Há quem veja nos olhos dos outros apenas o seu reflexo; os que se acham demais para os seus homens porque eles não lhes são o suficiente; que não entendem que já só lhes pagam para molhar os pés e que, também por isso, lhes passou a vontade de subir o cordame carunchoso.
Há os que se acham com razões de sobra; que antes estavam convencidos, mas que agora se sentem perfeitos. Aqueles a quem não disseram que quando estão presunçosos de toda a razão, é porque não têm razão nenhuma. Não percebem que a nata sobe até azedar e que azedo já não é remédio.
Osho, no livro The Secret, diz-nos que o ego se alimenta do desejo de querer ser outra coisa; que ele vive na tensão do que é e do que ambiciona ser; que aqueles que se deslumbram e se julgam ícaros, acabarão com asas derretidas porque voaram demasiado perto do Sol.
Numa das suas palestras, o líder espiritual indiano refletia sobre o a presunção e a imodéstia para concluir que o ego é duro, mas a inteligência é delicada e que, também por isso, aqueles que se dizem mais do que são, na verdade, não são nem metade do que julgam que são.
O Almirante gosta de dizer por quantas tempestades já passou – quando o importante é saber se trouxe o navio –; gosta de perguntar aos seus homens se são ‘Vento’ ou ‘Bandeira’ – quando o importante é saber se ele navega; gosta de afirmar a sua autoridade humilhando em público os seus homens – quando ser forte não é ter ausência de fraquezas, antes a capacidade de superá-las.
E como acha que lhe bastam duas milhas náuticas do Alfeite até Belém, o Almirante já não tem os olhos no horizonte. Não é de admirar, ele comanda uma Armada que pouco mais é do que uma Marinha Costeira que não sai do porto. Por valentes que sejam os seus marinheiros, os navios já não têm coragem de atravessar o oceano para não perderem a costa de vista –, têm de ir abastecer todos os dias.
Gouveia e Melo gosta de nos olhar por cima das nossas cabeças e não aceita que o contrariem. Por isso, não gosta das ‘massas informes que têm interesses estranhos’, os tais que diz ‘não terem os desejos que o país necessita e que quer que sejam feitos’. Ele quer obrigar os jovens a voltar à Tropa e não percebe que eles já não estão dispostos a morrer pela Pátria.
Sinto ventos cruzados no pensamento deste ‘chico’ ao leme do seu porta-drones, mas ele acha-se o único capaz de expulsar os piratas de Tortuga – só não sei como lá vai chegar. O almirante insiste em transformar barcaças em reabastecedores e navegar para o alto mar sem uma fragata de proteção, é como fazer tiro ao pato – bastam uns zagalotes.
Gouveia e Melo é brilhante e demonstrou-o no desenho dos submarinos, mas alguém lhe devia dizer que ele não sabe tudo; que os feitos da Armada não são dele e que não pode destruir o valor da Marinha em proveito próprio.
Caro Almirante, já nem as ditaduras têm presidentes militares. Por isso, se quer baixar à terra e tem assim tanta ambição em subir a ladeira do Palácio, tenha a coragem de despir a farda ou deixe de meter o periscópio em buracos alheios e ‘ponha-se na alheta’.