex-secretário de Estado António Lacerda Sales o acompanhamento que deu às suas filhas.
“Eu não tenho conhecimento desse ‘mail’. Não tenho conhecimento desse ‘mail’ a Juliana Vilela Drummond. Os pedidos eram direcionados a várias pessoas e não havia forma de saber”, disse Daniela Martins na Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia da República.
“Os meus pedidos [de ajuda] foram feitos por grupos no WhatsApp de pessoas que me ajudavam a disparar. Não posso garantir que fui eu a escrever. Tinha diversas pessoas que tinham acesso à minha conta”, realçou Daniela Martins em resposta ao presidente do Chega, André Ventura.
Daniela Martins reiterou que não conhece o filho do Presidente da República, dizendo que só se encontrou com a sua mulher, Juliana Vilela Drummond, no final de 2022, quando já se encontrava no Brasil, num evento público em São Paulo.
Considerando “não ser um absurdo” haver várias pessoas com acesso à sua conta, a mãe das gémeas acrescentou que “havia tentado todos os caminhos para encontrar o acesso à medicação”.
A mãe das crianças foi confrontada com o visionamento do ‘mail’ enviado a Juliana Vilela Drummond através da sua conta, mas reforçou não se recordar do envio. Mais à frente, questionada pela IL sobre quem tem acesso ao seu email e ao seu telemóvel pessoal, Daniela Martins afirmou que era quem estava a acompanhá-la quando as crianças estavam nos cuidados intensivos.
“As minhas cunhadas, irmãos, familiares de modo geral que tinham acesso ao meu telemóvel e às informações para dar seguimento às alternativas de tratamento para as meninas”, acrescentou.
Sobre uma mensagem que terá enviado por Whatsapp para Nuno Rebelo de Sousa, a mãe das gémeas disse que não acha possível que alguém tenha enviado do seu telemóvel “porque não tinha o contacto” do filho do Presidente da República.
Daniela Martins não acha “nada impossível que a informação [sobre a situação das suas filhas] tenha chegado a ele”, e que quando lançou o pedido de ajuda financeira, esse “grito de socorro pode ter chegado através de alguém”, até porque viviam “na mesma cidade”.
“Eu não tenho meios de perceber quem foram os elos até chegar ao Dr. Nuno Rebelo de Sousa, também gostava de saber”, afirmou, indicando que esta situação “chegou a ele e a muita gente”. A mãe referiu que “não tinha ouvido falar” de Nuno Rebelo de Sousa, mesmo “quando ainda morava em São Paulo”.
Em causa está o tratamento hospitalar de duas crianças residentes no Brasil e que adquiriram nacionalidade portuguesa e receberam o medicamento Zolgensma. Daniela Martins salientou que já planeava ir para Portugal antes de as filhas precisarem do ratamento com o medicamento no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Com um custo de dois milhões de euros, este fármaco tem como objetivo controlar a atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa.
O caso está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.