O Rock in Rio festejou os seus 20 anos com direito a tudo. E em celebrações com estas dimensões o tudo envolve também aquilo que não se quer. Contratempos à parte, a casa nova ficou estreada e, se as comparações foram inevitáveis, não se pode dizer que a mudança não tenha sido uma modernização: face à morada da Bela Vista e as suas “divisões”, que se tornaram míticas para o festival nas anteriores 9 edições, o Parque Tejo é aquela transição para uma casa em plano aberto (o famoso open space), por acaso uma tendência, com a vista rio a acrescentar-lhe aquele valor extra significativo.
Para quem chegava com os pulmões de fora ao antigo recinto, sem ainda sequer ter assistido a qualquer concerto, graças àquela célebre subida íngreme até alcançar a entrada, também é fácil reconhecer que este novo rés do chão se torna mais valioso, sobretudo com a rapidez e eficácia do transporte (leia-se shuttle) reservado para o destino final.
Já dentro do recinto, discutir o preço do hambúrguer ou do açaí torna-se irrelevante: já é caro cá fora, num festival – seja ele qual for – não seria exceção.
Chegados à parte musical deste segundo fim de semana do RiR, não foi necessariamente preciso esperar por Ivete Sangalo para o Parque Tejo levantar poeira, embora fosse mais ou menos a partir do horário definido para a cantora brasileira que o vento tenha começado a ajudar a dar sentido a um dos maiores êxitos da artista – que, digam o que disserem, continua a provar de todas as formas (do canto, à dança e à interação com o público) o facto de ter o estatuto de residente no cartaz.
Já Camila Cabello saiu de Portugal com o passaporte carimbado pela deceção do público. A artista mexicano-cubana até tem vídeos no YouTube a falar português, mas preocupou-se em fazer um espetáculo para todos menos para os fãs que ansiavam a sua estreia no nosso país. Recuada no palco sempre que pôde, numa das poucas vezes em que se aproximou da plateia fez questão de colocar uma máscara, retirada apenas quando voltou ao seu lugar de eleição, mais para trás, num cenário montado a lembrar uma espécie de Got Talent, talvez pela própria artista ter “nascido” num destes reality shows de talentos. De resto, dedicou a hora que lhe estava reservada para fazer um show exclusivamente pensado para promoção de conteúdos nas plataformas digitais. Mas a lição de Camila, de 27 anos, chegou logo a seguir, e foi dada pela rapper Doja Cat. Produto das redes sociais, a norte-americana terminou a sessão do palco mundo do RiR verdadeiramente conectada com o público do Parque Tejo.
Um verdadeiro espetáculo para os seus seguidores. Mais ainda: independentemente do registo musical, a artista de 28 anos convenceu até quem não a conhecia e pensava abandonar o recinto mais cedo.