Apesar das loucuras de Orban, hoje foi um bom dia para a Europa.
Escrevi, antes das eleições francesas o seguinte:
“esta gente (com o Melanchon a rivalizar no ódio com a Le Pen) não aprende nada.
Mas como Sartre direi: os dados estão lançados.”
Ao contrário do comentariado nacional que continua controlado directa ou indirectamente pelo guru Ricardo Costa, sempre afirmei que a decisão de Macron ao convocar eleições antecipadas foi uma excelente jogada.
Com efeito, o governo de Macron cairia em Setembro/Outubro na sequência de uma moção de censura já anunciada e que seria aprovada aprovada conjuntamente pelos extremistas de direita e de esquerda.
Era por isso uma questão de tempo, certa como o destino, e só a realização dos jogos olímpicos de Paris impediriam, para já, uma maior radicalização.
Em vez de se deixar “cozinhar em lume brando”, com enorme desgaste para o centro, (que colocaria em causa a possibilidade de uma vitória nas eleições presidenciais de 2027 e, então sim, a entrega de poder absoluto a Le Pen) Macron antecipou-se e obrigou os opositores a irem a jogo.
A própria Le Pen confessou que teve dificuldade em encontrar, em apenas 48 horas, cerca de 1000 candidatos às legislativas, tendo de recorrer à sua reserva de fascistas declarados e anti sionistas sem vergonha.
Pouco a pouco e, sobretudo agora que são conhecidos os resultados, o discurso dos comentadeiros começa a mudar e já se aceita, embora com nuances, que o anúncio da morte de Macron que previram foi claramente exagerado.
Com expressão pública, apenas o meu amigo e deputado Marcos Perestrelo defendeu e justificou a decisão do Presidente françês.
Como é sabido, o poder francês reside essencialmente no Presidente da República.
O Presidente decide, o governo executa, é uma boa síntese.
Ora a jogada dos extremos e nomeadamente da Le Pen era criar condições irreversíveis para uma vitória nas presidenciais de 2027.
Esse golpe falhou e o credor é Macron que averbou, por isso, uma significativa vitória.
Entretanto é preciso formar um governo que respeite os princípios republicanos e governe.
Não será uma tarefa fácil mas não é impossível com o apoio do Ensemble, o sentido de dever público dos socialistas de Hollande e a maioria dos Republicanos da direita moderada eleitos por outros partidos. Além do mais, há tempo.
O fascismo de direita não passou, o fascismo de esquerda não passará, o projecto europeu e a sua política externa (apesar dos números de circo de Orban) foi salvaguardado e o Kremlin e Putin foram derrotados. Tusk o proactivo ex presidente do Conselho Europeu, referiu-o, de imediato, com grande sentido de oportunidade e total razão.
A médio prazo grande vitória para a democracia francesa.
Entretanto e face às inaceitáveis derivas democráticas do autocrata Orban, aguarda-se a reacção do recém nomeado Costa.
Temos de esperar sentados?