Há dias assisti na televisão a um debate entre o advogado Garcia Pereira e o jornalista Eduardo Dâmaso em que os dois estavam, praticamente, em barricadas opostas. O ilustre causídico barafustava contra a violação do segredo de Justiça, no caso em apreço nas escutas de António Costa com João Galamba, e do processos que considerava inqualificáveis, como a própria Operação Influencer, além da Operação da Madeira, entre outros casos. Numa leitura óbvia, para Garcia Pereira o Ministério Público é o mau da fita e, como o Manifesto dos 50+50 defende, tem de ser ‘abocanhado’. Ah! E quanto às fugas de informação, é ou não verdade que todos os advogados já tiveram acesso ao processo? Por que terá de ter sido o Ministério Público a colocar cá fora as escutas, que diga-se que não têm qualquer interesse criminal, para já, e que deviam ter sido guardadas para utilização, ou não, futura?
Do outro lado, estava um jornalista com muita tarimba de Justiça, e não só, que explicava como o Ministério Público, às vezes, falha, mas, na maioria dos casos, acerta. E dava um exemplo cristalino como foi o processo Face Oculta, em que fui o primeiro assistente, e até podemos discutir a utilidade de tal figura, em que os responsáveis pela investigação fizeram um trabalho notável. Não penso que o Ministério Público seja uma entidade sem pecados, bem pelo contrário, mas querer amordaçá-la como querem alguns aiatolas da nossa praça é que não. Já agora, não vi ninguém, e peço desculpa se vi mal, a manifestar-se com tanta veemência como o fizeram no caso de António Costa quando se soube que Pinto da Costa foi avisado de que iria ser alvo de buscas. Por acaso Pedro Marques Lopes, um dos subscritores do Manifesto, aquele rapaz que é muito rápido a dar opiniões, mas muito lento a compreender os assuntos de que está a falar, disse alguma coisa sobre essa violação do segredo de Justiça? Claro que não, o FC Porto de Pinto da Costa podia bater à sua frente que ele não via nada…
Por falar em Pinto da Costa, e não tenho qualquer gozo em bater em quem está no chão, passou despercebida uma entrevista ao zero.zero do jogador checo Vlk, que aqui reproduzo parte: «Assaltaram o meu carro e roubaram-me os documentos todos. Fiquei sem a carteira. Eu precisava de conduzir para ir para as Antas e fiquei muito preocupado. Como é que eu ia arranjar uma carta de condução e um bilhete de identidade novos num país diferente do meu?» zz – Como resolveu isso? LV – «Não resolvi. Fui bater à porta do gabinete do presidente e contei-lhe tudo. A reação dele foi inacreditável (risos). Pegou na carteira dele, deu-me a carta de condução e disse-me assim: ‘se a Polícia te mandar parar, mostra-lhes isto e tudo vai ficar bem’». zz – E isso aconteceu mesmo? Ou seja, a Polícia mandou-o parar? LV – «Várias vezes (risos). Eu ia muito cedo para o treino, havia muitas operações na estrada. Baixava o vidro, mostrava a carta de condução do sr. Pinto da Costa e deixavam-me seguir. Foi mesmo assim. Fui roubado e andei a conduzir anos com a carta do presidente».
Episódio mais revelador do que este, sobre o poder de Pinto da Costa na cidade do Porto, não deve haver muitos, embora quem se lembre do acidente em que o antigo futebolista Sergey Yuran matou um antigo jogador de basquetebol do clube, Ângelo Oliveira, pense o contrário.