BOCHUM – Com a eliminatória dos oitavos-de-final já marcada para dia 1 de Julho, em Frankfurt, Portugal depara-se, amanhã, pelas 21h de Berlim (20h de Lisboa), em Gelsenkirshen, com um dos jogos mais sensaborões desta fase final do Campeonato da Europa. Claro que este sem sabor se aplica por inteiro aos portugueses pois do lado da Geórgia ainda haverá certamente uma última chama de esperança acesa na qualificação. Escrevo este texto antes de saber os resultados dos encontros desta noite, por óbvios imperativos de fecho que me fogem ao controlo e são sempre condicionantes de uma exploração mais profundas das possibilidades. Ontem ficámos a saber que, no Grupo A, a Hungria acabou com três pontos, o que a dificulta a sua luta pelos quatro melhores terceiros que passam à fase seguinte. E, agora utilizando um exemplo que nos diz respeito, a Geórgia se bater Portugal atingirá os quatro pontos. Mas teria de rezar para que a Turquia ganhasse à Chéquia ou então que empatassem.
Como já disse e repeti para aí uma centena de vezes nestas páginas, não sou nem bom a adivinhar nem a dominar as contingências da aritmética. Os ábacos e as máquinas de calcular passam-me ao lado. Tal como vamos ter de esperar até quarta-feira para saber quem será o terceiro classificado do nosso Grupo F, precisamos de esperar por hoje e por amanhã para saber quais serão os melhores terceiros dos Grupos B e C, de onde sairá o mais que provável adversário de Portugal desde que faça melhor do que a Hungria. Candidatos são vários, desde a Eslovénia à Sérvia e até à Albânia se cometer a surpresa de vencer uma Espanha já apurada em primeiro do seu grupo e que, assim sendo, aproveitará certamente a noite de hoje para descansar muitos dos seus jogadores. A roda da fortuna está a dar as suas voltas, sentemo-nos pacientemente para ver o que nos calha na rifa.
Que Portugal? Jornalista não faz perguntas. Responde a elas. Ou, se as faz vai em busca da resposta para os seus leitores. Ora, eu não tenho uma resposta concreta para esta questão mas parece-mo tão natural como óbvio que Roberto Martinez aproveite o encontro com a Geórgia para apresentar um onze quase completamente renovado de forma a manter os seus titulares, se assim lhes podemos chamar, numa redoma até ao confronto de Frankfurt. Sabemos que o comboio para lá já não passa pelo jogo de Gelsenkirshen, essa cidade que chegou a ser o maior centro mineiro de carvão de toda a Europa. Aceitemos sem reservas que, neste momento, além de poupar, o selecionador nacional também pretenderá manter os que até aqui não jogaram, ou jogaram apenas minutos, em estado de alerta e com os níveis motivacionais em alta. Nada portanto como dar-lhes a titularidade e desafiá-los a apresentar argumentos que os faça ficar mais próximos da equipa principal.
Nos dois jogos anteriores, Roberto Martinez apesar de ter aplicado dois sistemas de jogo diferentes não mudou muito a cara da equipa. Ao passar de uma defesa a três para os quatro-em-linha sacrificou apenas Diogo Dalot, dando preferência a João Cancelo que passou, da Chéquia para a Turquia, da esquerda para a direita. Depois reforçou o meio-campo com o jogador que mais se aproxima daquilo que Portugal realmente precisa para libertar Vitinha e Bruno Fernandes para os seus movimentos de apoio ao ataque – João Palhinha. Sinceramente, e a opinião é minha, Palhinha é um elemento fundamental não apenas pela envergadura física, sempre importante em torneios com este (a França está aí para o demonstrar), mas também pela serenidade com que sempre joga. A substituição por Ruben Neves, no intervalo do último desafio em Dortmund, não fez notar grandes diferenças (Neves é, em relação a Palhinha, mais ativo no passe longo) mas também é verdade que os acontecimentos sobre o relvado já tinham entrado em velocidade de cruzeiro.
Na frente. É para a frente de ataque que Portugal tem mais opções que ficam reservadas para o banco. Todos eles já tiveram os seus minutos, é verdade, mas nada de muito significativo tirando aquele foguetório de três minutos derradeiros contra a Chéquia protagonizado por Pedro Neto e Francisco Conceição.
Comecemos por Pedro Neto. Dá a ideia que é, para Roberto Martinez, o sustituto natural de Leão, mas foi inconsequente e trapalhão em 45 minutos contra os turcos. Leão, por seu lado, na primeira parte já deu uma muito melhor ideia do seu estilo do que o fizera contra os checos mas está com o tique irritante de fazer teatro em excesso, algo que já lhe valeu dois amarelos e o faz ficar, automaticamente, fora do jogo de amanhã. Far-lhe-á bem ir para a bancada e pensar que não vale a pena insistir em tantos mergulhos para o relvado seguidos de protestos plenos de vacuidade.
Continuemos com um fenómeno cada vez mais apagado e que nos obriga a seguir pelos caminhos da psicologia: João Félix. O suave milagre a que assistimos com a sua entrada na primeira equipa do Benfica e que tanto contribuiu para que os encarnados conquistassem o título nessa época vem-se desvanecendo com uma manhã de nevoeiro. Roberto Martinez parece estar tão desiludido com ele como todos nós que lhe prognosticámos um futuro bonito. O rapaz perdeu chama e alegria, parece triste e conformado. Uma chamada à titularidade amanhã pode dar-lhe algum gás de forma a ainda vir a ser útil neste Europeu se não foi, pelo caminho, mordido pela mosca do vedetismo que costuma ser fatal para jogadores na sua fase de evolução.
Natural igualmente, que o selecionador Nacional faça descansar Ronaldo e Pepe, a Velha Guarda que sempre reclamei ser indispensável quando começássemos a ter jogos duros e que felizmente me dá razão. Pepe tem uma autoridade inata que faz com que uma linha defensiva se assemelhe a uma parede. Ronaldo deixou-se de correrias infrutíferas, percebeu que já há aí muito jovem mais veloz do que ele, e concentrou-se na função na qual faz a diferença, a de ponta-de-lança que não só agarra dois ou três defesas como abre espaços a quem vem detrás. Nesse aspeto, em Frankfurt nada irá mudar, embora em Gelsenkirshen Gonçalo Ramos, outro desaparecido em combate, possa tomar o seu lugar e mostrar que não perdeu o caminho do golo. Veremos já não tarda muito se tal esta análise bate certo.