Há idade para tudo e há uma idade para sermos pais. Podemos ser pais velhos ou novos, e isso não faz melhores ou piores pais, mas a verdade é que é mais fácil ser pai novo do que pai velho. Os pais velhos são mais conscientes, mais responsáveis, estão mais atentos às ameaças do mundo. Vivem com cautela, a cautela dos maduros. Por isso têm juízo. Os pais novos não pensam tanto. Ainda não sabem tudo e vivem bem com isso. Também não procuram paz, ordem e sossego tal como aconselha uma idade mais avançada. Tal como os filhos, estão em fase de crescimento.
Ser pai quando se é novo é uma aventura, ser pai quando se é entradote é um projeto científico . Parte-se para a paternidade como quem se debruça sobre numa tabela de excel com vários quadros e variáveis. Os novos encaram o seu estatuto como um pintor perante uma tela em branco: vamos lá ver o que vai sair daqui. E vão com o vento tal como tudo nas suas vidas.
Os pais novos atiram-se. Assim como atiram os filhos nas ondas para aprenderem a nadar, divertem-se a fazer de cavalinho e levam as crianças debaixo do braço para irem sair com os amigos. Adaptam os filhos às suas vidas porque têm a energia dos novos e não é uma criança que os faz ficar em casa num sábado à noite. Nem pensar em parar. Aos mais velhos falta-lhes a paciência. Paciência e preparação física para correrem atrás dos filhos, para passarem horas a jogar à bola ou no chão a ensaiar lanches imaginários com amigos imaginários. Têm o mesmo tempo dos mais novos mas menos disponibilidade. O peso dos anos e dos quilos não os deixam. Querem sossego, reclamam horários, previsibilidade, paz e segurança. Defendem-se da vida porque já viveram aquilo de mais emotivo que a vida tem para dar e preferem uma tarde a praticar piano com o filho do que um dia a escalar um penedo.
Os pais novos têm Instagram, os velhos, Facebook. É a diferença entre fotografias, vídeos ou textos e reels, stories e áudios. Os mais novos ainda não cresceram tudo, os mais velhos não querem crescer mais. Já se fartaram. O córtex frontal fechou há décadas e isso reflete-se na forma como encaram o parapeito de uma janela ou como percecionam os perigos de um simples baloiço. Nos novos a fissura cerebral só há pouco anos cicatrizou e isso reflete-se na forma descontraída com que lidam com as novas tecnologias e as horas que passam a dar ao dedo nas redes rumo ao scroll infinito enquanto embalam o bebé nos braços.
Ser pai ou mãe implica uma dose considerável de falta de juízo. É suposto não pensar muito em muitas coisas, deixar o instinto liderar e errar vezes sem conta. Tudo coisas que se perdem com idade e que chegados aos entas quase desapareceram. É preciso alguma imaturidade para criar uma criança, ser ignorante para se poder aprender com elas. Perceber que o estudo não é tudo na vida, que brincar e cair de bicicleta é tão natural como a sede e a hora de dormir é volátil. Os pais novos ainda têm memória fresca das cábulas, das zangas com os amigos e de como sabia bem passar um dia em casa sem fazer nada, a comer batatas fritas e ver televisão. Vivem a meias com os filhos as suas angústias e alegrias. Os mais velhos acham que se lembram, mas sai tudo a preto a branco. Além disso, têm a ambição de educar e não de serem pais. Duas coisas completamente diferentes.