Há 90 anos, a marca francesa concebeu um dos modelos mais icónicos da indústria automóvel. Lançado em abril de 1934 com a denominação comercial 7, era essa a sua potência fiscal, rapidamente ganhou o nome de Traction Avant devido à tração ser feita às rodas dianteiras. Em Portugal, ficou também conhecido por arrastadeira, a frente comprida, larga e baixa fazia lembrar esse recipiente. Foi a última criação de André Citroën, que morreria poucos meses depois. O fundador da marca queria surpreender com um automóvel revolucionário que estivesse dois anos à frente dos outros – «não existe outro carro como este no mundo inteiro» – e aguentasse os efeitos da crise económica provocada pelo crash na Bolsa de Nova Iorque em 1929, cujos efeitos se começavam a fazer sentir fortemente na Europa.
O caderno de encargos contemplava uma estrutura monobloco em aço, tração às rodas dianteiras, motor flutuante com válvulas à cabeça, travões hidráulicos e suspensão independente nos dois eixos, com barras de torção a substituir as molas de lâminas. O novo automóvel desenhado pelo italiano Flaminio Bertoni deveria ser também notado pela sua elegância. O projeto demorou 18 meses a tornar-se realidade. Para produzir o novo modelo, a Citroën aumentou e modernizou a fábrica de Javel, em Paris, que passou a ser a maior da Europa.
Foram produzidas quatro versões do Traction Avant: 7, 11, 15 e 22. Foi lançado como berlina de quatro portas, coupé e cabriolet com para-brisas rebatível, que dava o aspeto de roadster. Tinha um motor de quatro cilindros de 1.303 cc com 32 cv, caixa de três velocidade com manete encastrada no painel de instrumentos e atingia 95 km/h. A imprensa especializada elogiou o comportamento dinâmico e a segurança, salientando o conforto em estradas de mau piso. Alguns meses mais tarde surgiu o Citroën 11, que era 40 cm mais comprido e 14 cm mais largo. Estava disponível com carroçaria de quatro janelas (cinco lugares) e de seis janelas (de sete a 9 lugares), que funcionava como carrinha.
Rei da estrada
Ao longo dos anos teve diferentes desenvolvimentos tecnológicos, ficando conhecido como o automóvel das 100 patentes. A primeira evolução foi o aumento da cilindrada e potência para 1.529 cc e 35 cv. A seguir surgiu a versão desportiva com motor 1.910 cc e 46 cv. Em 1938, foi lançado 11 Commerciale, uma versão de cinco lugares, com porta traseira e um espaço de carga que podia transportar até 500 quilos. A última evolução foi a introdução do motor de 68 cv, que viria a equipar mais tarde o DS 19 e ID 19. O Citroën 15 foi considerado um estradista por excelência graças à suspensão hidropneumática no eixo traseiro. De todos os modelos Traction, o mais enigmático foi o 22. Era um desportivo com motor V8 de 3.822 cc e 100 cv, capaz de atingir 140 km/h. Sabe-se que foram produzidas duas dezenas de unidades, só que desapareceram até hoje.
Durante a Segunda Guerra Mundial foi requisitado pelos nazis ao mesmo tempo que era usado pelos Maquis durante a ocupação alemã e tornou-se um símbolo da resistência francesa. O Traction Avant foi também o automóvel oficial do Estado francês e o preferido do General de Gaulle. O Citroën 11 também fez história na competição e venceu por três vezes Rallye Lyon-Charbonnières (1950 a 1952).
O lançamento do DS, em 1955, acelerou o fim do Traction Avant, em julho de 1957. Em pouco mais de 23 anos foram produzidos 758.948 veículos. O preço de lançamento era de 17.700 francos (2.700 euros), atualmente é considerado um carro de coleção e, dependendo do estado de conservação, o preço varia entre os 20.000 e os 32.000 euros.