As contas. Sempre as contas. Quando uma cidade ou um país se candidatam à organização de um evento, uma das perguntas sacramentais é: Quanto custa?
Deste ponto de vista, os ‘excel’ dos Jogos Olímpicos não são famosos.
Contas do Financial Times mostram que todas as edições desde Roma 1960 explodiram com os orçamentos iniciais. O valor médio de desvio de gastos é de 172%.
Londres 2012, por exemplo, deveria ter custado 3.3 mil milhões de libras e acabou nos 8.8 mil milhões. Mais 166%.
Como em qualquer outro projeto de investimento, objeto de decisão política, devemos sempre olhar para além dos números e das linhas de ‘excel’.
Eventos como os Olímpicos têm impacto na recuperação urbana, na qualidade do espaço público, na modernização de infraestruturas e no melhoramento da rede de transportes públicos. No comércio e nos serviços, principalmente no turismo. E, sobretudo, tem um impacto imediato nos valores e nas predisposições sociais.
Os Jogos Olímpicos são sobre competição e rivalidade, sobre poder e reconhecimento. Mas são também sobre Paz e sobre a ideia de uma humanidade comum que celebra a espantosa capacidade de qualquer individuo superar desafios, qualquer que seja a sua condição.
Desde a sua origem, na Grécia antiga, que as olimpíadas foram um interlúdio entre guerras que as cidades estado insistentemente travavam entre si. Coubertin, que lançou as bases das olimpíadas modernas acreditava que «os Jogos Olímpicos podem ser um fator potente, ainda que indireto, para a Paz mundial».
Uma ideia que vive até aos dias de hoje: «A minha esperança é que o desporto olímpico e paralímpico – com as suas comoventes histórias humanas de redenção e fraternidade, de sacrifício e lealdade, de espírito de equipa e inclusão, possa ser um canal diplomático original para superar obstáculos aparentemente intransponíveis», assume o Papa Francisco.
Estamos a dias da abertura dos jogos em Paris.
Em Cascais, mobilizamo-nos com os nossos amigos parisienses na causa olímpica.
Desde os primórdios da sua existência, e talvez pela sua cúmplice relação com o Atlântico, Cascais sempre foi um ponto de encontro de povos e de culturas, um porto de abrigo para quem procurava a paz e uma terra de oportunidades para quem procurava o sonho.
De génese tolerante e pluralista, fomos sempre uma janela do mundo e para o mundo.
Daqui partirão atletas olímpicos e paralímpicos, que levarão Cascais ao peito e a nossa bandeira bem alta até Paris.
Em mar ou em terra, lutarão por títulos que nos levem a cumprir os nossos sonhos, encontrar o melhor que podemos ser e não o que a vontade de terceiros nos impõe.
No desporto encontramos verdadeiras lições de vida. Encontramos resultados que nos orgulham e que nos inspiram. Encontramos uma linguagem universal que transcende barreiras linguísticas e culturais, origens e crenças diferentes. Em que a diferença serve como inspiração.
Individualmente fazemos a diferença, mas só juntos ganharemos a escala dos maiores.
Guerras, alterações climáticas, extremismo político. É um contexto difícil para que se ouça a voz dos Jogos. Mas paremos por momentos para dar espaço ao encontro entre nações, à competição com lealdade e cooperação, à celebração dos feitos de homens e mulheres do mundo, unidos pelo desporto em prol de um mundo mais pacífico e harmonioso.
Que seja o desporto a unir aquilo que muitas vezes a política, a história, o orgulho ou mesmo o egoísmo tentam separar: os espaços geográficos das nossas nações. Que seja o desporto a contribuir para a construção de uma só humanidade.
Parece que os Jogos de Paris vão custar qualquer coisa como 9 mil milhões de euros. As contas. Sempre as contas.
Mas em Paris, os números não são mesmo o mais importante quando a Europa e a França, sobre quem desce um manto da instabilidade e do extremismo político, tanto precisam da luz da Tocha Olímpica.
Força Paris. Força Cascais!