Jogos online. Receitas com valor recorde

Há cada vez mais portugueses a jogar online e, com isso, crescem também as casas de apostas ilegais e já há queixas-crime. Quando aos valores gastos por consumidor, associação garante que “estão em linha com o expectável”.

Os jogos online ganham cada vez mais destaque e os valores gastos pelos apostadores têm subido. Ricardo Domingues, presidente da Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online (APAJO), detalha que, no ano passado, as receitas brutas de jogo dos operadores de jogo online foram 845 milhões de euros. Já as receitas fiscais ultrapassaram os 268 milhões de euros no mesmo ano. Já nos primeiros três meses deste ano foi estabelecido um recorde trimestral ao atingir 86 milhões de euros. “Não existem dados oficiais sobre gastos por jogador, mas o estudo anual conduzido pela APAJO aponta para cerca de três quartos dos jogadores gastarem até 50 euros por mês e menos de 7% dos que jogam exclusivamente em operadores licenciados gastarem mais de 100 euros”, explica ao nosso jornal, detalhando que “estes números estão em linha com o expectável”.

Questionado sobre se considera estes valores razoáveis, Ricardo Domingues defende que “os dados apontam para um consumo consumo recreativo, que é o que se pretende”. E acrescenta que o setor “está de qualquer forma empenhado que o consumidor esteja cada vez mais informado e a seguir as melhores práticas de jogo responsável”, garantindo que a APAJO conta, ainda este ano, realizar uma campanha de promoção da utilização espontânea de limites de depósito e de valor apostado, “que é uma ferramenta disponível em todos os operadores licenciados e se adequa facilmente à realidade de cada um. Gostaríamos que fossem encarados como total naturalidade, algo que se ativa como uma medida preventiva”, destaca.

Sobre se os portugueses estão ou não a gastar mais em jogos online, o presidente da APAJO diz que “através dos dados públicos é visível que tem havido uma transferência do jogo físico para o jogo online, tal como acontece noutros produtos igualmente do setor do entretenimento, tais como os audiovisuais”. Quer isto dizer que “o jogo online tem estado, portanto, a crescer”.

E quais são as plataformas mais usadas? Ricardo Domingues diz que, dentro das aportas desportivas “sem surpresa o futebol é o grande destaque, seguido do ténis e basquetebol”. Já nos jogos de casino “as slot-machines digitais ocupam a primeira posição”.

O i tentou ainda perceber o perfil do jogador com o presidente da APAJO a explicar que “tratando-se de um produto digital, naturalmente encontra mais acolhimento por pessoas até aos 44 anos, apesar de ainda existirem cerca de 20% de registos de pessoas acima dessa idade. O segmento com mais registos é dos 25 aos 34 anos”.

O problema da atividade ilegal

É preciso ter em conta que nem todos os sites de apostas e há muitos, principalmente os que são publicitados por muitos influencers, que não são legais. Há, por isso, muita atividade ilegal em Portugal? “Infelizmente sim”, lamenta Ricardo Domingues, lembrando um estudo da APAJO sobre o assunto. “Os dados do nosso estudo mostram que no mínimo 40% dos jogadores ainda joga em plataformas ilegais”. Um número elevado que traz consigo grandes perdas para quem funciona dentro da legalidade. “Estamos a falar de muitas pessoas e de uma receita fiscal perdida muito dificilmente abaixo de 100 milhões de euros”. O responsável atira: “Infelizmente os operadores ilegais ainda conseguem chegar às pessoas, nomeadamente através de pesquisas no Google ou de influencers que os promovem ativamente”.

O presidente da associação lamenta ainda que “uma constatação difícil de aceitar é que vários destes operadores ilegais disponibilizam Multibanco e MBWay como métodos de pagamento, o que significa que há muito dinheiro a percorrer o sistema bancário português na direção destas empresas que estão a praticar crimes”. Acresce ainda, continua o responsável, “que a presença destes métodos de pagamento legitima aos olhos do consumidor português estes operadores ilegais”, lembrando que a associação que represente tem tido reuniões institucionais a vários níveis “a tentar criar consciência para o problema e procurar soluções”.

É que, alerta, “os grandes perigos em causa são para o consumidor”. E explica: “Estes sites não são sujeitos a nenhuma das garantias dadas pelos operadores regulados. Não confirmam a identidade de quem se regista, o que permite o acesso de menores e de outros públicos vulneráveis, como pessoas que possam estar autoexcluídas dos sites licenciados”.

E defende que é preciso que “este ponto seja muito bem compreendido: jogadores que sintam que têm ou podem vir a desenvolver problemas de jogo e que usem as ferramentas de jogo responsável disponíveis nos operadores licenciados, como a autoexclusão, mantêm-se totalmente expostos nos sites ilegais”.

Além disso, destaca ainda Ricardo Domingues, os jogadores poderão encontrar outros problemas “como fraudes, não sendo pagos os prémios ou processados os levantamentos, utilização indevida de dados pessoais, etc. Já para não falar de ser perdida a contribuição fiscal e poderem estar a contribuir para organizações criminosas”.

Por isso, sugere que a melhor forma de proteger os jogadores online “é garantir que quando jogam o fazem em operadores licenciados onde existem ferramentas de jogo responsável para manter o jogo como uma prática lúdica”, diz ao i, defendendo que o jogo online regulado “é o ambiente mais seguro para acolher os consumidores que desejem desfrutar desta forma de entretenimento digital”.

Recorde-se que ainda este fim de semana a APAJO avançou com queixas-crime contra influencers que promoveram, nas redes sociais, jogo ilegal para milhões de seguidores e operadores. “A APAJO avançou, nos últimos dias, com queixas-crime visando vários produtores de conteúdos que, no seu conjunto, promoveram através das redes sociais o jogo ilegal para uma audiência de alguns milhões de seguidores e operadores de jogo online sem licença para operar em Portugal”, revelou a associação em comunicado. Em causa estão os produtores de conteúdos ritinhayoutuber, GODMOTA e Bruno Savate que promoveram websites de jogo ilegal, tendo sido denunciados e objeto de queixa-crime. Este não é um caso inédito, tendo em conta que o mesmo já aconteceu, no final de 2023, com Numeiro, que também foi alvo de uma queixa crime. Uma queixa semelhante foi ainda feita contra Cláudia Nayara no início de 2024.

Segundo a APAJO, a lista de operadores alvo de queixa crime no Ministério público – que já incluía a Vem Apostar! – vê agora juntar-se empresas como Betify, Monro, Weiss, BC Game, Stake, Wolfi e Starda.