A Ilha Dourada

Viajamos tantas vezes para o estrangeiro para conhecer novas cidades e acabamos por deixar para segundo plano o nosso território.

Querida avó,

Já não tenho a mesma energia de antigamente!           

Depois de tantas horas no Rock in Rio, idas a Bragança por causa da tua exposição, e preparação de tudo o que está para vir, precisei de “carregar baterias”.          

Andava há anos para ir conhecer Porto Santo. Viajamos tantas vezes para o estrangeiro para conhecer novas cidades e acabamos por deixar para segundo plano o nosso território.

Mal pisei solo porto-santense perguntaram-me se era a primeira vez que visitava a ilha dos Profetas.

Como o objetivo era descansar, esta ilha foi a melhor escolha.  Também nunca tinha ficado num hotel daqueles em que nos colocam uma pulseira quando chegamos, que só é retirada na altura de irmos embora. Fiquei no Pestana Porto Santo, onde tudo está incluído. Quando digo tudo, é tudo mesmo. Inclusive as bebidas alcoólicas, ias gostar.

Conheci a Marta Vasconcelos que é a relações-públicas do hotel. Orienta uma equipa enorme com a mesma destreza que uma maestrina dirige uma orquestra.

Recebe os hospedes ao pequeno-almoço, diariamente, com um sorriso, genuíno, e sabe o nome de todos, imagina.

A Marta descobriu que eu sou “teu neto”. Como “não há coincidências” a mesma Marta foi a jornalista que te entrevistou quando apresentaste o teu livro “Os Profetas”, em Porto Santo, como “o mundo é pequeno”.

Como não podia deixar de ser, fui imensas vezes à “Lambecas” e aos “Crepes no Palito”. Para combater o excesso de calorias, tinha para palmilhar os 9 km de praia, com de areia dourada e temperatura da água convidativa.

Descobri a “Porto Santo Destination Tours” com quem fiz uma belíssima visita guiada a toda a ilha e uma grande caminhada, sem pressas, ao Pico de Ana Ferreira, onde dá vontade de contar, um a um, os paralelepípedos que se erguem em direção ao céu.

Não me tornei em Profeta, mas fiquei com muita vontade de lá voltar!

Bjs

Querido neto,

Fizeste lindamente em ir descansar para Porto Santo, por muitos apelidada de “Ilha Dourada”, devido às cores das sua areias.         

Já lá fui inúmeras vezes. Tanto antes de escrever o livro “Os Profetas”, como depois. Para além de conheceres a Ilha, ficaste a saber a causa de chamarem “Profetas” aos porto-santenses?

A avó explica-te a lenda que me levou a escrever o livro.

No ano de 1533, sendo rei D. João III, vivia na ilha de Porto Santo um homem chamado Fernão Nunes, por todos chamado Fernão Bravo. Na mesma ilha vivia uma sobrinha sua, moça de dezasseis ou dezassete anos, chamada Filipa Nunes, que estava havia alguns anos na cama, paralítica. Dizendo-se inspirados pelo Espírito Santo, tio e sobrinha declararam-se profetas. A sua pregação convenceu pobres e ricos, que renunciavam às suas vestes preciosas e partilhavam os alimentos, e até eclesiásticos, que na missa invocavam «São Pedro e São Paulo e o beato profeta Fernando». A heresia não podia ser tolerada. Após dezoito dias de «abusões» dos falsos profetas, os hereges foram presos e levados para a vila de Machico, sendo depois enviados para Évora. Fernão e Filipa foram aí expostos à porta da Sé, ela vestida e ele nu da cintura para cima, com um letreiro dizendo «Profeta de Porto Santo».

Este é um facto histórico, que conhecemos pela pena de Gaspar Frutuoso e ainda hoje é bem recordado em Porto Santo, como pudeste comprovar.

Agora fiquei com vontade de lá  voltar e de estar em contacto com as suas gentes, a sua gastronomia e as suas lendas.

Vamos combinar uma visita à “Ilha Dourada”?

Podemos ficar nesse Hotel que tão bem falas. Gostava de reencontrar a Marta.

Mas nem penses que me meto em aventuras radicais como tu!

Fico no Hotel, com a pulseira, quiçá a escrever uma nova história.

Bjs