Há umas semanas vi um programa, o Toda a Verdade, na SIC Notícias, e fiquei chocado. A equipa, não sei se da BBC, andou pela Rússia a filmar o que está a ser feito com as crianças russas. Segundo dados oficiais, há mais de um milhão de jovens entre os seis e os 18 anos que andam em escolas que parecem sucursais do grupo Wagner, onde miúdos de seis anos são obrigados a aprender a usar armas de fogo, além de levarem com uma lavagem ao cérebro idêntica à dos seguidores dos facínoras afegãos que estão no poder em Cabul. As autoridades deram-lhe o pomposo nome de Movimento Nacional Patriótico da Juventude, onde os jovens podem ser processados por dissidência, caso não queiram pegar em armas e dizer loas ao camarada Vladimir Putin. Como dizia um dissidente ouvido pelos autores da reportagem, a «Rússia é um Estado canibal que devora os seus filhos», contribuindo para um distúrbio psicológico de âmbito nacional, colocando filhos contra pais ou contra quem achar absurdo toda a psicose
coletiva induzida.
E é este país que é defendido por tantos, à esquerda e à direita, como se não fosse evidente que Putin sonha com a reconquista do império soviético, nem que para isso mande crianças para a guerra. Pelo menos, disparar sabem. Vi o testemunho de uma mãe a defender uma criança que se tinha oposto à lavagem ao cérebro, explicando que tinham de conseguir fugir ou então estariam condenadas ao degredo. Enfim, assim se vê a força da Rússia.
Mudando de assunto, na quarta-feira li um artigo, no Público, de Alberto Pinto Nogueira, procurador-geral adjunto jubilado, cujo título dizia: ‘Não temo o Ministério Público’. Alberto Nogueira foi dizendo de sua justiça, até que me chamou a atenção para a história de um político do Norte que, quando uma procuradora lhe instaurou um inquérito, decidiu descer à capital, onde «fez ver ao procurador-geral da República a ignomínia, o atrevimento e abuso da procuradora que devia ser castigada, quiça até demitida».
No referido texto, o procurador-adjunto jubilado não diz o nome da personagem, mas na edição eletrónica há um link para seguir e percebe-se claramente de quem fala. Curiosamente, lembrei-me de uma história que se passou com um jornal do Norte que publicou uma notícia que não foi do agrado de um político local. Qual não foi o espanto da direção e da administração do jornal quando no dia seguinte descobriram que já não tinham lugar de estacionamento reservado à porta do matutino. Sua alteza real, o dono dos estacionamentos, ficou furioso e nada melhor do que castigar os infratores.
E são figuras dessas que assinam o_Manifesto dos 50, onde há personagens insuspeitas e por quem tenho respeito, mas onde saltitam pequenos figuras com sonhos de ditadores. Calculo que, se vivessem na Rússia, seriam dos mentores do Movimento Patriótico…
P. S. Como é possível os democratas americanos terem deixado Joe Biden chegar a este ponto? Será que os democratas não conseguem apresentar um candidato que represente condignamente o país? Joe Biden não tem culpa do seu estado de senilidade evidente, mas permitir que um doido como Donald Trump tenha o caminho aberto para regressar à Casa Branca é assustador. Se o problema fosse só dos americanos, estaríamos nós muito bem, mas infelizmente não é assim.