Donald Tusk. Herman Van Rompuy. Charles Michel. Vários foram os desafios enfrentados pelos presidentes que passaram pelo Conselho Europeu durante os seus mandatos. Um total emaranhado no interminável novelo de crises europeias – desde a crise migratória e o Brexit com Tusk, a estabilização da Europa após a crise financeira global com Van Rompuy e, mais recentemente, a árdua tarefa de Charles Michel de gerir uma crise na saúde com a pandemia covid-19.
Chegou o momento da mudança. Com base em negociações entre os Socialistas Europeus, o PPE e os Liberais, António Costa está apontado como o ‘senhor que se segue’.
Tudo indica que será a escolha para liderar o Conselho, mas não é certo. Aprovado pelos negociadores dos 27 governos nacionais, faltam ainda 2 momentos importantes – a bênção na Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo e, indiretamente, o resultado da votação de Ursula von der Leyen no Parlamento Europeu.
Há muita coisa em jogo e, apesar de todas as expectativas positivas para Costa e para Portugal, o alinhamento pode mudar.
Este é um momento importante para a carreira política de António Costa e para o país. Tive divergências com António Costa, naturais quando somos de famílias políticas adversárias e quando convivemos durante largos anos em funções com responsabilidade pública. Mas também convergimos com o objetivo de resolver problemas. Esta relação nunca impediu de lhe reconhecer os méritos e de procurar alcançar compromissos, sempre que possível.
Para além de todas as competências de Costa, amplamente discutidas pelos comentadores da nossa praça, introduzo um ângulo diferente que faz do socialista um candidato forte: o facto de termos, pela primeira vez, um presidente do Conselho Europeu com experiência de presidente de Câmara. Alguém que teve um passado como autarca e, no papel de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, conheceu de perto a realidade das cidades. Que tem experiência em matérias tão sensíveis como a negociação de medidas entre autarcas que mexem diretamente com a vida dos cidadãos.
Comecei há quase 20 anos a lutar pela descentralização. Era líder da distrital de Lisboa do PSD quando abri espaço para a reforma administrativa da capital, com António Costa nos Paços do Concelho. Considerando a grave situação financeira em que se encontrava a CML, juntos definimos uma estratégia para ultrapassar este problema. O mesmo aconteceu na reorganização do mapa administrativo de Lisboa, reduzindo as então 53 freguesias para 24.
Ideologias à parte, o objetivo de colocar os interesses da cidade em cima da mesa, em termos de competitividade, prevaleceu. Uma estratégia que visava otimizar a gestão municipal e melhorar a eficiência dos serviços públicos. Uma visão de futuro através de medidas descentralizadoras, ao nível das autarquias, que têm vindo a fazer a diferença a nível europeu.
Sou um defensor das cidades como motor para construção da Europa. Assim se fez a nossa história. Desde a Antiguidade que as cidades surgiram como centros de comércio, cultura e poder.
As cidades são e sempre foram o centro demográfico, económico e científico do mundo. Se o século XIX foi o século dos impérios, o século XX o dos Estados, o século XXI será, certamente, o século da Cidade.
Como Presidente do Conselho Europeu, António Costa pode ser visto como alguém que irá promover uma política de conciliação e de solidariedade pan-europeia, num tempo de violenta ameaça aos nossos valores.
Com ele, não tenho dúvidas de que o próximo ciclo de desenvolvimento será moldado mais pela visão do governo das cidades do que pelo governo das nações.
António Costa é sinónimo de oportunidade. Oportunidade para construir pontes. De promover uma Europa economicamente viável, demograficamente sustentável e menos desigual. Que os ventos soprem a seu favor. O seu sucesso será também o nosso.