Maria Quintans. Uma pergunta viva que rejeitava a lógica

1955-2023. Poetisa e dramaturga.

No poema Meditações sobre o fim, publicado no livro Se me empurrares eu vou, editado pela Assírio & Alvim em 2019, escreveu: «Os poetas disseram que o poema era um ser superior à morte». «O importante na vida sente-se, não se vê. Sente-se no afeto que dás aos outros que não o sentem», defendia, citada pelo ator e seu amigo Albano Jerónimo na nota de pesar publicada pela mesma editora que reuniu um conjunto de textos de pessoas que lhe eram queridas. Era «uma pergunta viva, um peixe no aquário às voltas consigo próprio e com o sentido da vida», segundo a sua colega e também amiga Ana Marques Gastão. Além disso, «rejeitava a lógica, o sentido rimava com o absurdo, a irracionalidade, a rebeldia, o protesto». A poetisa e dramaturga Maria Quintans morreu na noite do último sábado, no Hospital de S. José, em Lisboa, onde estava internada há uma semana, na sequência de um aneurisma cerebral.

A autora nasceu em Lisboa em 1955 e deixou mais de dez livros editados, entre os quais Apoplexia da Ideia, em 2008; Chama-me Constança, em 2010; O Silêncio, em 2013; A Pata da Cabra, em 2014. Fez parte da criação da revista Inútil, onde foi diretora editorial, e criou as editoras Hariemuj Editora, Cama de Gato Editora e Edições Guilhotina.

Iniciou-se na escrita de dramaturgia em 2015, com o monólogo Décimo Terceiro Andamento. No ano seguinte, escreveu uma peça infanto-juvenil intitulada Este Não Sou Eu, bem como A Síndrome da Culpa​, em 2019. Em 2020, escreveu também as peças A Síndrome da Culpa e Os Demónios Não Gostam de Ar Fresco, esta última sobre o universo de Ingmar Bergman, que considerava «um dos maiores artistas do século XX» e por cuja obra tinha um enorme fascínio. «Depois de muitas visualizações dos seus filmes e pesquisa das suas questões sobre o mais profundo de nós, humanos, concluo que Bergman encontrou na literatura e nas artes cénicas uma forma de recriar e questionar a condição humana. Foi um obsessivo e perfeito investigador da alma humana e retirou do palco muito do material de que precisou para os seus 56 filmes», escreveu a autora em 2021. Chegou mesmo a fazer uma visita à mítica casa do dramaturgo e cineasta na ilha sueca de Fårö.