Em Março de 1926, altura em que a radio vivia o início do processo de amadurecimento, o intelectual marxista e revolucionário bolchevique, Leon Trotsky, profere uma comunicação junto dos elementos da Society of Friends of Radio. A sua opinião era de que a canalização de verbas para a investigação científica não era um disparate, pois os desenvolvimentos da ciência possibilitariam elevar o nível da qualidade de vida das pessoas.
Trotsky fala nesta conferência sobre a importância da rádio para diminuir as distâncias com os povos mais afastados dos grandes centros. Fixemos a palavra rangidos, e a expressão sons confusos, por ser assim, que Trotsky descreve o seu primeiro contacto com a rádio, quando pela primeira vez escutou o som que saia de um fonógrafo. Os avanços tecnológicos dos 25 anos anteriores à data da comunicação de Trotsky foram tantos, que fazem perder o espanto dos avanços da tecnologia da rádio (automóvel, aviação, cinema e telegrafia por exemplo).
O tempo e o espaço não são uma criação da mente, mas sim algo impossível de dissociar da matéria. Os fenómenos da radioactividade e do wireless foram bandeiras da ciência contra o materialismo, mas na verdade não provocaram o mais pequeno dano.
Ao contrário de outros como p.e. Marconi, que assumiam que a rádio poderia significar o fim da guerra [pensamento comum a outros avanços tecnológicos consideradas como conquistas para a implantação da paz], Trotsky achava que isso mais não era que um pensamento repetido sempre que surgiam novas descobertas. A aviação é um desses casos, quando se pensou ser motivadora do fim da guerra e contribuir para a paz, mas, em termos militares viria, isso sim, a abrir uma nova época.
Hoje são as redes sociais que dominam e seguindo o raciocínio atrás apresentado será na sua utilização que poderíamos colocar a esperança num mundo melhor, mais equilibrado na justiça e na paz. As redes sociais são aquilo que cada um faz delas. Mas muitas imbecilidades que por lá se escrevem ganham ampliação e marcam um descrédito que vira crédito e que não dá espaço ao otimismo. É uma pena que todos sintam que têm algo a dizer ao mundo…
Professor Universitário
Diretor da licenciatura em Ciências da Comunicação – Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa.