A França foi a votos e, conforme era expectável, a direita conservadora e soberanista foi a força mais votada nesta primeira volta.
O sistema eleitoral francês diverge dos restantes em vigor na generalidade das democracias parlamentares porquanto, se o candidato mais votado na primeira volta não obtiver maioria absoluta, terá que haver um segundo escrutínio, ao qual concorrem apenas as três listas que alcançaram maior número de votos.
Este sistema tem permitido maiorias sólidas na assembleia nacional francesa, regra geral em consonância com a família política do presidente em exercício, com excepção de dois únicos momentos.
Os resultados agora verificados vão no caminho de uma garantia, a de de Macron vai ter de lidar com um governo de sinal contrário, sendo que a lógica é a de que este venha a ser sustentado por uma maioria confortável no órgão do qual emana o poder legislativo.
No entanto, em política, sobretudo nos tempos que correm, nem sempre a lógica se confirma como um valor absoluto.
A chamada direita moderada, também designada por centro-direita, que engloba os partidos centristas, dos quais faz parte a base de apoio do actual presidente francês, os liberais e aqueles que têm a sua génese nas democracias cristãs que emergiram no final da segunda guerra, permitiu-se ficar refém das linhas vermelhas traçadas pela esquerda mais radical e anti-democrática.
E este traçado que em circunstância alguma pode ser pisado, segundo esta tirania que se enraizou nas ditas democracias ocidentais, configura-se na tese de que todas as alianças são possíveis para que a governação dos países não se torne inviável, com excepção de qualquer tipo de aproximação aos partidos que aquela esquerda decretou como sendo de extrema-direita.
Em Portugal, esta estratégica tem sido religiosamente seguida pelo governo que resultou do último acto eleitoral, tendo em conta que Montenegro, não dispondo de uma maioria que lhe permita governar de acordo com a vontade dos portugueses, recusa-se a negociar à sua direita para a aprovação das medidas que pretende implementar, e que são as que foram sufragadas pelo eleitorado, optando antes por olhar para o espaço político preenchido à sua esquerda, do qual, obviamente, não recebe nenhuma reciprocidade.
Em França, tudo se conjuga para que este fenómeno ganhe forma. Macron entendeu-se com a frente popular, a segunda força política mais votada, para que os candidatos derrotados na primeira volta e que não tenham hipóteses de triunfar no segundo acto, a realizar-se este domingo, desistam em favor do outro melhor posicionado, que não o da União Nacional, o partido de Marine Le Pen.
Ou seja, Macron, em nome do que considera a defesa da democracia, prefere que os seus partidários escolham um movimento liderado pela esquerda radical, em prejuízo de uma direita que jamais pôs em causa o sistema político vigente nos países mais desenvolvidos do mundo, nunca questionou a liberdade de cada qual em se bater pelos seus ideais e aceita, sem reservas, mas com regras, a subordinação às instituições europeias.
Precisamente o contrário do preconizado pela partido de Mélenchon, o congénere do bloco de esquerda em terras gaulesas, mas ainda mais radical e anti-europeu do que os seus amigalhaços portugueses.
Mélenchon, o mentor desta nova frente que integra toda a esquerda francesa, representa o regresso a um passado que se suponha ultrapassado após a derrocada do muro de Berlim, tendo como referências os piores ditadores comunistas de que a História regista e cujos métodos de governação levaram ao extermínio de milhões de pessoas inocentes.
E é com esta gente que Macron se quer entender, sob o pretexto de impedir que o próximo governo francês, quase certo liderado pelo jovem político conservador Bardella, disponha de uma maioria absoluta na assembleia nacional!
Macron, apoiado nesta cruzada por grande parte dos governantes desta velha e decrépita Europa, pretende fazer-nos acreditar que os movimentos de inspiração conservadora e soberanista representam um perigo real para a sobrevivência da democracia e das instituições europeias, insistindo nas ameaças contra o papão da extrema-direita, o tal que, segunda esta doutrina delirante, vai pôr termo à liberdade a que nos acostumámos.
Suportados por uma imprensa que foi beber à cartilha marxista as suas preces, esta geração de fracos políticos têm-se empenhado em espalhar o medo juntos das populações, procurando convencê-las de perigos imaginários e completamente desenquadrados da realidade.
Na verdade, e se atentarmos aos factos, rapidamente chegamos à conclusão de que a liberdade e a democracia em momento algum foram postas em causa nos países onde os partidos, erradamente catalogados de extrema-direita, lograram alcançar o poder.
A Hungria, a Polónia, esta até há escassos meses, a Itália, a Austria e, mais recentemente, os Países Baixos, entre outros, não sofreram qualquer revés por serem governados pela direita conservadora e soberanista, muito pelo contrário, a estabilidade e o crescimento económico e social têm sido uma constante desde que os respectivos povos lhes confiaram a governação.
O próprio Trump, que antes da sua tomada de posse se vaticinaram guerras catastróficas que iriam conduzir ao fim da humanidade, foi o mais moderado dos presidentes norte-americanos em matéria de política externa e o único, nas últimas oito décadas, que não iniciou um novo conflito armado dentro de fronteiras alheias.
Ao invés, os seus esforços para se obter a paz em regiões há muito confinadas a confrontos sangrentos, foram genuínos e estavam no caminho do sucesso, apenas interrompidos pela sua derrota eleitoral aquando da recandidatura presidencial.
Com o regresso dos democratas ao poder, as guerras desencadearam-se em zonas sensíveis do globo e o mundo está hoje muito perto de uma catástrofe nuclear, bem mais real do que a que nos ameaçou ao longo da guerra fria.
No entanto, há que o reconhecer, a direita conservadora e soberanista assusta os interesses instalados em Bruxelas e na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, porque se atreve a procurar reverter as políticas globalistas que tendem a fazer desaparecer os Estados-Nações.
Esta direita é conservadora, porque se recusa a aceitar a destruição da família, pedra basilar da vida em sociedade, combatendo, para o efeito, a criminosa ideologia do género, cujo principal propósito é o de pôr fim à civilização cristã milenar em que o mundo ocidental se edificou.
E é soberanista porque, não pondo em causa os princípios fundadores de uma união europeia, se bate por uma Europa de Nações, rejeitando, desse modo, a ideia de uma Nação europeia única, conforme as pretensões dos dirigentes europeus subjugados ao lobby da finança internacional.
E é esta a exclusiva razão pela qual Macron, apoiado por parte significativa dos seus homólogos da UE, prefere dar a mão a uma esquerda que odeia a liberdade individual e é declaradamente opositora dos valores europeus, a permitir que os seus eleitores escolham livremente, sem pressões e ameaças, em quem depositar o seu voto.
Veremos, este domingo, a quem os franceses dão razão!
Pedro Ochôa